quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Final do dia


Vi-te, magra como te conheci. Desde que nasceste que andas esfaimada de amor. E cada dia que se passa notam-se as mazelas e a silhueta dos ossos das palavras que mais te magoaram,  sem que ninguém precisasse de tas dizer.
E eu até te salvava, como o quis fazer anos atrás quando me alimentavas o calor da alma. Mas agora só morro de tristeza de te ver.

domingo, 28 de outubro de 2012

A história mais banal do mundo


Ajudou a endireitar-me contra o sofá e disse que quase nunca fazemos o que queremos mas antes o que somos levados a fazer por nós próprios. No torpor do álcool lembrei-me que toda a gente já pensou em voltar atrás no tempo e voltar a viver a sua vida com os conhecimentos do presente. Se alguém alguma vez realizou esse desejo foi ela -  a sua maturidade era a de quem vivia pela segunda vez. E eu nunca soube de onde vinha essa qualidade, mas temia o que é que podia fazer com que alguém crescesse tão rápido tão cedo.

Tão mais inteligente que eu. Afastou-se antes que eu pudesse fazer algo estúpido e foi-me buscar um copo de água. Sempre falámos de tudo menos da força que nos puxava um contra o outro e que ambos claramente sentíamos há muito tempo. Nunca fizemos nada pelo certo desastre que resultaria - disso sabíamos os dois. E todas as gajas casuais e todas as noites estúpidas e nada servia para tapar o que me faltava. E no meio disso tudo, ela esteve sempre lá a olhar por mim.

Mas tudo acaba por mudar. E juntos vivíamos sempre em risco de um de nós ir longe demais. Acabámos por nos afastarmos um do outro, gradualmente e sem justificações. O problema de não serem precisas palavras para nos compreendermos é que eventualmente deixámos de falar.

sábado, 27 de outubro de 2012

I'm still disillusioned and cool catatonic


Nada como um cinzento Sábado sem nada que fazer para um homem se sentar num sedentário sofá de melancolia.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº654)


Um dos maiores exemplos de um elogio subtilmente mascarado de ofensa foi depois de eu deixar crescer a barba e o cabelo - quando tentei pegar na minha namorada para irmos para a brincadeira e ela diz-me "Sai daqui, ó Adamastor!"

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº653)


"Por ti eu largava a monogamia e convertia-me ao monoteísmo"

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O blog do gajo faz 4 anos


Pois é, mais um aniversário para este blog. A única coisa diferente este ano é que estou a trabalhar num sítio que adoro - e como tal vou fazer algo que sempre achei impensável e mostrar uma foto minha no meu local de trabalho. Enjoy.


domingo, 21 de outubro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº327)


Após diversas contestações
de variadas dimensões
e sobre a maior panóplia de temas,
ele olha para mim com o ligeiro mas incómodo ardor de dois eczemas
e pergunta a maior pergunta entre as perguntas malditas
"Afinal de contas...
em que é que tu acreditas?"

"Em que é que eu acredito?"
pergunto de volta a este perito
de todos os eventos de vida circunstanciais
com o único propósito de adiar a inevitável vindoura enchente de tretas banais.

"Nem deuses nem espíritos
fazem parte dos teus requisitos
na explicação das coisas mais fundamentais.
Energias ou seres de outros mundos
consideras serem delírios profundos
inventados pelos outros comuns mortais.
Em que acreditas tu se tudo te parece ridículo?
Como vives sem procurar explicações para este universo?
Ou limitas-te a viver nisso a que chamas de mente e que mais parece um cubículo
enquanto te asseguras de que tudo tem um científico nexo?"

Um bafo de cigarro.
Um toque de whisky também.
É melhor que bater em quem já não bate bem.

"Tento acreditar no maior número de coisas correctas possível.
E ao contrário de ti, a minha falta de conhecimento não me é horrível
e prefiro a ignorância a calcular invenções
enquanto peido uma filosofia e coço os colhões
sentindo-me seguro de um fantástico segredo mesquinho
que só eu é que adivinho
Sejam eles ovnis, fantasmas, maçonaria,
energias, monstros, ou bruxaria.
Porque tudo o que tu não vês, é para ser inventado.
E tudo o que eu não vejo, é mais um pouco da minha mortalidade que me é revelado."


Salão de chá


Ainda agarrada aos dentes, a brilhante dureza das suas palavras - pingando gota a gota no seu lábio inferior. E para quem fora eternamente mudo, para quem nunca sentira o toque do Nada, as pétalas incandescentes largadas pelo ritmo do meu pulso amontoavam um gigante peso por cima de si, comprimindo-lhe o tórax e sufocando os aparos de mentira que pisávamos os dois.

We used to be closer than this


O Inverno bateu à porta. Eu abri.

sábado, 20 de outubro de 2012

Intuição literina


Ainda agorinha mesmo escrevi um texto que decidi não publicar. Quem escreve precisa de ouvir aquele bicho-sentimento de quando ainda não é tempo do seu menino nascer para os outros.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº326)


Segregamos
à socapa
invisíveis líderes de corrupção
infiltrando-se nos corpos de outros
fazendo nossa a sua constituição

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº652)


O sucesso do governo e dos violadores depende sempre do facto de ser possível silenciar a sua vítima através da imposição do medo.

sábado, 13 de outubro de 2012

Explicação


Eu não deixei de escrever. Só deixei foi de escrever aqui neste espaço.

E não é de propósito, simplesmente ando com menos tempo para o fazer. Tenho vontade de escrever coisas por aqui mas sinto que não tenho tempo suficiente para as escrever como precisam de ser escritas.

Sei que se trata de apenas mais uma desculpa - na verdade o tempo cria-se quando é realmente preciso. Mas quero agora concentrar-me noutro local da minha vida.

Para quem sente saudades minhas durante grandes pausas de escrita, contactem-me pelo gmail. Interessa-me falar com pessoas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº651)


Outra prova de que estou a ficar velho é que às vezes dou por mim a olhar para uma estudante universitária e em vez de pensar "Que mulher que ela é" penso "Que mulher que ela vai ser".

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº650)


É fixe chegar ao final de um dia de trabalho e viver no 12º andar de um prédio sem elevador. É dinheiro que poupo no ginásio.

domingo, 7 de outubro de 2012

A minha festa de aniversário


Este blog está quase a fazer 4 anos de existência. Sinto que deveria fazer algo em especial para a data mas não sei o quê.

Sugestões?

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº325)


No local onde morreu a Libelinha
disse o Gafanhoto à sua rainha:

"Não julgarei os teus olhos um milagre
que o meu coração é um afídio letrado em melaço e vinagre
mais vermelho que o coro de duas andorinhas ciumentas do Verão,
E este desassossego que me move as pernas é um tique de paixão
que por impossível de conter se torna num sonoro comichão

"E da mesma forma que a relva que nos rodeia aos dois
é o excesso dos dentes dos montes e do pasto dos bois,
será o meu corpo o soneto eterno da tua adiada campa em dobra,
e para o meu testamento em rodapé será essa a minha maior obra."
E foi assim que o Gafanhoto se atirou às mandíbulas da Cobra.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº649)


As ofertas de emprego são como as mulheres. É quando um gajo já está comprometido que elas aparecem todas ao mesmo tempo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº324)


os seus olhos de tão vagos chegam a ser exactos,
procura o verdadeiro amor numa pista de dança
ou na casa de banho de uma discoteca
porque a solidão parece pesar menos em saltos altos

e os lábios vermelhos que usas para os outros marcar
não tapam as marcas que deixas em ti mesma.
e não vou dizer que tens um coração de ouro
mas não há duvida de que ele pesa mais do que devia pesar

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº648)


A fanfarronice faz mal à saúde, nomeadamente às minhas costas. Estar a fazer mudanças num prédio onde por acaso existe uma agência de modelos faz com que eu num elevador, para não dar parte fraca à frente das meninas, levante pesos maiores do que sou capaz. Com o mau jeito, fiquei cheio de dores nas costas - é bem feita.

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