Cresce entre os dedos dos pés. Semeia por baixo das unhas as suas patas quebradiças, como pétalas de fogo. Inquietação. A inquietação e a merda do Inverno. Mais as suas noites frias que me fazem sonhar sonhos mais lúcidos que a realidade. Que me interessa aos cobertores se estou a tornar-me no meu pai ou se tenho tão mais pouco tempo do que alguma vez tive. Deixa-me em paz o bouquet de bocejos que carrego na garganta. Não posso descansar, não suporto descansar. E cansaço é tudo o que tenho para dar. Tenho o peso de um mundo para colocar às costas do mundo. E não me chega. Sou uma fábrica de mágoas para os outros carregarem. Poderia passar a vida toda a esfregar a nossa merda colectiva na cara da humanidade. E no fim, no fim de tudo, no fim de mim, poderia assinar a carta e entregá-la em mão de rosto sereno e sorridente. Por isso amem-me de boca aberta. O meu coração pode não ouvir.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Lacre e vinho
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22:46
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