quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Pensamentos Divergentes (nº314)


Dois pés desfigurados
e o ímpeto de encontrar balanço num plano imperfeito:
foram essas as coisas com que entrei neste mundo para nele caminhar.

As minhas primeiras explorações foram tímidas e lentas,
ossos do ofício de quem aprende a transportar-se num veículo coxo
que rapidamente se habitua a intimidar por olhos menos generosos.

(Não me falem da pureza das crianças,
o que há de mais puro numa criança eu senti no próprio corpo
naquelas brincadeiras de recreio que se alongam quando não há adultos por perto.
Com a pele marcada
e roupa despida à força no pátio
fui uma criança precoce:
ainda no início da escola tinha aprendido tudo sobre humilhação,
e não tardei muito a tentar aprender a arte da invisibilidade
e da desaparição.
Chegou-se então à conclusão que havia algo de errado comigo
por ser tão tímido e tão pouco social com as outras crianças
e ter mais interesse em livros do que em conviver com os meus pares.)

Pediste-me há um tempo imemorável
que te contasse tudo sobre mim que eu nunca contei a mais ninguém.
Nem sempre faço aquilo que me pedem. Segundo a minha memória foi assim que aconteceu.

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