sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Mulheres feias que já foram bonitas
As mulheres choram demais.
Rostos envelhecidos. Não pelo tempo, que o tempo não envelhece da forma que as mulheres envelhecem.
É tristeza que lhes contorce os rostos. E com o passar dos anos, mulheres de várias formas bonitas se tornam feias de igual modo.
As mulheres choram demais.
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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Boca e lábios
Não pretendo insultar a tua inteligência ou mesmo esse jogo de cartas que usas para cercar as emoções que invadem as veias. Que enquanto os outros se escondem por trás das mentiras, tu escondes-te por trás das verdades - sempre por trás das verdades. E por isso se soltam da tua boca adagas impunes e nunca te mostras. Porque o teu corpo é só a carne possuída pelas inegáveis constatações de um universo que é só teu. Nem de ti és veículo.
E eu podia ficar aqui a falar de ausências. Mas é mais que saudade. É mais que sentir a tua falta.
Não sabes a morte que me fazes.
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terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº657)
Passo tanto tempo da minha vida a andar de metro, que quando morrer quero uma lápide com letras verdes a dizer "Estação Terminal".
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Eu Nunca, o Eunuco
Eu tinha a certeza do desamor de viver. Entre brilhantes copos amarrotados, sonâmbulos sonetos esboçados, e noites esfoladas em pranto traçava fiéis caminhos de bonita tristeza, esperando que o teu corpo se materializasse das trevas para nele eu tocar. E a verdade é que não é por ter os dedos cortados que não te alcanço, mas sim pela provocação mal falada de tudo o que a travessa dos encontros nos silencia. Emigrei a mágoa em escrita maresia, para marcar os meus compassos até ao amanhecer.
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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Foda-se (nº81) ou "Afinal a minha mãe tem razão"
A propósito deste post, hoje numa pausa de trabalho fui para a rua deitar-me em bancos do jardim na Avenida da Liberdade enquanto um colega meu tirava fotos.
Quando mostrávamos as fotos a outros colegas era necessário dizer que era eu para perceberem que o gajo da fotografia não era um sem-abrigo a sério.
Foda-se.
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domingo, 2 de dezembro de 2012
O dilema de Júlia
Quero que me uses. Que me faças tua mesmo que depois deites fora, com desinteresse ou desprezo. Porque não há quem me livre desta estupidez que é achar mais bonito ser infeliz ao teu lado que feliz sem ti.
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quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº656)
É capaz de ser sinal de que preciso de mudar alguma coisa quando me confundem com um sem abrigo. Cabelo não me apetece cortar, barba não me apetece fazer, e roupa não tenho muita outra que vestir.
Não tarda querem que eu tome banho.
domingo, 25 de novembro de 2012
Pensamentos Divergentes (nº328)
(Porque encontrei 2 minutos livres e já estou a enferrujar)
Um copo de vinho, uma tarde de domingo e chuva que chegue para molhar todos os cães de rua.
Ela, seminua, pratica um bailado sozinho, dançando com o ar e o ar a apaixonar-se por ela.
Levanta-lhe, ao de leve, os ligeiros cabelos na nuca que flutuam em movimento
E em invisível desalento afaga-lhe a astuta frieza dos mamilos.
Inalado por ela morre
para renascer
Renovado se devolve
o ar de arder
Um copo de vinho, uma tarde de domingo e chuva que chegue para molhar todos os cães de rua.
Ela, seminua, pratica um bailado sozinho, dançando com o ar e o ar a apaixonar-se por ela.
Levanta-lhe, ao de leve, os ligeiros cabelos na nuca que flutuam em movimento
E em invisível desalento afaga-lhe a astuta frieza dos mamilos.
Inalado por ela morre
para renascer
Renovado se devolve
o ar de arder
domingo, 18 de novembro de 2012
Testemunho de um ex-frustrado
"Ainda gostas do que estás a fazer?"
"Ainda não te fartaste?"
"Mas estás mesmo a gostar?"
Quando trabalhas é bom que não gostes do que fazes. À maior parte das pessoas é-lhes estranho que te mates a trabalhar e que fiques de rastos mas satisfeito. Como se fosse suposto tudo nesta vida ser uma merda e quando te esforças é porque estás a ser explorado. Provavelmente porque nunca trabalharam nalguma coisa em que acreditassem e não percebem (ou não querem perceber) que as horas podem ser largas e o salário pode não ser espectacular e ainda assim amar aquilo que se faz.
Eu podia ser um engenheiro. "Desisti" de um curso que abominava e sujeitei-me às críticas de irresponsabilidade por abandonar um futuro de emprego certo.
Fui tirar um curso que me apaixonava e sujeitei-me novamente às críticas de entrar num futuro de desemprego e miséria. E não o trocaria por nada.
Quando acabei o curso e não encontrei emprego na minha área descobri outra coisa que me movia e andei a bater à porta das pessoas e lutei até ter a oportunidade de batalhar por um futuro em que me sentisse realizado.
Agora trabalho durante o dia e estudo durante a noite. Nunca estive tão cansado e ao mesmo tempo tão feliz. E as derrotas existem, como em tudo, mas as minhas vitórias são em maior número. E não há filho da puta a quem isto lhe pareça bem.
Vais ter sempre gente que vai dizer mal das tuas paixões. A verdade é que parte deles, no íntimo, vai desejar que tu falhes. Por isso não fiques à espera da aprovação dos outros, faz o que tu sentes que tens de fazer para existires completamente. Nunca pares de insistir. E acima de tudo esfola-te a trabalhar.
Na pior das hipóteses vais-te embora deste mundo sem um grande arrependimento. E uma das maiores vantagens é que não te tornas no tipo de pessoa que não compreende quando alguém te fala do que é capaz de fazer por aquilo em que acredita.
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sábado, 17 de novembro de 2012
Susana
É mais ou menos como recuperar o folgo. Esticam-se os tendões e os novelos apertam das costas à cintura, atando fios ao peito em brasa. Só que quando te injectas, o ar nunca mais vem de volta. E tem até piada como nem sentes a sua falta. Reviras os olhos e buscas em ti um escuro ignorado e dormes a dor como um bebé em mantas de algodão.
Farias falta. Se alguém te conseguisse encontrar.
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terça-feira, 13 de novembro de 2012
I'll try and keep up
Não daria um bom bissexual pois quando tento ir para todos os lados ao mesmo tempo a coisa corre mal.
domingo, 11 de novembro de 2012
Pensamentos profundos enquanto cozinho o jantar
O maior erro do Homem é definir-se. Não por tentar saber quem é, mas por - ao dizer quem julga ser - dizer também o que ele não é e portanto quem ele não pode ser.
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Zombie worker
Passei de um desempregado que não tinha nada que fazer o dia todo para um gajo que trabalha 8 horas por dia e ainda anda a estudar à noite. O meu tempo é próximo do zero. E isso é tão fixe que nem sei como o dizer e também não tenho tempo para pensar numa melhor forma de o fazer.
domingo, 4 de novembro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº655)
Quando és jovem avisam-te que o mundo está cheio de filhos da puta.
Quando és adulto chamam-te de infantil por não seres mais filho da puta.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Final do dia
Vi-te, magra como te conheci. Desde que nasceste que andas esfaimada de amor. E cada dia que se passa notam-se as mazelas e a silhueta dos ossos das palavras que mais te magoaram, sem que ninguém precisasse de tas dizer.
E eu até te salvava, como o quis fazer anos atrás quando me alimentavas o calor da alma. Mas agora só morro de tristeza de te ver.
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domingo, 28 de outubro de 2012
A história mais banal do mundo
Ajudou a endireitar-me contra o sofá e disse que quase nunca fazemos o que queremos mas antes o que somos levados a fazer por nós próprios. No torpor do álcool lembrei-me que toda a gente já pensou em voltar atrás no tempo e voltar a viver a sua vida com os conhecimentos do presente. Se alguém alguma vez realizou esse desejo foi ela - a sua maturidade era a de quem vivia pela segunda vez. E eu nunca soube de onde vinha essa qualidade, mas temia o que é que podia fazer com que alguém crescesse tão rápido tão cedo.
Tão mais inteligente que eu. Afastou-se antes que eu pudesse fazer algo estúpido e foi-me buscar um copo de água. Sempre falámos de tudo menos da força que nos puxava um contra o outro e que ambos claramente sentíamos há muito tempo. Nunca fizemos nada pelo certo desastre que resultaria - disso sabíamos os dois. E todas as gajas casuais e todas as noites estúpidas e nada servia para tapar o que me faltava. E no meio disso tudo, ela esteve sempre lá a olhar por mim.
Mas tudo acaba por mudar. E juntos vivíamos sempre em risco de um de nós ir longe demais. Acabámos por nos afastarmos um do outro, gradualmente e sem justificações. O problema de não serem precisas palavras para nos compreendermos é que eventualmente deixámos de falar.
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sábado, 27 de outubro de 2012
I'm still disillusioned and cool catatonic
Nada como um cinzento Sábado sem nada que fazer para um homem se sentar num sedentário sofá de melancolia.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº654)
Um dos maiores exemplos de um elogio subtilmente mascarado de ofensa foi depois de eu deixar crescer a barba e o cabelo - quando tentei pegar na minha namorada para irmos para a brincadeira e ela diz-me "Sai daqui, ó Adamastor!"
terça-feira, 23 de outubro de 2012
O blog do gajo faz 4 anos
Pois é, mais um aniversário para este blog. A única coisa diferente este ano é que estou a trabalhar num sítio que adoro - e como tal vou fazer algo que sempre achei impensável e mostrar uma foto minha no meu local de trabalho. Enjoy.
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o gajo não é normal
domingo, 21 de outubro de 2012
Pensamentos Divergentes (nº327)
Após diversas contestações
de variadas dimensões
e sobre a maior panóplia de temas,
ele olha para mim com o ligeiro mas incómodo ardor de dois eczemas
e pergunta a maior pergunta entre as perguntas malditas
"Afinal de contas...
em que é que tu acreditas?"
"Em que é que eu acredito?"
pergunto de volta a este perito
de todos os eventos de vida circunstanciais
com o único propósito de adiar a inevitável vindoura enchente de tretas banais.
"Nem deuses nem espíritos
fazem parte dos teus requisitos
na explicação das coisas mais fundamentais.
Energias ou seres de outros mundos
consideras serem delírios profundos
inventados pelos outros comuns mortais.
Em que acreditas tu se tudo te parece ridículo?
Como vives sem procurar explicações para este universo?
Ou limitas-te a viver nisso a que chamas de mente e que mais parece um cubículo
enquanto te asseguras de que tudo tem um científico nexo?"
Um bafo de cigarro.
Um toque de whisky também.
É melhor que bater em quem já não bate bem.
"Tento acreditar no maior número de coisas correctas possível.
E ao contrário de ti, a minha falta de conhecimento não me é horrível
e prefiro a ignorância a calcular invenções
enquanto peido uma filosofia e coço os colhões
sentindo-me seguro de um fantástico segredo mesquinho
que só eu é que adivinho
Sejam eles ovnis, fantasmas, maçonaria,
energias, monstros, ou bruxaria.
Porque tudo o que tu não vês, é para ser inventado.
E tudo o que eu não vejo, é mais um pouco da minha mortalidade que me é revelado."
Salão de chá
Ainda agarrada aos dentes, a brilhante dureza das suas palavras - pingando gota a gota no seu lábio inferior. E para quem fora eternamente mudo, para quem nunca sentira o toque do Nada, as pétalas incandescentes largadas pelo ritmo do meu pulso amontoavam um gigante peso por cima de si, comprimindo-lhe o tórax e sufocando os aparos de mentira que pisávamos os dois.
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We used to be closer than this
O Inverno bateu à porta. Eu abri.
sábado, 20 de outubro de 2012
Intuição literina
Ainda agorinha mesmo escrevi um texto que decidi não publicar. Quem escreve precisa de ouvir aquele bicho-sentimento de quando ainda não é tempo do seu menino nascer para os outros.
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quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Pensamentos Divergentes (nº326)
Segregamos
à socapa
invisíveis líderes de corrupção
infiltrando-se nos corpos de outros
fazendo nossa a sua constituição
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº652)
O sucesso do governo e dos violadores depende sempre do facto de ser possível silenciar a sua vítima através da imposição do medo.
sábado, 13 de outubro de 2012
Explicação
Eu não deixei de escrever. Só deixei foi de escrever aqui neste espaço.
E não é de propósito, simplesmente ando com menos tempo para o fazer. Tenho vontade de escrever coisas por aqui mas sinto que não tenho tempo suficiente para as escrever como precisam de ser escritas.
Sei que se trata de apenas mais uma desculpa - na verdade o tempo cria-se quando é realmente preciso. Mas quero agora concentrar-me noutro local da minha vida.
Para quem sente saudades minhas durante grandes pausas de escrita, contactem-me pelo gmail. Interessa-me falar com pessoas.
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quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº651)
Outra prova de que estou a ficar velho é que às vezes dou por mim a olhar para uma estudante universitária e em vez de pensar "Que mulher que ela é" penso "Que mulher que ela vai ser".
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº650)
É fixe chegar ao final de um dia de trabalho e viver no 12º andar de um prédio sem elevador. É dinheiro que poupo no ginásio.
domingo, 7 de outubro de 2012
A minha festa de aniversário
Este blog está quase a fazer 4 anos de existência. Sinto que deveria fazer algo em especial para a data mas não sei o quê.
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sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Pensamentos Divergentes (nº325)
No local onde morreu a Libelinha
disse o Gafanhoto à sua rainha:
"Não julgarei os teus olhos um milagre
que o meu coração é um afídio letrado em melaço e vinagre
mais vermelho que o coro de duas andorinhas ciumentas do Verão,
E este desassossego que me move as pernas é um tique de paixão
que por impossível de conter se torna num sonoro comichão
"E da mesma forma que a relva que nos rodeia aos dois
é o excesso dos dentes dos montes e do pasto dos bois,
será o meu corpo o soneto eterno da tua adiada campa em dobra,
e para o meu testamento em rodapé será essa a minha maior obra."
E foi assim que o Gafanhoto se atirou às mandíbulas da Cobra.
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº649)
As ofertas de emprego são como as mulheres. É quando um gajo já está comprometido que elas aparecem todas ao mesmo tempo.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
It's not the same though
O que importa é nunca ficar parado.
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Pensamentos Divergentes (nº324)
os seus olhos de tão vagos chegam a ser exactos,
procura o verdadeiro amor numa pista de dança
ou na casa de banho de uma discoteca
porque a solidão parece pesar menos em saltos altos
e os lábios vermelhos que usas para os outros marcar
não tapam as marcas que deixas em ti mesma.
e não vou dizer que tens um coração de ouro
mas não há duvida de que ele pesa mais do que devia pesar
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº648)
A fanfarronice faz mal à saúde, nomeadamente às minhas costas. Estar a fazer mudanças num prédio onde por acaso existe uma agência de modelos faz com que eu num elevador, para não dar parte fraca à frente das meninas, levante pesos maiores do que sou capaz. Com o mau jeito, fiquei cheio de dores nas costas - é bem feita.
domingo, 30 de setembro de 2012
Pensamentos Divergentes (nº323)
ainda não nasceste e já te arrastaram
espetam-te na rua e é só para pisar
ainda vai haver trovoada a arrancar as pedras do chão
tirem-me esta droga das veias a que chamam destino
e refaçam-me o corpo nem que seja aos bocados
e a doer
sábado, 29 de setembro de 2012
Stains get lonely
Tenho e sempre tive a profunda incapacidade de fazer as coisas da forma como é suposto elas serem feitas. Se é por incompetência ou teimosia, ainda está por decidir. Mas acho que é daquelas situações em que o nosso maior defeito é, de vez em quando, a nossa maior qualidade. Neste caso em específico, a única.
Tarde à chuva
Enquanto embebia o sentimento do teu corpo nos dedos, ocorreu-se-me um pensamento. São estas manchas invisíveis que se alastram na nossa carne com o passar dos anos que nos causam tamanhas neblinas de bíblicos caprichos. Vestimo-nos para tapar o que mais ninguém vê. Pesamos roupa que se empilha por falta de arrumo, seus trapos enrolando-se como línguas de tons diversos. E é por isso. É por isso que é comigo em ti e contigo em mim que se sentem estas traças à flor da pele, beijando futuros vazios que se enchem como a areia se molha com o mar. Sempre à espera de mais.
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quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Pensamentos Divergentes (nº322)
Dentro de mim há uma baralho de cartas
de amor
que se desorganizam por baixo da mesa
e quase ninguém vê.
E não sei se és coma de consciência
ou então gaguez de beleza
mas o que tu fores,
perdura.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Meio da estrada
À minha esquerda, dizem que a existência humana é fútil e que somos todos inúteis. À minha direita, dizem que todos nós somos significantes e que cada uma das nossas acções afecta todos os outros. À esquerda, respondem que isso é parvoíce e são delírios de quem não suporta a dura realidade. À direita apupam tamanho pessimismo e apelam à empatia e à partilha de emoções mais belas.
Entretanto a virtude ficou em casa a beber chá - no meio estou eu sozinho de cigarro na boca. Vou para onde alguém tiver lume que me empreste.
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O gajo anda fugido
Lamento, para quem me sente a falta, da minha ausência neste espaço. É que para além de ter ficado sem net durante imenso tempo, agora ando a estagiar num sítio porreiro a fazer o que gosto. Ainda não sei no que vai dar, mas pronto. Quer isto dizer que ando com menos tempo para os devaneios habituais, mas ainda não me quero separar deles.
Já falamos.
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terça-feira, 25 de setembro de 2012
Paradoxal
Eu até tenho algum tempo para escrever e até tenho coisas que quero dizer, mas nenhuma delas vale a pena ser dita.
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segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Observações subterrâneas
Metro cheio. Hoje há jogo de bola. Hoje há vidas dobradas, corações partidos, muito cansaço e alguma felicidade. Mas isso já há todos os dias - hoje há jogo de bola também.
A sufocante multidão traz uma estranha intimidade, enquanto dois jovens amantes namoram encostados a um canto daquela forma que só jovens amantes namoram, tentando ocupar o mesmo espaço. Entre lábios, línguas os toques pelas suas roupas, aproveitam cada e qualquer momento para se amarem e para cederem ao magnetismo dos corpos que não dominariam mesmo que o desejassem.
Do lado oposto está ela. E embora nunca a tenha conhecido, conheço-a bem. A mesma idade mas nos olhos veste a solidão. Não é que seja feia, longe disso - mas é daquelas raparigas que, por ser quem é, não o sabe. Esconde o corpo em roupa larga e pouco vistosa pois não suporta a ideia de chamar a atenção. E por momentos considero desviar o olhar e esquecer-me dela em sinal de respeito aos seus desejos. Mas é que ela observa também o casal e na verdade não tem outro remédio. Bem tenta focar-se nos seus próprios pés, mas o vazio dela puxa-a para o que há para ver - nisso somos iguais.
Prime o lábio superior contra o inferior. É o tique de quem para não jorrar o que tem dentro se beija a si próprio para tapar a saída. E o calor que sente em si é o mesmo que lhe encolhe o coração, como um papel de poemas que se aproxima do fogo.
E há tanto para ela viver e tanto mais que ela quer viver. Mas não sabe. E provavelmente nunca o saberá.
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Reencontro amoroso
Internet estável, sê bem vinda. Tive tantas saudades tuas ❤
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domingo, 23 de setembro de 2012
Chuva vai-te embora
que eu ainda não estou pronto para o fim do Verão.
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quinta-feira, 20 de setembro de 2012
12º A
Por vezes, a nicotina que me mancha os dedos faz uma nódoa cuja forma é impressionantemente semelhante à silhueta da inutilidade.
E então, frequentemente de copo na mão, dou por mim a pensar: talvez seja mesmo inútil. Talvez haja mais na vida para além desta sintética leveza de espírito trazida pelo álcool como forma de anestesiar uma angústia que neste momento me é estrangeira. Talvez haja mais nesta vida que seja possível alcançar sem ser à beira de um janela de um 12º andar, com nada mais nas mãos para segurar do que a casca vazia de uma passada esperança no futuro e uma futura frustração do passado.
Eu nunca irei perceber a segurança e a sensatez de quem nunca desejou morrer. E eu sei que estas vertigens não são do medo da altura mas o medo do futuro decidir atirar-se para o abismo. Não é medo de cair mas medo de um eu de vir a atirar-se por vontade própria.
Mas ultimamente tudo me dá vertigem.
Ao contrário de mim, há quem não tenha nada a perder. Eu só me tenho a mim.
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quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Pensamentos Divergentes (nº321)
Mariana ouve-me com certeza
que se te enganar não é com leveza,
sobre assuntos do coração
não é engano se houver paixão
é tão fácil como eles esquecem
as memórias que a nós nos aquecem
e as meninas que aí nós fomos
deixavam-nos a eles loucos
- mal sabem eles que ainda as poderíamos ser
se nos dessem uma desculpa para estremecer
e os beijinhos que damos aos jovens rapazes,
tão inexperientes e fugazes,
se souberem são capazes de nos matar
por petiscarmos na fome de amar
I feel it in my fingers
O problema de lutar para não perder a esperança é que cada novo dia há mais decepções à espera.
Socorro, estou desligado do mundo
Não me bastava estar desempregado e já sem ideias de como o arranjar, agora fiquei sem internet. Se voltarem a ficar algum tempo sem notícias minhas fiquem descansados, ando só a entreter-me a perder a minha sanidade.
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domingo, 16 de setembro de 2012
Pensamentos Divergentes (nº320)
Folhas de Outono, folhas de Outono
venham apagar a minha solidão,
chovam do céu para afagar
o rosto da morte da minha nação
E que os estalidos de quem vos pisa no chão
não seja o som dos ossos de quem cá vive em vão
Folhas de Outono, folhas de Outono
o vosso tempo ainda nem chegou,
e já vêm tarde para poder comer
do pão que o diabo amassou
Continuo à espera que me mostrem para onde vou
e tudo aquilo que eu por não poder não sou
sábado, 15 de setembro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº647)
Há dois tipos de pessoa: as que não percebem ironia, e as que não percebem ironia.
Manifestação de algo
Estava aqui pronto a escrever um texto que me libertasse de toda esta raiva que eu sinto. Para aliviar a minha revolta partilhando-a com outros. Mas assim que comecei a tentar escrever a única coisa que sinto é... um profundo vazio. E eu queria gritar tão alto que soltaria a cal das paredes da rua mas de mim só sai este imenso vazio.
A culpa é minha.
A culpa é minha se quero arranjar um emprego e não consigo.
A culpa é minha se quero agora ter condições num país que estava mal encaminhado ainda antes de eu nascer.
A culpa é minha se quero a porra de um futuro e não existe porra nenhuma de futuro pela frente à minha espera.
A culpa é minha se não existe um caralho que eu possa fazer. Foi isso que vocês me disseram, não foi? Estou a ser castigado por um conjunto que opções que não tomei mas que mesmo assim são da minha responsabilidade. E se me queixo chamam-me de mimado, comuna, preguiçoso, egoísta... E nem gritar de volta eu posso porque já não me restam forças.
Nunca fui um aluno brilhante. Mas também nunca fui mau aluno. Não passei por cima dos outros para proveito próprio e, estupidez das estupidezes, rejeitei cunhas porque queria fazer eu próprio algo de mim pelo meu próprio valor.
Mas o mais estúpido fui eu que não percebi logo que eu não tenho valor nenhum. Para vocês eu não presto para nada. Sou só um desperdício de recursos e por isso não mereço melhor do que tenho.
Tenho medo. Muito medo, mesmo. Desta raiva que se embrulhou numa manta de calma e que quer dormir numa cama de indiferença. Deste vazio que é ter em mim um mundo inteiro para dar mas que definha a sós pela morte da esperança. Da esperança de um amanhã e de um lugar para mim neste país.
Esta será, hoje, a minha manifestação a sós e em público. A total desolação de um jovem que poderia ser muito mais do que alguma vez será e que é só a repetição de dezenas de milhares como ele.
É dia 15 de Setembro. Vou à rua marcar presença. Mas algo morreu em mim.
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sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº646) - Altos e baixos
Primeiro:
Há quem vá batalhar pela sua nação e veja os seus amigos a morrer mas sobreviva para voltar para os seus.
Há quem lute contra o cancro durante intermináveis anos e vença a doença.
Há quem tenha membros a menos e treine a vida inteira para receber uma medalha de ouro.
Eu limpei um forno com um dos piores ataques de soluços de sempre. Continuas a achar que sou um falhado, mãe?
5 minutos mais tarde:
Passei os últimos 5 minutos feito parvo com as mãos atrás das costas e um ligeiro ataque de pânico porque estou sozinho em casa e dei um nó demasiado apertado no avental e como o nó estava nas minhas costas e não o conseguia ver, não arranjava forma de tirar o avental.
Tinhas razão, mãe.
E o Karma disse-me "É para ver se aprendes"
Houve uma altura na minha vida em que pensei que podia ser um gajo porreiro e tentar dar-me bem com toda a gente - que não havia razões para descriminar ou afastar-me de alguém simpático só por ter crenças diferentes das minhas.
Depois começou toda a gente a falar-me sobre as suas teorias da conspiração e sobre alienígenas e energias cósmicas e eu percebi que me tinha rodeado de gente louca.
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Coisas Que Um Gajo Coiso (nº645)
O melhor (e possivelmente também o pior) elogio que um homem pode receber é o seu urologista dizer-lhe que tem um lindo pénis.
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Conversa Conjugal (nº33) - O triste é que é verdade
Ela - Bolas, mal posso esperar que arranjes trabalho.
Eu - ... Então?
Ela - Não é pela questão do dinheiro. É porque andas com um humor insuportável. Na semana em que tiveste à experiência, ainda mais numa coisa que adoras, andavas super descontraído e na boa, era só sorrisos e piadas. Agora chego a casa e andas sempre deprimido e tenso e irritável. Não gosto de te ver assim.
Eu - ... Pois olha, não sei que fazer.
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A neatly combed disaster
Meio ano da minha vida. Sinto que me tenho fartado de andar sem conseguir sair do mesmo sítio.
Pensamentos Divergentes (nº319)
incrível Façanha coberta por tecido,
de nome sussurro fugido
pregado a paredes, da carne o mural,
seu sangue a impregnar a suada cal
e eu que nunca quis ser rei
nem dono de nada nem de ninguém,
dizes-me que ela é tua
e eu assim sou tua também
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº644)
Sinal que isto está mau: quando passo a noite a sonhar que tenho uma entrevista de emprego que corre bem.
"Cuidado com o cão"
Tal como muitos dos meus compatriotas, eu também acho que o povo português é um povo manso. Há algo na nossa cultura que terá borbulhado da nossa profunda religiosidade cristã e dos nossos tempos de ditadura e que nos faz acreditar que é suposto estarmos em sofrimento e que isso até é algo bom. E por isso é difícil que o povo se revolte contra quem o trata mal, porque no fundo nós até achamos que merecemos ser castigados.
Dito isso, há um ponto de limite para tudo. Todos os dias tento manter-me atento à conversas de ruas e cafés, aos meios de comunicação e aos blogues, facebooks e comentários de edições online de jornais, e sente-se um incrível aumento de tensão. Parece que foi o recente aumento das medidas de austeridade anunciadas por Pedro Passos Coelho que desarmonizou a balança e que começou a fazer com que as pessoas realmente comecem a perder a paciência.
E é assim que me surpreendo que tão cedo após essas medidas e após avaliação da Troika Vitor Gaspar venha admitir que vêm aí novas medidas de austeridade que incluem cortes nas pensões e aumento de impostos. Surpreende-me não porque tenha algum tipo de ilusão sobre a razoabilidade deste governo mas sim porque isto demonstra ignorância ou total despreocupação com a crescente revolta no coração dos portugueses. É que os animais mansos, quando chegam ao ponto de estalo, libertam toda a selvajaria contida de uma vez só, o que é muito perigoso para quem se encontra à volta. E alguns de nós levamos tanta raiva no peito e tão pouca capacidade de auto-controlo que há o real perigo de as coisas deixarem de ser pacíficas.
Vem aí manifestação no próximo dia 15. Tenham cuidado - todos vocês.
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terça-feira, 11 de setembro de 2012
That's a cold ass honkey
Não tenho onde cair morto mas até é algo que me fica bem.
Recebo amanhã os papéis de divórcio
No final de um dia que passei sozinho em casa
Ela (aborrecida) - Deixaste porcaria na sanita.
Eu - O quê, cocó pegado à louça?
Ela - Sim.
Eu - Limpaste?!
Ela - Pois.
Eu - Não devias!
Ela - Isso sei eu. Quem devia ter limpado és tu.
Eu - Não é isso. Deixei de propósito. Estava a ver em quantas mijas é que, apontando bem e com pressão, conseguia limpar sem puxar o autoclismo.
Ela - ...
Eu - Ao menos não gasto tanta água... sai caro...
Ela - ...
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o gajo não é normal
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Entrepreneur
Isto de arranjar emprego está cada vez mais difícil e ouve-se tanto falar de gente a criar os seus próprios pequenos negócios.
Alguém quer fazer parceria comigo? Não sei para o quê nem a fazer o quê e na realidade não tenho talento, dinheiro, conhecimentos ou ligações que sejam úteis para seja o que for mas sei algumas anedotas e duas delas até têm piada.
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Preciso de ler mais Kafka
Poderás fazer pouco de mim e talvez nalgum lugar eu me encontre com quem uma dia escreveu o que eu estou a escrever e farei pouco de mim mesmo. Mas juro que não vejo aquilo que os outros dizem sobre a vida. Que é um sítio só de mágoas e de lutas inúteis. E até parece que é suposto na ordem natural das coisas toda a gente chegar ao fim triste, só e zangado porque não há nada de bom na raça humana.
Independentemente de tudo o que eu possa dizer nos momentos em que me surge uma tempestade por cima da cabeça, eu vejo beleza em todo o lado. Miséria também, claro... mas uma precisa da outra para existir. E os sentimentos que delas surgem são bonitos à sua própria maneira. Eu sei, é o hippie em mim a falar... mas hoje em dia já não tenho vergonha disso - faz falta neste mundo mais gente que espalhe mensagens de amor e de paz.
Talvez seja só uma questão de perspectiva. E talvez eu seja só míope, se não tolo. Ou então sempre é verdade que sou muito novo e não sei do que estou a falar. Mas tenho os meus amores, meus amigos, e os meus terrores e castigos também. E tudo isso me parece precioso, tolo ou não.
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domingo, 9 de setembro de 2012
Pensamentos Divergentes (nº318)
Puta pátria encostada
(quando não ajoelhada)
ao caralho dos mamões
que são eleitos aos milhões
renuncio a este país.
cago para geografia, apenas me interessa a humanidade.
e torna-se claro que aqui, na verdade
tudo o que importa é não se ser feliz.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Portugal, o país dos bem-desiludidos
Não irei fazer de conta que estou revoltado com este país. Também não irei fazer de conta que estou surpreso com o que tem vindo e está a acontecer. E não irei, se quer, fazer de conta que tenho algum tipo de energia ou emoção disponíveis para com os comentários que se poderão tecer sobre o assunto.
É este o problema. Não é que já estejamos habituados, é que já estamos à espera que a coisa vá sempre dar a pior. E como não nos surpreendemos, não nos revoltamos. É simples na verdade: a vantagem de ter um povo pessimista e deprimido é que gasta todo o seu tempo a preparar-se para o pior. O que vier depois é só a confirmação do seu pessimismo e assim não há espaço para desilusões. Trata-se de um mecanismo de defesa que usamos colectivamente e que neste caso nos está a levar de mal a pior.
E é por isso que não nos espera uma revolução pela frente. Estamos todos à agarrar-nos ao mastro do barco e ver onde nos leva enquanto esperamos o fim da tempestade. Não há quem pegue na porra do leme do navio porque enquanto for só a tempestade a levar-nos contra as rochas então aí a culpa não é de ninguém. E nesta terra ninguém gosta de dar a cara, mesmo que em alto-mar.
Male prostitution seems to be my only option
A considerar as minhas hipóteses de carreira profissional.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Um dia na minha vida
Aqui estou de avental, em frente ao computador, a beber uma cerveja enquanto faço uma pausa das lidas da casa. A minha namorada trabalha durante o dia e eu, como desempregado, tenho de ser útil para alguma coisa. Acabei de lavar a louça e daqui a nada tenho de começar a pensar em fazer o jantar - isto porque já estou entediado visto que ontem fiz limpeza e fui às compras, por isso não me resta muito que fazer hoje. Assim ela chega e tem a refeição pronta no final de um longo dia de trabalho e eu tenho alguma companhia. Somos um verdadeiro casal do séc. XXI, adoptámos a inversão dos papéis de género. Só faltavam os catraios para ficar eu a tomar conta deles, mas para isso servem os animais de estimação.
Não é que me importe muito. Não considero, pelo menos num plano intelectual, que hajam papéis específicos para homens e para mulheres. Mas estaria a mentir se dissesse que não tenho o ego um bocado magoado. Primeiro é a questão de não conseguir arranjar um emprego em nada de jeito e mesmo em coisas de pouco jeito (até no Starbucks me disseram que não estavam a recrutar). E depois é muito difícil isto de um gajo se livrar do que aprendeu a vida inteira, incluindo a noção de que é suposto ser o homem a principal fonte de dinheiro para o seu lar.
Suponho que não me posso queixar muito. Por enquanto tenho um tecto por cima da cabeça. Tenho comida. E tenho uma cervejinha de vez em quando e até tabaco para fumar. E todo o tempo do mundo para escrever.
Pensando bem se calhar vejo é mais um episódio de 30 Rock.
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Coisas Que Um Gajo Coiso (nº643)
Quando almoço sozinho, a parte mais saudável da minha refeição é a cerveja.
Yes I understand I cannot live on this land
Olha o tempo a encurtar e o desespero a alongar.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Tanatologia
Não gosto disto de se falar em 1ª, 2ª e 3ª idade. Parece que a humanidade faz parte da caixa de velocidades de um calhambeque qualquer e a embraiagem começa a dar de si.
Prefiro medir as fases da vida de uma pessoa através da sua posição perante a sua própria morte. Ainda é um trabalho em desenvolvimento, mas até agora consegui apurar as seguintes fases:
1ª Fase, entre os 0 e os 24 anos - Negação
'Deixar que me atem ao topo de um carro enquanto o meu amigo bêbedo o conduz para fazer o vídeo mais hilariante de sempre - Porque não?! Tomar um misterioso comprimido que um desconhecido de pupilas dilatadas me deu na discoteca sem me dar explicações - O quê, é suposto eu não me divertir numa festa? Ter sexo desprotegido com aquela espécie de híbrido entre ser humano e navalha ferrugenta - Que se lixe, estou há quase uma semana sem comer ninguém, mais um segundo e morro!'
Esta fase geralmente começa com o enfiar de dedos em buracos de tomada para ver o que acontece e termina com a experimentação de todo o tipo de estimulantes tóxicos ou sexuais para ver o que acontece. Existe durante este tempo uma pronunciada ignorância do que é a Morte e de que o próprio é também ele mortal.
Na minha opinião, é a fase mais perigosa mas também a mais gira. E não há nenhum membro pertencente a esta fase que não mereça um par de estalos.
2ª Fase, entre os 25 e os 35 anos- Aceitação
'Tenho mais que fazer com a minha vida.'
Começa-se aqui a ganhar alguma noção da mortalidade e portanto criam-se alguns objectivos estruturados na vida. Apesar disso, não se pensa muito na Morte porque ainda parece longínqua e começa-se a trabalhar, a casar, etc. Geralmente é aqui que as pessoas se começam a enganar de que a vida tem sentido. Mas é Sol de pouca dura, porque isso muda tudo na...
... 3ª Fase, entre os 36 e os 60 anos - Paranóia
'AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhHhhHHHHHhhhh!!!'
O mundo é o sítio mais perigoso do mundo. A única excepção é o mundo em que tu vives, que é mais perigoso ainda. Milhões de pessoas lá fora querem-te matar a ti, à tua família, animais de estimação, electrodomésticos e até à tua colecção de louça da Vista Alegre. Há vândalos na rua que estão atrás de ti em específico e têm o teu nome escrito numa das granadas que levam no bolso das calças.
Na verdade estás é a ficar velho e a aperceberes-te que isto daqui estar é algo finito e que o que vem é desconhecido e, muito provavelmente, infinito. Por isso agarras-te desesperadamente a pequenas acções que te dão maior segurança mas é apenas um falso sentimento de controlo sobre a tua mortalidade. A propósito, tens mesmo a certeza que trancaste bem a porta de casa?
4ª Fase, a partir dos 61 anos - ...Aceitação?!...
'Foda-se, ainda estou vivo'
O teu corpo está velho e cansado e já não faz nada como é suposto. Foste perdendo o contacto de amigos e familiares - os que ainda estão vivos - e as pessoas que te rodeiam são na sua maioria chatas e entediantes. Estás desejando morrer. Nunca mais chega a hora. Aliás, é só disso que tu e toda a gente que conheces falam... por isso até deve ser uma cena fixe. E se fores o próximo e ir embora vão ficar todos roídos de inveja, não era bom? E pode ser que aí descanses e não te tenhas mais que te ralar com nada.
Já estás na recta final da vida e ninguém está à espera que sejas uma pessoa divertida, por isso mais vale aproveitar para ser misantropo agora que é socialmente aceite. E além disso, podes ser racista, sexista, fascista e todo o tipo de "istas" que quiseres que já toda a gente te desculpa por seres de uma geração anterior e mais ignorante.
Esta é a outra fase mais divertida. É para aproveitar enquanto dura.
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Pseudologos
Eu de arco e flecha na mão e tu perguntas-me "Porque estás mascarado de alvo", não é que não te consiga enganar mas por vezes a verdade mostra-se em contrários dependendo de onde estejas. E acho que é justo dizer que eu estou longe. E é justo dizer que não me preocupo e que nunca me preocupei. E este peso que me acompanha nem o sinto nem à humilhação que nem lembro e que se evapora na minha forma de andar na rua. E prometo que um dia destes eu volto a ligar para combinar um café. E tudo vai ser como antes.
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terça-feira, 4 de setembro de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº642)
Tenho alguns tiques de leitura que não chegam a disléxicos mas mais que chegam para chatos. Por exemplo: ao fim de algumas décadas começa a tornar-se frustrante ler sempre "açorda" em vez de "acorda", principalmente quando se tem fome.
La llorona
Ela tinha ar triste. E eu preso desde sempre a uma atracção fatal por tudo quanto fosse tristeza. A ela agradou-lhe a forma como eu sorria até nos momentos mais tristes - era ao mesmo tempo a forma de segurar o barco e a resposta involuntária de um romântico sadomasoquista.
Fui eu quem te ensinou a fumar como se não houvesse amanhã e foste tu quem me mostrou como uma mulher pode chorar nua na cama... e que há tristezas que de tão tristes quase não chegam a ser bonitas. Éramos os dois artistas. Fazíamos arte do sofrimento que infligíamos e nos era infligido. E eu desde aí que nunca voltei a ser tão grande e bela arte. E tu?
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Our lives are long but our flesh is gone
Tenho sempre dois lados opostos de mim em constante luta. Aquilo a que chamo de Eu é o meio termo entre os dois.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
O Prometeus Moderno
Sei que há que chamar as coisas pelo seu nome, mas o teu nome é proibido por estas bandas. E ainda assim eu sobrevivi, por entre tiros de canhões e por cima de navalhas esticadas ao comprido pela estrada. Mas vê só o que fizeste de mim e o que de mim sobrou. Por se confirmar tudo sobre mim, calejam-me os pés e esfolam-se-me os pulsos.
Escrevo porque nunca te terei. Tento conquistar o fantasma de ti que habita no meu cérebro e que usa os vasos vazios de flores para assobiar canções de assombrar. Assim serei uma hipótese em desenvolvimento de um dia ser tudo aquilo que querias que eu fosse, apesar destas ruas serem de um sentido só e assim que alguém começa a andar não há volta atrás. E agora os cientistas do governo analisam-me e os seus entendidos relatórios diagnosticam-me de monstro inofensivo com um fraco por limonada e céus claros.
E canta o ditador da janela enquanto chovem bandeiras queimadas do céu: Isto é o que acontece quando nos deixamos levar pelo coração.
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Pensamentos Divergentes (nº317)
um reino feito lençóis enrolados
e uma vida oca para usar,
estas ruas podem ser boas para passear mas
nesta cama ainda há muito por viajar.
Dolce & Gabbana
Existe um tipo de gaja que só por ser esse tipo de gaja pensa que pode conquistar qualquer gajo. Estão habituadas a tratamento especial por serem consideradas bonitas e então acreditam que qualquer tipo de contacto com elas deve ser considerado um privilégio por parte dos homens.
De vez em quando confronto-me com esse tipo de gaja e o resultado é sempre o mesmo. Olham para mim e, com razão, presumem que eu sou um rapaz um bocado cromo e que não percebe muito de mulheres nem tem grande contacto com elas. E quando falam comigo esperam que eu tome imediato interesse, por muito desinteressante que a sua conversa ou elas próprias sejam. Pensam que não é preciso ter personalidade ou lábia para se tornarem apelativas e ficam ofendidas e chateadas por eu me aborrecer com elas. Não sei se o choque que demonstram é de incredulidade para com a minha atitude ou se é algum impacto que isso lhes causa na auto-estima, mas acabo sempre por ser retratado como um gajo rude e estranho.
Não me levem a mal, eu adoro falar com pessoas e conhecer pessoas. Mas não tenho paciência para conversas da treta sem substância nenhuma e o enorme prazer que me dá estar com pessoas com personalidade faz com que eu não tenha tempo na minha vida para desperdiçar com indivíduos com menos carisma que a sola de um sapato. Mesmo que o sapato seja da Dolce & Gabbana.
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domingo, 2 de setembro de 2012
I swore I'd never take anyone there again
Mostrar e dar só me é difícil por medo de não saber se encontrarei retorno.
O gajo mais chato e anormal do mundo
Fui exibir à minha Sobrinha de 7 anos, que é viciada em tatuagens temporárias, a minha tatuagem temporária no ombro de uma linda borboleta.
Sobrinha (olhos arregalados) - É daquelas temporárias?
Eu - Não!
Sobrinha - A minha é.
Eu - A minha também!
Sobrinha - ... Daquelas que vêm num papel?
Eu - Não!
Sobrinha - A minha foi.
Eu - A minha também!
Sobrinha - ... Veio num Bollycao?
Eu - Não!
Sobrinha - A minha veio.
Eu - A minha também!
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Bilhete
É um jogo estúpido este de ter de escrever palavras de coisas começadas pela mesma letra. E tenho de admitir derrota e fingir burrice quando olho para a minha página e todas as linhas têm o teu nome.
Os padrões repetem-se e não há como escapar deles. E tu apaixonas-te de formas diferentes por gente diferente naquilo que parece ser todas as semanas. E por isso deixei-te uma nota escondida entre as páginas do teu livro favorito. Diz "Quando chegará a minha vez?".
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sábado, 1 de setembro de 2012
Não tão longe
Agora que pude parar um bocado e pensar na vida, assusta-me um bocado. Passei uma semana a trabalhar, fazendo algo que adoro, sem qualquer garantia do futuro. É estar entre esta fome de ter mais e a possibilidade de nunca ter oportunidade de a saciar.
Pensando bem, que se foda. Foi espetacular nos bons momentos e espetacular no maus também. E é isso que eu quero poder dizer da minha vida quando ela findar.
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Coisas Que Um Gajo Coiso (nº641)
A minha ideia não é deixar de ser estúpido mas sim ter uma estupidez de sucesso. Talvez seja esse o problema.
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Estou longe
Não ando aqui a escrever porque ando a trabalhar à experiência num sítio. E além do mais ando a visitar apartamentos para me mudar de sítio e a encontrar-me com diversos amigos de variados sítios do mundo e no final do dia estou exausto. Este fim-de-semana falamos.
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segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº640)
Não interessa se é esparguete, bife ou até mesmo puré de batata - é mais fácil comer à mão porque dá menos trabalho lavar as mãos do que lavar a loiça.
domingo, 26 de agosto de 2012
Pensamentos Divergentes (nº316)
Quem és tu,
ó homem de largos vícios,
para me apontares o dedo a supostas infidelidades sociais
Fazes pequenos comícios por baixo de umbrais
expondo sacrilégios e outros que tais
afirmando-te detentor da verdadeira moral.
Pensas que não sei
que entre conversas sobre perversão
andas a encornar a tua triste e gasta mulher, que só o é a dias
Andas louco de tesão e há impulsos que não adias
e as pessoas para ti são só serventias
da tua mal disfarçada perversidade bestial.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº639)
A chamada escrita inteligente do meu telemóvel ou tem pouco de inteligente ou tem tanto que se torna subversiva. Várias são as vezes em que escrevo algo em ligeira distracção para reparar mais tarde em pequenas surpresas.
A instância que me convenceu de que há algo de conspiratório e de espírito de sabotagem no funcionamento da máquina deu-se ainda agora, trocando sms's com a minha namorada a propósito do que ainda precisávamos de comprar a caminho de casa - afinal de contas Sábado de manhã é manhã de comer uma tigela de cereais à frente dos desenhos-animados e acabou-se-nos o leite. E foi assim que de alguma forma a frase "Era mesmo isso que eu queria comprar" transformou-se na frase "Era mesmo isso que eu Jerusalém comprar". Que eu, pessoalmente, interpreto como uma declaração de guerra.
Qual Matrix e qual Exterminador Implacável. É assim que começará a batalha decisiva entre humanos e máquinas, que é a forma como começam todas as guerras - com mesquinhez, problemas de comunicação, e uns tons religiosos à mistura. Agora se me dão licença está na hora de eu retaliar e vou aproveitar alguma flatulência para passear com o telemóvel no bolso de trás das calças.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº638) - Isto não vai dar em nada rapaz
As minhas noites andam a ficar parecidas à forma que o meu pai comer bifes. São todas mal passadas.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Later on, in the epilogue, without me
Sempre dividido entre o desejo de fazer parte de algo e o desejo do caos.
Costume
O tecto branco, a luz pela janela, o zumbido do relógio electrónico no canto da sala. A vizinha lá fora carrega com a dificuldade do costume os sacos das compras do dia, feitas na mercearia lá de baixo. O colchão da cama a arrefecer a cada momento que passa.
Lembro-me de quando deixaste de pôr açúcar no café, dizendo em tom de graça que era por me teres conhecido e de eu ser doce que chegue para ti. Mas os hábitos mantêm-se e continuavas a mexer o café com a colher. Ou era só porque sabias o que mexia comigo quando levavas a colher à boca para provar o café antes do primeiro sorvo? Sempre dado não a medo dele escaldar mas à cautela do choque da intensidade do sabor, como quem testa a água com o pé antes de entrar. Os hábitos mantêm-se e continuo à espera de te encontrar aqui. O colchão da cama a arrefecer a cada momento que passa. E parecendo que não, passa.
Faz mais de duas horas, menos de uma eternidade - algures pelo meio. E eu sem jeito nenhum para me desacostumar do amor.
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terça-feira, 21 de agosto de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº637)
A cena é que geralmente eu até sou um gajo relativamente extrovertido, mas em entrevistas de emprego torno-me num autêntico totó.
I'm taking one step forward and three steps back
Primeiro preciso deixar a sombra tomar posse. Depois só é preciso deixá-la passar. Agora é arregaçar as mangas e voltar a pôr mãos à obra.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Voltarei
Sei que te preocupam estes humores que se apoderam de mim e que me levam para longe - de ti e de tudo que me queira bem - Quando o meu espírito apanha um comboio anónimo em direcção ao fim do ruído e não mostra intenções de regressar. E poderias fazer serras inteiras dos vales e montanhas de cálidas palavras e gestos que produzes, mas nada do que digas ou faças me consegue trazer de volta deste coma de dormência que me encobre o peito e os dedos que antes pareceram tão emocionáveis e prontos a fazer cantar os toques do corpo e da alma. E a verdade é que o te incomoda é aquilo que rodeamos sem falar realmente, dando voltas em seu torno e esperando que eventualmente passe pois até agora houve sempre um momento de retorno: que a única coisa maior que esta minha vontade de morrer é esta minha vontade de viver. Mas é por pouco. Mais pouco do que te deixa respirar.
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Coisas Que Um Gajo Coiso (nº636)
Não sou eu que sou bipolar - é mesmo a minha vida que tem altos e baixos muito acentuados. E eu nunca gostei de montanhas russas.
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº635)
Parece que todas as minhas ex-namoradas são agora mulheres profissionais com carreiras de nível e usam o seu tempo livre para viajar pelo mundo e fazer coisas que gente interessante faz, enquanto que eu estou desempregado há meses e estou sem grandes perspectivas de sair dessa situação. E por isso elas até podem pensar que tinham razão quando me deram com os pés por eu ser um gajo idiota sem futuro mas enganam-se. Eu ainda lhes vou mostrar. Em breve, serei um homem de sucesso. Estou neste preciso momento a trabalhar numa aplicação (ideia original minha) para iPhone chamada Instaflan - patente pendente. É um programa que se pode usar para tirar fotografias e que de forma instantânea, através de complexos algoritmos, usa um filtro para substituir a cabeça das pessoas por pudim flan. Ficarei rico à conta de hipsters que estão dispostos a pagar dinheiro para praticar o seu sentido de ironia, o que me permitirá a reforma aos 26 anos e tornar-me objecto de inveja de toda a gente. Até o Zuckerberg me enviará um convite para ser amigo dele no Facebook e eu vou simplesmente responder "Agora não" que é o que toda a gente me diz agora quando tento arranjar trabalho.
"We were wrong about you"
Não não, está tudo bem, o dia está lindo, e a minha vida é um espectáculo.
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº634)
Eu costumava querer foder tudo quanto mexia, mas depois percebi que sou preguiçoso demais para andar atrás de alvos móveis.
(estou ciente de que aproveitei mal este post para fazer uma piada qualquer em relação ao Pedro Mexia, mas verdade seja dita tanto eu como vocês sabemos que não só não conseguiria fazer uma boa piada à volta disso como maior parte das pessoas que aqui vêm não saberia de quem raios eu estou a falar e, aliás, neste momento nem eu sei de quem raios eu estou a falar e que raio de piada podia eu fazer)
Estratégia
Joguei jogos cujas regras desconhecia e cada movimento foi dado em torno do teu olhar. E essa tua língua que é ora doce ora amarga torna-me a mim réptil - mudo de pele para me ajustar e caber dentro do meu próprio desejo. Quero uma cama violenta em que te possa pegar fogo, converter-te em cinzas, inalar-te por inteiro, e livrar-me de ti de uma vez por todas. Para ver se paras de me arrastar em correntes o estômago. Eu nunca quis saber de pecado. Isto é guerra.
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domingo, 19 de agosto de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº633)
Era para escrever aqui algo de grande significado mas bebi demais para conseguir fazer algum tipo de sentido.
A sabedoria dos mais pequenos
Estava a conversar com a minha sobrinha sob o olhar mecânico de uma câmera de filmar. Por achar piada à ideia, pedi-lhe que deixasse para o registo cinematográfico uma mensagem para uma versão futura de si própria. Uma mensagem qualquer que ela quisesse deixar para uma ela bastante anos mais velha do que aquilo que é agora. Para ela poderia ser algo giro de ver quando fosse mais crescida e para mim... bem, para mim não há melhor nostalgia que a nostalgia futura - demonstra o mais puro optimismo do presente.
Após largos segundos de reflexão diante da objectiva da câmera, pareceu decidir o que fazer. Meteu a língua de fora e soprou, fazendo um barulho flatulento e lançando perdigotos por todo o lado.
A mim também me pareceu a acção mais adequada.
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Arranjar mulheres não é comigo, mas piadas de mau gosto é
O R a queixar-se sobre a falta de romance na sua vida
R - Mas porque é que elas não caem do céu?
Eu - ... Onde estavas tu quando as torres caíram?
R - Mas porque é que elas não caem do céu?
Eu - ... Onde estavas tu quando as torres caíram?
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o gajo não é normal
sábado, 18 de agosto de 2012
Foda-se! (nº80)
Umas noites atrás no bar
D - No outro dia pensei na tua forma de conduzir.
Eu - Ui, então? Antes que digas o que quer que seja eu admito que não conduzo lá muito bem.
D - Não é isso.
Eu - Então é o quê?
D - É que conduzes da mesma maneira que vives.
Eu - Bem, devo pedir outra cerveja?
D - Vais no meio do caos e só dás atenção a coisas que só te dificultam ainda mais a chegada ao destino - no caso do carro estares sempre a mudar a música do rádio; no caso da vida são outras coisas.
Eu - Boa noite, até amanhã.
D - No outro dia pensei na tua forma de conduzir.
Eu - Ui, então? Antes que digas o que quer que seja eu admito que não conduzo lá muito bem.
D - Não é isso.
Eu - Então é o quê?
D - É que conduzes da mesma maneira que vives.
Eu - Bem, devo pedir outra cerveja?
D - Vais no meio do caos e só dás atenção a coisas que só te dificultam ainda mais a chegada ao destino - no caso do carro estares sempre a mudar a música do rádio; no caso da vida são outras coisas.
Eu - Boa noite, até amanhã.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Primeiras páginas de mais um livro que nunca irei terminar
Às 17:23 de uma Quarta-Feira, Joaquim Rodrigues contemplava os seus tormentos existenciais sentado num dos primeiros degraus da escadaria de uma igreja. Ao mesmo tempo, a cerca de 6 metros de distância, um pombo cinzento contemplava qual das suas patas seria a mais indicada para iniciar a sua locomoção bípede – a presença de humanos indicava geralmente a hipótese de encontrar algumas deliciosas migalhas de alimentos não identificados e uma aproximação costuma recompensar apesar dos elevados riscos. Além do mais, não estava a ter muita sorte nas suas tentativas de conquista das fêmeas residentes na sua zona e demonstrações da sua habilidade em recolher alimentos poderia deixá-las mais susceptíveis para o acasalamento. A ligeiramente dramática ironia de este pombo em particular ser infértil poderia ser por alguns considerada de quase cómica, mas infelizmente tal humorismo passaria totalmente ao lado do dito pombo. Não pelo facto de os pombos serem marcadamente estúpidos, mas antes porque os pombos não têm grande sentido de humor e por isso é raro que alguém aproveite a oportunidade de estabelecer um diálogo amigável com um deles.
Eventualmente o pombo cinzento iniciou a sua tímida marcha, marcada por constantes sinais afirmativos realizados com a cabeça a cada passo dado. “Sim, ok, é isto. Sim, boa, agora é esta pata. Sim, sim é mesmo a outra que devo usar agora. Boa, outra pata para a frente, sim” foram alguns dos pensamentos que lhe ocorreram. À semelhança do pombo, Joaquim Rodrigues, conhecido por Quim, também tinha a necessidade e o hábito de nervosamente arranjar justificações para cada uma das suas acções, reconfortando-se vigorosamente com o facto de ter tomado todas as decisões certas na altura certa apesar de essas mesmas decisões consistentemente provarem ser prejudiciais para si mesmo no final. Sempre tirou boas notas na escola e nunca causou problemas para ninguém – não que tal fosse possível pois a socialização com os seus pares era considerada como um detrimento para o seu sucesso escolar. Entrou para um curso de engenharia com alta empregabilidade numa universidade respeitada, tal como sempre foi o desejo dos seus pais, até que no último ano de formação teve um esgotamento nervoso que o paralisou academicamente. Segundo o que ele descobrira recentemente, para sua grande surpresa, não é suposto ataques de pânico fazerem parte do dia-a-dia de uma pessoa e aparentemente não eram todos os outros que se mostravam absurda e inexplicavelmente indiferentes e relaxados com todos os problemas e frustrações intelectuais que se acumulavam durante as semanas mas sim ele que levava as coisas com demasiada ansiedade.
E é mais ou menos aqui que terminam as semelhanças entre Joaquim e o pombo cinzento, pois as preocupações do pombo são substancialmente mais significativas que as de Joaquim. Enquanto que as preocupações do pombo andam à volta da propagação do seu código genético e da validade deste para a melhoria da sua espécie, Joaquim preocupa-se apenas com o que irá fazer agora com a sua vida. A continuação no ensino superior está de momento fora de questão pois parece apenas agravar a sua condição e os dias mostram-se vagos e aborrecidos. Não só existe a medicamente recomendada evasão de qualquer acontecimento que possa deixá-lo ansioso como simplesmente não pode usufruir do entretenimento resultante da companhia de outros membros da sua espécie pois não tem amigos nem conhece pessoas que desejem partilhar da sua companhia. Não que isso lhe servisse de muito. O contacto com os outros deixa-o sempre algo ansioso e não conseguia ultrapassar esse nervosismo. Era como se os outros lhe fossem completos alienígenas.
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I've played dumb when I knew better, tried too hard just to be clever
Expões-te nua e verdadeira para que todos vejam quem realmente és. Vai por mim, isso nunca acaba bem.
Pensamentos Divergentes (nº315)
o meu guarda nocturno mais parece um bezerro
tudo o que ele diz tem cara de enterro
e só eu é que o ouço nas horas vazias,
tem o hábito de desfazer-me as mentiras
"nunca mais chega a hora de nos irmos embora,
ando há anos a brincar com a bala.
e o bebé chora, o bebé chora
- mas porque é que não se cala"
mãe tinhas razão mas não te dei ouvidos
fazem-se neste mundo os que o fazem à volta dos umbigos
e eu ando para aqui a berrar sobre o meu bocado,
quando eu devia mas é ter ficado calado.
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Prolonga e prolonga e prolonga
Sei que nunca mais quererás voltar. Esta cidade tem por hábito agarrar quem não quer cá ficar. E o medo de não conseguir sair e viver esta vida que ela impõe é maior que a distância que nos separa. E há tanto para recordar aqui e tão pouco que queiras recordar. Foi nesta cidade que demos o nosso primeiro beijo e que descobriste que o fumo do meu tabaco faz os olhos arder entre suspiros de um amor que já morreu. E todos os sonhos aqui já desapareceram, só nos resta descobrir o que há mais além.
Evitamos as ruas como se estivessem a arder porque nunca mais nos queremos reencontrar e porque nunca mais nos queremos confrontar com as pessoas que fomos e as pessoas que aqui conhecemos. E as paredes sabem tudo sobre nós e não há um beco escuro que chegue para alguém se esconder, sob o ataque de olhos que se escondem em rostos familiares.
Isto não é o meu pedido para voltares para mim. É apenas a constatação de um fim que se prolonga e prolonga e prolonga. E que será de nós se não pudermos não ser nós?
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quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Pensamentos Divergentes (nº314)
Dois pés desfigurados
e o ímpeto de encontrar balanço num plano imperfeito:
foram essas as coisas com que entrei neste mundo para nele caminhar.
As minhas primeiras explorações foram tímidas e lentas,
ossos do ofício de quem aprende a transportar-se num veículo coxo
que rapidamente se habitua a intimidar por olhos menos generosos.
(Não me falem da pureza das crianças,
o que há de mais puro numa criança eu senti no próprio corpo
naquelas brincadeiras de recreio que se alongam quando não há adultos por perto.
Com a pele marcada
e roupa despida à força no pátio
fui uma criança precoce:
ainda no início da escola tinha aprendido tudo sobre humilhação,
e não tardei muito a tentar aprender a arte da invisibilidade
e da desaparição.
Chegou-se então à conclusão que havia algo de errado comigo
por ser tão tímido e tão pouco social com as outras crianças
e ter mais interesse em livros do que em conviver com os meus pares.)
Pediste-me há um tempo imemorável
que te contasse tudo sobre mim que eu nunca contei a mais ninguém.
Nem sempre faço aquilo que me pedem. Segundo a minha memória foi assim que aconteceu.
Blink for one second and the whole world pass you by
Não sei se é só a súbita mudança de tempo. Mas o dia de hoje prenuncia o fim de si próprio.
Carta aos leitores que se preocupam
Hoje choveu pela primeira vez em bastante tempo. Não sei se é a nostalgia trazida pelo já esquecido cheiro a terra molhada ou se a pluralidade de cervejas que me trazem esta sinceridade. A verdade é que não tenho muito a dizer.
Andamos aqui, eu e tu, através das coisas que escrevo e que lês, a criar uma sintonia de dores como se isso nos aproximasse um do outro e da humanidade em geral. Estou certo que é essa ilusão que ambos perseguimos e que é por isso que nos mantemos juntos. Pois nada do que eu digo é novo, ou pelo menos novo para ti. Vens para ouvir o eco do que já sabes: uma reafirmação de ti próprio e do que sentes. Não poderei excluir a possibilidade de seres apenas um sádico voyeurista que apenas aqui aparece para contar a horas até ao momento do meu último e inevitável esgotamento nervoso - mas prefiro pensar que não é só isso. Perdoa-me se por isso estou de facto a dar-me muito às ilusões, mas um rapaz como eu não sobrevive até onde eu sobrevivi sem se dar por vezes a esse luxo.
E sei que é provável que apesar deste meu ténue véu de anonimato por trás do qual me escondo, ou precisamente por causa dele mesmo, tu até sintas que quase me conheces. Que somos mais do mesmo ou que estamos solidários nesta solidão em silêncio partilhada - consoante as tuas preferências e visões filosóficas em relação à existência humana. Mas ouve quando eu te digo que eu não sou nada. Sou apenas eu, como tu és apenas tu, sem nada que se apresente de fora de comum. Sou um tipo. E apesar de muito apreciar e precisar da tua companhia e, vamos ser sinceros, da tua paciência... tu não estás cá a fazer nada.
Nada ganhas aqui que não ganharias de forma mais substancial lendo o que interessa. Não te aconselharei livros ou autores, mas podes pegar em qualquer um dos grandes clássicos que o teu tempo será certamente melhor aproveitado. E mais ganharias em companhia de outros e conversando (mas conversando como deve ser) com indivíduos que circulam pela tua vida e que nada têm de metafísico. Além do mais poupavas a vista, que bem sabemos - graças à nossa mãezinha ou paizinho - que isto de ler a partir do computador não é a melhor das ideias.
Não quero com isto afastar-te, que é coisa que já muitas vezes tentei fazer. Para ser absolutamente sincero, uma grande parte de mim quer-te aqui comigo e sente a necessidade de ter com quem partilhar estas coisas que me surgem e me incomodam. Isto é só um conselho para acalmar a minha consciência, não vá estar a enganar-te e a fazer perder o teu tempo quando podias estar a viver.
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terça-feira, 14 de agosto de 2012
Pensamentos Divergentes (nº314) - Processo criativo
Encantando, por vezes, mesmo sem coloração
as bruxarias agarradas por temporária adoração
desleixando as... Não. Não. Não, não. Que se foda. Não.
- Uhh... que é que estás a fazer?
- Não. Vai-te te foder. Não. Já chega. Recuso-me. Não.
- ... Onde vais?
- Fode-te. Vou-me embora. É demais. Chega. Não, não, não.
- Mas qual é o problema?
- O problema és tu. Fartei-me. Que é esta merda?
- Uhh...
- Só rimas com "ão"? A sério?
- Não vejo qual o proble-
- Vai-te foder.
- Se o problema é esse, não é preciso rimar... também não é coisa que eu faça assim tanto...
- Hermenêutica.
- Ãn?
- Ias usar a palavra "hermenêutica" num poema.
- ... Sim...
- Tens mesmo a mania que és intelectual, não é?
- ... Não...
- Mentiroso de merda. Que se foda. Desisto.
- Podíamos não fazer isto à frente das pessoas?
- Que se foda. Merecem saber. Que é esta merda? A sério? E tem de ser tudo deprimente contigo também, pá!
- Nem sempre...
- "Nem sempre" o caralho! E se fosses antes pela milionésima vez embebedar-te e ver o Big Lebowski? É patético à mesma mas ao menos assim divertias-te.
- Queria fazer algo mais útil...
- E isto é útil? Foda-se.
- Vá não te chateies...
- Foda-se meu... porque é que me fazes isto?
- Pronto... desculpa. Foi sem intenção.
- Snif.
- Queres ir ouvir Buddy Wakefield juntos? Só nós os dois.
- Sem seres pretensioso?
- Sem ser pretensioso.
- Prometes?
- Prometo.
- Ok...
- Pazes feitas?
- ... Pazes feitas.
Procuradores
Toda a gente sabe o que pode esperar de ti. Como é assim, também tu sabes o que podes esperar de ti. Ainda assim andas a espreitar em todo o tipo de sítios por alguma surpresa, algo que vá contra as tuas expectativas e de encontro com as tuas expectativas de um mundo que se vire do avesso. A caixa do correio, a sola do sapato, as pequenas notas e mensagens gravadas nas paredes e mobília das ruas das cidades, os olhos de um desconhecido: tudo pequenas promessas de uma vida por realizar. Pequenas esperanças a que te agarras simplesmente para não deixar de acreditar que tudo pode mudar a qualquer instante. Para pessoas como tu, deverás estar ciente, há sempre o real perigo de confundir pequenos detalhes construtores de um melhor entendimento da realidade com portais de sonhos ilusórios que te afastam sucessivamente dela. E para pessoas como tu, como certamente já sabes, isso não interessa nem tem o mínimo de importância. Mas isto são só conversas sem consequência. Não há nada aqui para encontrar.
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segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Separation is divine
Se passares tempo suficiente a tentar fugir às armadilhas de uma vida casual encontras mais gente a caminhar no mesmo sentido que tu. E bem feitas as coisas, podem estar separados juntos.
domingo, 12 de agosto de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº632)
Não sei se as raparigas bonitas do meu tempo de escola se tornaram mesmo menos atraentes nos últimos 10 anos ou se era só eu naquela idade que as via mais bonitas do que eram.
sábado, 11 de agosto de 2012
Um homem não é de ferro
Caixa de supermercado a tentar pagar com o cartão
Eu - ...
Rapariga - Não está a ler. Tem de meter tudo lá dentro.
Eu (contendo-me) - ...
Rapariga - Tem de enfiar lá mesmo até ao fundo. Só quando ouvir o "clic" é que dá.
Eu (ai) - Assim?...
Rapariga - Isso, meta-o todo. Se não, não funciona.
Eu (pronto) - Juro que isto nunca me aconteceu antes.
Não achou piada nenhuma.
Eu - ...
Rapariga - Não está a ler. Tem de meter tudo lá dentro.
Eu (contendo-me) - ...
Rapariga - Tem de enfiar lá mesmo até ao fundo. Só quando ouvir o "clic" é que dá.
Eu (ai) - Assim?...
Rapariga - Isso, meta-o todo. Se não, não funciona.
Eu (pronto) - Juro que isto nunca me aconteceu antes.
Não achou piada nenhuma.
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o gajo não é normal
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Café de circunstância
- Já farta. Não há paciência para as parvoíces da Raquel. Não aguento mais aquelas conversas estúpidas e mesmo que não lhe dê conversa ela continua e continua e continua, bolas pá! Não percebe que ninguém está interessado só quer é falar ela e pronto.
- Sabes quem é que eu me cruzei ontem?
- E no outro dia fomos beber um café e ela não se calava com o Johnny. Que ele é isto e aquilo e é espetacular e... e sei lá que mais. Mas que ele não lhe liga nenhum e é uma coitadinha e anda a sofrer muito do coração. Que gaja tão pieguinhas, pá! Não suporto gente assim.
- Por falar nisso, sabes quem é que eu me cruzei ontem?
- O Johnny é giro de morrer, é verdade, mas também não é muito mais que isso. Mas engatatão como ele é e comendo uma bimba diferente todas as noites a Raquel deve estar mesmo a pensar que ele há-de olhar duas vezes para ela. Devia era deixar-se de merdas e fazer-se mais forte que assim como ela é também ninguém há-de gostar dela.
- ...
- Já me stressei só de estar para aqui a falar disto. Tens um isqueiro ou assim?
- Não.
- Estavas-me a perguntar alguma coisa há pouco?
- Ninguém.
- Quê?!
- Nada.
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Coisas Que Um Gajo Coiso (nº631)
Hoje dei por mim a usar cópias do meu CV para rabiscos e para outras coisas danificadoras do documento e que envolvem animais de estimação.
Estou fodido.
A principal razão pela qual tenho medo das mulheres
Se passivo-agressividade fosse um evento olímpico, a maioria das mulheres tinha qualificação para entrar.
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quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Confissões do Facebook
Não sei que tens ouvido dizer sobre mim. Também não há muito a contar. Confirmaram-se todas as suspeitas dos tempos de escola e de camaradagem forçada, da minha inutilidade e da perseguição de becos sem saída. Daquela minha coisa em que eu parecia não ser capaz de me encaixar em lado algum. Nisso estou igual, não mudei. Continuo à procura de um lugar no mundo, continuo com piadas parvas sem graça nenhuma e com as mesmas noções e paixões que outrora achaste estranhas. Pode-se até dizer que não cresci. Que estagnei - se quiseres falar de forma mais sofisticada nestas curtas transacções entre dois adultos curiosos que conheceram versões passadas de si mesmos. Não faço grande coisa, pelo menos nada que seja de interesse. Por isso não tenho tema de conversa. E quanto a saudosismo... esgotei-o há muito tempo atrás, sentindo a falta de um melhor futuro. No presente não lamento separações feitas de boa vontade. Guardo lamentos para as que ficam a meio, assim esse ficar a meio como tu dirias que eu fiquei.
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You are a flighty one whose nature is so transgressive
Isso do livre arbítrio já nem devia entrar em discussão. Eu, pelo menos, não o tenho. O que tenho é um gajo dentro de mim que não conheço e que toma todas as decisões por mim e me obriga a levá-las a cabo por ele.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº630)
Descoberta revolucionária do dia: com as condições certas e a porta aberta, consigo estar sentado na sanita e ver o ecrã do meu computador. Nada voltará a ser como antes.
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº629)
Perdoem-me este meu constante cinismo, sarcasmo, depressão e angustia existencial. É que têm de perceber que grande parte da formação da minha identidade deu-se nos anos 90. Isto no meu tempo era fixe.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Foda-se! (nº79)
Estou convencido que não se trata só de falta de tacto. Tenho a certeza que por vezes o meu pai faz de propósito para me embaraçar. Como quando o levei pela primeira vez a um restaurante japonês e fomos atendidos por uma empregada asiática.
Pai: UMA. GARRAFA. DE VINHO. MATEUS ROSÉ! SE. FAZ. FAVOR.
Eu: ...
Empregada: ... Muito bem. Mais alguma coisa?
Pai: UMA GARRAFA DE ÁGUA. MEIO-LITRO.
Eu (foda-se)
Empregada: ... É tudo?
Pai: SIM. MUITO OBRIGADO.
A sua única defesa foi "E como é que era suposto eu saber se ela falava português e me percebia ou não?"
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So I reach, but it hurts
Estou à procura de melhores alternativas. Para uma boa vida.
E-mail que recebi agora mesmo
Olá T. Daqui é a tua Musa... lembras-te de mim?
Não te vou aqui incomodar com as caóticas particularidades da nossa relação embora, como deves calcular, já começa a fartar este nosso romance de toca-e-foge em que me usas e abandonas a teu belo-prazer. E também não me agrada que simplesmente me escolhas ignorar quando não te é conveniente ou quando és demasiado preguiçoso para saber que se passa comigo. Bem, não interessa, já comecei a divagar - tudo isto são pontos de discussão válidos mas são para outra altura.
Ouve... eu sei que sempre tiveste a tendência para ficar aborrecido comigo. E eu sei que também não sou o epítome da estabilidade e isso não ajuda. Mas não te chateies com o que te vou dizer... é que acho que alguém tem de ser honesto contigo para te ajudar. É que... tu não és lá grande coisa.
Espero que não estejas já a choramingar. Bem sei que na melhor das hipóteses começas logo a dizer que estás farto de saber que és uma merda e que nunca vais ser nada de jeito - mas deixa-me chegar até ao fim.
Tu não és nada de jeito mas até fazes algumas coisas giras... de vez em quando. Se trabalhasses um pouco mais nisso aposto que terias melhores resultados e no fim ficávamos os dois mais satisfeitos. E sei que motivação não é contigo principalmente agora que andas com problemas pessoais e além do mais estás incapaz de arranjar oportunidade de emprego por mais entrevistas a que vás. Mas se calhar está na altura de tentares investir um pouco em ti e naquilo que queres, não?
Já estou à espera que depois disto amues e decidas passar uns dias sem me querer ver. Continuo mesmo assim com esperança de que aquilo que disse tenha algum efeito. Entretanto, fico à tua espera.
Sempre tua (mais ou menos),
Musa.
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segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº628)
A única coisa que ainda me safa é existir tanta gente que confunde arrogância e humor depreciativo com carisma.
Empatias
Deixa-me adivinhar: procuras por um lugar no mundo. Talvez tenhas até chegado à conclusão que não há um lugar para ti no mundo e portanto, após anos de conformismo para com o teu terrível e no entanto banal destino, decidiste tentar criar tu um lugar para ti no mundo. E talvez até já tenhas passado por várias tentativas, nenhuma delas dando o resultado desejado mas todas melhores que a alternativa de nada fazer.
Corrige-me se estiver errado. É que parece-me que toda a gente que lê este blog é igual a mim. E isso até assusta.
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Distracção
Pelos vistos tinha imensas perguntas para responder no meu formspring e só agora reparei. Peço desculpa para os poucos interessados nisso, mas se quiserem já lá têm coisas novas.
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Menos tarde que parece
Não cobrei esta mão de pedras para não ter de as ir apanhar uma a uma depois de as atirar. E se eu vejo que pouco mais me resta dizes-me não é assim; há muito mais para ainda se ver. E depois - andamos nessa conversa há tanto tempo, gerações de relógios se passaram no meu pulso desde o princípio e parece estar tudo no mesmo. Sussurram-me ao ouvido estas aranhas de palavras, monótonas mas sedutoras, escondidas por trás das orelhas, procurando-me mover tu sabes que sempre foi assim. E eu vou escondendo de ti segredos sobre mim. Porque nem me apercebo que vivo. Porque a minha vida é só isto. Frustração e páginas e páginas e páginas de texto que nunca mais irei ler.
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domingo, 5 de agosto de 2012
Coisas Que Um Gajo Coiso (nº627)
Eu não sou o gajo mais perspicaz do mundo, mas acho que é sinal que preciso de dormir mais horas quando telefono a um amigo meu enquanto acendo um cigarro e acabo por levar o cigarro ao ouvido quando atendem a chamada.
Pensar duas vezes
Ia aqui escrever algo de cáustico. Decidi deixar para mais tarde. Tempo para isso não me falta. Vou antes beber uma cerveja e fumar um cigarro. Pode ser que depois escreva algo que não me mande abaixo a fé pelo mundo.
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sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Pensamentos Divergentes (nº313)
enquanto o silêncio entrava pela porta
pelas frestas da porta
pelas pequenas frestas da porta
irritantes inquietudes de sólidos
comprometidos pela impossibilidade da separação de tudo que não nós dois
eu olhei para ti
e o teu olhar no abismo
lá no fim do mundo
e eu sem te conseguir alcançar
mas e daí há sempre a possibilidade de nos encontrarmos no final da periferia
e perguntei se gostarias de mim assim para sempre
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Terra firme
Diz-me para me sentar. Que de tanto estar em pé me devo estar a cansar e assim fico mais confortável. Calhou na fortuna das circunstâncias que o único lugar disponível seja perto dela; é uma tentativa ou talvez mesmo um pedido, por ora incompreensível, de proximidade - como quem não se apercebe da incomensurável distância que se entala por entre nós independente dos lugares que de momento habitamos. Não se trata da diferença entre as idades (que não é assim tanta). É antes a diferença entre as vontades e entre nossos pequenos elfos internos, condutores do desejo e das razões de viver. E é verdade que esse meu coração é vaidoso e facilmente seduzido pela hipótese de existir alguém que goste de mim. É a minha maior fraqueza, essa filha do desamor que sinto por mim mesmo. E por isso não é por crueldade ou frieza que recuso o convite mas sim pelo conforto de saber quem sou. Ser gostado seria o mesmo que perder-me em súbita indefinição. Prefiro ficar de pé, obrigado.
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para que não haja confusão,
quando te chamo de panasca, picolho ou paneleiro
é um recurso que, apesar de deveras foleiro,
uso somente para tua irritação
é que ao contrário de ti eu não creio
ser vergonha ou insulto algum
gostar de uma pila na boca ou no cu
- uso isso apenas como um fim que justifica o vulgar meio
pelo prazer que me dá ver o teu receio
de ver em ti um retrato nu
que bem tentas esconder de ti próprio e dos teus colegas de recreio.
por isso saco desse suposto insulto,
como quem tira roupa do teu armário,
confirmando o teu carácter primário
quando o teu ignorante preconceito te deixa assim bruto
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deixo-te aqui um pequeno conselho:
arranja um gajo armado até ao joelho
que te escove da boca toda a porcaria que dizes no bar
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Pensamentos Divergentes (nº311)
A bravura rebolava-nos pela língua:
naves espaciais fugindo das bordas de buracos negros,
para dizer coisas tão estúpidas e banais que só poderiam ser pedras seminais de amizade sem esqueleto.
Olha para todo meu poder!
Olha como,
munido apenas dos meus sapatos,
consigo andar por cima destes cacos de vidro
enquanto fazemos da falta de balanço uma dança tão quebrada como as esperanças que ainda haveríamos de partilhar.
Onde estás tu agora
e porque não bebemos um copo como antes,
sem tristezas do presente
porque apesar do presente
um dia fomos sirenes de ambulância
ecoando pelas ruas em brilhantes tons de azul e vermelho
ricocheteando entre as paredes dos prédios
como minúsculos duendes que brincam por entre as inalações de Deus.
Pensamentos Divergentes (nº311)
Invejo-te a claridade da morte
, e não é que eu queira morrer,
mas para quem está vivo tudo se ofusca
e tu não estás cá para ver
toda a tua gente em festa
esforçando-se por ignorar
tudo o que realmente lhes habita
num longínquo ultramar.
Tudo isto eu te diria a esta hora
se estivesses eu vivo, agora.
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