terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Do do do do do do do do do do do do doo


Ia escrever aqui algo sobre 2014 ser melhor que 2013 mas rapidamente descobri que a razão pela qual nada me saía era porque não acredito nisso, pelo menos de momento. Por isso venha o Ano Novo e a sua melodia repetitiva que fica na cabeça.

Pensamentos Divergentes (nº331)


Aprendi a dançar em navios sem capitão nem maré.
Aprendi a enrolar desilusões em mortalhas contra o vento
e a recitar o alfabeto da nação sem perder pé.

Aprendi a escovar os dentes depois de comer bosta,
que quem desdenha é porque não gosta
e que se por acaso "denha" é só falta de proposta.

Aprendi que não aprendo nada,
nicles,
talvez coisa nenhuma.
Que é tudo acaso ou repetição da imitação. E que o desconforto não é desconforto coisa nenhuma. É sintoma de viver.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O som das coisas


A estupidez faz um som idêntico ao de uma lagosta afónica a cantar La Traviatta em dó menor. Tão certo como um primeiro beijo soar a uma música inédita dos Beatles em hi-fi, ou a morte fazer o estrondo de um eco que ecoa silêncio absoluto.
As coisas têm tendência para fazer um som característico que outra não consegue replicar. Por exemplo, eu posso estar a tentar aprender beatbox, mas por muito que treine só consigo soar ligeiramente parecido a um completo anormal. Por agora só consigo fazer barulho de idiota. Ainda assim, estou certo que se me estivesse a ouvir de fora, bateria - em mim próprio.

Daí a minha surpresa quando encontro algo em absoluto silêncio. Como quando ainda vou a meio de uma cerveja e percebo que já estou a precisar da próxima. Porque a pressa, ou melhor a ansiedade, do que pode vir não faz som. É como um relâmpago à distância que se vê antes do seu refilar chegar até nós. É um triste oráculo em cinema mudo que nos faz a exposição dramática de tudo menos do que está realmente a acontecer.

E é por isso que o amanhã é o afogar do galope dos sonhos; o atirar paus em lume às cavernas do desconhecido à espera que os ursos do futuro saiam para nos atacar as ânsias. E o ano novo é o maior dos amanhãs que alguma vez existiu. Porque nunca vem e sempre que nunca vem fá-lo sem aviso. É, diria, como um texto sovina que não sabemos se nos acaba por recusar dar-nos o obséquio de um maldito ponto final

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº661)


Assim que me começo a irritar lembro-me - "É só a merda de um jogo". E a minha vontade é relaxar e não me preocupar com o resultado. E assim começo a fazê-lo apercebo-me que para jogar bem é preciso levar a coisa a sério, por muito ridículo que isso seja.

É esta a minha atitude com a vida.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O amor fica-vos bem


- Estás apaixonada?
- O quê?
- Estás apaixonada.
- Porque é que dizes isso?
- Nota-se. O amor fica-te bem.

O amor fica-vos bem. As mulheres vestem-no melhor que ninguém. Um homem demora anos de experiência a aprender como amar. Arrisco-me mesmo a dizer que antes dos 20 anos é impossível sabermos como o fazer com a mínima graciosidade. Não temos jeito para conjugar as suas cores e acabamos amando de mais ou de menos.
Já às mulheres parece que qualquer amor vos fica bem. Vestem-se de carinhos e de mágoas como se o fizessem a vida toda (e fazem). Tanto que chegam a cometer a asneira de se oferecem a amar por nós. Sem o saber, é assim que nos tiram o amor e qualquer hipótese de aprender a usá-lo por nós mesmos.
É que a nossa dificuldade é básica no mais troglodita dos sentidos. Simplesmente, amar não é coisa de homem. Homem brinca, Homem seduz, Homem fode. O resto ou é fraqueza ou um bizarro capricho a ser domado. São precisos anos de asneira para aceitar fazer figura de estúpido sem nos importarmos com isso e aceitar colocar o coração nas mãos de outra pessoa para fazer dele o que quiser. Se correr mal, paciência. Faz parte da moda, se não do modo, de amar.
E a verdade é que nenhum de nós sabe, ao certo, se podemos alguma vez amar como uma mulher é capaz de amar. Nem sabemos se para nós o amor não é apenas uma questão de estética. Sabemos apenas que gostamos de ver mulheres apaixonadas - é bonito, fica-vos bem.

I never paid attention to my charts


Quero acreditar que um dia não vou ter de me preocupar com o regresso dos demónios que tanto amei.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Golos em balizas invisíveis


Um frio que tem tanto de banal como de aborrecido. Não se digna a ser tão maior a ele próprio que nos possamos queixar "Foda-se, que frio que está". É só o suficiente para despertar sem que chegue para ocupar-nos a cabeça toda. Foi assim que, ao passar no Rossio a noite passada, vi um puto a marcar golo numa baliza invisível, guardada por uma miúda que presumi ser a sua irmã mais nova.

Não só marcou golo como claramente se tratara de um golo. E celebrou-o em justa medida com a certeza que um remate merece. Com balizas invisíveis nunca há golos à tabela - ou se acerta em cheio ou se falha. O que interessa são as linhas imaginárias de separação e isso depende da cabeça de cada um. 

É que o problema das balizas invisíveis é que elas estão sempre a mudar de tamanho. E a realidade das  acções naquilo que está em jogo é sempre deixada à imaginação do espectador.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Lacre e vinho


Cresce entre os dedos dos pés. Semeia por baixo das unhas as suas patas quebradiças, como pétalas de fogo. Inquietação. A inquietação e a merda do Inverno. Mais as suas noites frias que me fazem sonhar sonhos mais lúcidos que a realidade. Que me interessa aos cobertores se estou a tornar-me no meu pai ou se tenho tão mais pouco tempo do que alguma vez tive. Deixa-me em paz o bouquet de bocejos que carrego na garganta. Não posso descansar, não suporto descansar. E cansaço é tudo o que tenho para dar. Tenho o peso de um mundo para colocar às costas do mundo. E não me chega. Sou uma fábrica de mágoas para os outros carregarem. Poderia passar a vida toda a esfregar a nossa merda colectiva na cara da humanidade. E no fim, no fim de tudo, no fim de mim, poderia assinar a carta e entregá-la em mão de rosto sereno e sorridente. Por isso amem-me de boca aberta. O meu coração pode não ouvir.

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