domingo, 30 de setembro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº323)


ainda não nasceste e já te arrastaram
espetam-te na rua e é só para pisar
ainda vai haver trovoada a arrancar as pedras do chão
tirem-me esta droga das veias a que chamam destino
e refaçam-me o corpo nem que seja aos bocados
e a doer

sábado, 29 de setembro de 2012

Stains get lonely


Tenho e sempre tive a profunda incapacidade de fazer as coisas da forma como é suposto elas serem feitas. Se é por incompetência ou teimosia, ainda está por decidir. Mas acho que é daquelas situações em que o nosso maior defeito é, de vez em quando, a nossa maior qualidade. Neste caso em específico, a única.

Tarde à chuva


Enquanto embebia o sentimento do teu corpo nos dedos, ocorreu-se-me um pensamento. São estas manchas invisíveis que se alastram na nossa carne com o passar dos anos que nos causam tamanhas neblinas de bíblicos caprichos. Vestimo-nos para tapar o que mais ninguém vê. Pesamos roupa que se empilha por falta de arrumo, seus trapos enrolando-se como línguas de tons diversos. E é por isso. É por isso que é comigo em ti e contigo em mim que se sentem estas traças à flor da pele, beijando futuros vazios que se enchem como a areia se molha com o mar. Sempre à espera de mais.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº322)


Dentro de mim há uma baralho de cartas
de amor
que se desorganizam por baixo da mesa
e quase ninguém vê.

E não sei se és coma de consciência
ou então gaguez de beleza
mas o que tu fores,
perdura.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Meio da estrada


À minha esquerda, dizem que a existência humana é fútil e que somos todos inúteis. À minha direita, dizem que todos nós somos significantes e que cada uma das nossas acções afecta todos os outros. À esquerda, respondem que isso é parvoíce e são delírios de quem não suporta a dura realidade. À direita apupam tamanho pessimismo e apelam à empatia e à partilha de emoções mais belas.

Entretanto a virtude ficou em casa a beber chá -  no meio estou eu sozinho de cigarro na boca. Vou para onde alguém tiver lume que me empreste.

O gajo anda fugido


Lamento, para quem me sente a falta, da minha ausência neste espaço. É que para além de ter ficado sem net durante imenso tempo, agora ando a estagiar num sítio porreiro a fazer o que gosto. Ainda não sei no que vai dar, mas pronto. Quer isto dizer que ando com menos tempo para os devaneios habituais, mas ainda não me quero separar deles. 
Já falamos.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Paradoxal


Eu até tenho algum tempo para escrever e até tenho coisas que quero dizer, mas nenhuma delas vale a pena ser dita.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Observações subterrâneas


Metro cheio. Hoje há jogo de bola. Hoje há vidas dobradas, corações partidos, muito cansaço e alguma felicidade. Mas isso já há todos os dias - hoje há jogo de bola também.
A sufocante multidão traz uma estranha intimidade, enquanto dois jovens amantes namoram encostados a um canto daquela forma que só jovens amantes namoram, tentando ocupar o mesmo espaço. Entre lábios, línguas os toques pelas suas roupas, aproveitam cada e qualquer momento para se amarem e para cederem ao magnetismo dos corpos que não dominariam mesmo que o desejassem.

Do lado oposto está ela. E embora nunca a tenha conhecido, conheço-a bem. A mesma idade mas nos olhos veste a solidão. Não é que seja feia, longe disso - mas é daquelas raparigas que, por ser quem é, não o sabe. Esconde o corpo em roupa larga e pouco vistosa pois não suporta a ideia de chamar a atenção. E por momentos considero desviar o olhar e esquecer-me dela em sinal de respeito aos seus desejos. Mas é que ela observa também o casal e na verdade não tem outro remédio. Bem tenta focar-se nos seus próprios pés, mas o vazio dela puxa-a para o que há para ver - nisso somos iguais.
Prime o lábio superior contra o inferior. É o tique de quem para não jorrar o que tem dentro se beija a si próprio para tapar a saída. E o calor que sente em si é o mesmo que lhe encolhe o coração, como um papel de poemas que se aproxima do fogo.

E há tanto para ela viver e tanto mais que ela quer viver. Mas não sabe. E provavelmente nunca o saberá.

Reencontro amoroso


Internet estável, sê bem vinda. Tive tantas saudades tuas 

domingo, 23 de setembro de 2012

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Every note is an unfinished song


12º A


Por vezes, a nicotina que me mancha os dedos faz uma nódoa cuja forma é impressionantemente semelhante à silhueta da inutilidade. 
E então, frequentemente de copo na mão, dou por mim a pensar: talvez seja mesmo inútil. Talvez haja mais na vida para além desta sintética leveza de espírito trazida pelo álcool como forma de anestesiar uma angústia que neste momento me é estrangeira. Talvez haja mais nesta vida que seja possível alcançar sem ser à beira de um janela de um 12º andar, com nada mais nas mãos para segurar do que a casca vazia de uma passada esperança no futuro e uma futura frustração do passado. 
Eu nunca irei perceber a segurança e a sensatez de quem nunca desejou morrer. E eu sei que estas vertigens não são do medo da altura mas o medo do futuro decidir atirar-se para o abismo. Não é medo de cair mas medo de um eu de vir a atirar-se por vontade própria. 
Mas ultimamente tudo me dá vertigem. Ao contrário de mim, há quem não tenha nada a perder. Eu só me tenho a mim.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº321)



Mariana ouve-me com certeza
que se te enganar não é com leveza,
sobre assuntos do coração
não é engano se houver paixão

é tão fácil como eles esquecem
as memórias que a nós nos aquecem
e as meninas que aí nós fomos
deixavam-nos a eles loucos
- mal sabem eles que ainda as poderíamos ser
se nos dessem uma desculpa para estremecer

e os beijinhos que damos aos jovens rapazes,
tão inexperientes e fugazes,
se souberem são capazes de nos matar
por petiscarmos na fome de amar

I feel it in my fingers


Nothing But Change Part II by Harlem Shakes on Grooveshark

O problema de lutar para não perder a esperança é que cada novo dia há mais decepções à espera.

Socorro, estou desligado do mundo


Não me bastava estar desempregado e já sem ideias de como o arranjar, agora fiquei sem internet. Se voltarem a ficar algum tempo sem notícias minhas fiquem descansados, ando só a entreter-me a perder a minha sanidade.

domingo, 16 de setembro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº320)


Folhas de Outono, folhas de Outono
venham apagar a minha solidão,
chovam do céu para afagar
o rosto da morte da minha nação
E que os estalidos de quem vos pisa no chão
não seja o som dos ossos de quem cá vive em vão

Folhas de Outono, folhas de Outono
o vosso tempo ainda nem chegou,
e já vêm tarde para poder comer
do pão que o diabo amassou
Continuo à espera que me mostrem para onde vou
e tudo aquilo que eu por não poder não sou

sábado, 15 de setembro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº647)


Há dois tipos de pessoa: as que não percebem ironia, e as que não percebem ironia.

Manifestação de algo


Estava aqui pronto a escrever um texto que me libertasse de toda esta raiva que eu sinto. Para aliviar a minha revolta partilhando-a com outros. Mas assim que comecei a tentar escrever a única coisa que sinto é... um profundo vazio. E eu queria gritar tão alto que soltaria a cal das paredes da rua mas de mim só sai este imenso vazio.

A culpa é minha.

A culpa é minha se quero arranjar um emprego e não consigo.

A culpa é minha se quero agora ter condições num país que estava mal encaminhado ainda antes de eu nascer.

A culpa é minha se quero a porra de um futuro e não existe porra nenhuma de futuro pela frente à minha espera.

A culpa é minha se não existe um caralho que eu possa fazer. Foi isso que vocês me disseram, não foi? Estou a ser castigado por um conjunto que opções que não tomei mas que mesmo assim são da minha responsabilidade. E se me queixo chamam-me de mimado, comuna, preguiçoso, egoísta... E nem gritar de volta eu posso porque já não me restam forças.

Nunca fui um aluno brilhante. Mas também nunca fui mau aluno. Não passei por cima dos outros para proveito próprio e, estupidez das estupidezes, rejeitei cunhas porque queria fazer eu próprio algo de mim pelo meu próprio valor.
Mas o mais estúpido fui eu que não percebi logo que eu não tenho valor nenhum. Para vocês eu não presto para nada. Sou só um desperdício de recursos e por isso não mereço melhor do que tenho.

Tenho medo. Muito medo, mesmo. Desta raiva que se embrulhou numa manta de calma e que quer dormir numa cama de indiferença. Deste vazio que é ter em mim um mundo inteiro para dar mas que definha a sós pela morte da esperança. Da esperança de um amanhã e de um lugar para mim neste país.

Esta será, hoje, a minha manifestação a sós e em público. A total desolação de um jovem que poderia ser muito mais do que alguma vez será e que é só a repetição de dezenas de milhares como ele.

É dia 15 de Setembro. Vou à rua marcar presença. Mas algo morreu em mim.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº646) - Altos e baixos


Primeiro:

Há quem vá batalhar pela sua nação e veja os seus amigos a morrer mas sobreviva para voltar para os seus.
Há quem lute contra o cancro durante intermináveis anos e vença a doença.
Há quem tenha membros a menos e treine a vida inteira para receber uma medalha de ouro.

Eu limpei um forno com um dos piores ataques de soluços de sempre. Continuas a achar que sou um falhado, mãe?


5 minutos mais tarde:

Passei os últimos 5 minutos feito parvo com as mãos atrás das costas e um ligeiro ataque de pânico porque estou sozinho em casa e dei um nó demasiado apertado no avental e como o nó estava nas minhas costas e não o conseguia ver, não arranjava forma de tirar o avental.

Tinhas razão, mãe.

E o Karma disse-me "É para ver se aprendes"


Houve uma altura na minha vida em que pensei que podia ser um gajo porreiro e tentar dar-me bem com toda a gente - que não havia razões para descriminar ou afastar-me de alguém simpático só por ter crenças diferentes das minhas.

Depois começou toda a gente a falar-me sobre as suas teorias da conspiração e sobre alienígenas e energias cósmicas e eu percebi que me tinha rodeado de gente louca.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº645)


O melhor (e possivelmente também o pior) elogio que um homem pode receber é o seu urologista dizer-lhe que tem um lindo pénis.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Conversa Conjugal (nº33) - O triste é que é verdade


Ela - Bolas, mal posso esperar que arranjes trabalho.
Eu - ... Então?
Ela - Não é pela questão do dinheiro. É porque andas com um humor insuportável. Na semana em que tiveste à experiência, ainda mais numa coisa que adoras, andavas super descontraído e na boa, era só sorrisos e piadas. Agora chego a casa e andas sempre deprimido e tenso e irritável. Não gosto de te ver assim.
Eu - ... Pois olha, não sei que fazer.

A neatly combed disaster


Meio ano da minha vida. Sinto que me tenho fartado de andar sem conseguir sair do mesmo sítio.

Pensamentos Divergentes (nº319)


incrível Façanha coberta por tecido,
de nome sussurro fugido
pregado a paredes, da carne o mural,
seu sangue a impregnar a suada cal

e eu que nunca quis ser rei
nem dono de nada nem de ninguém,
dizes-me que ela é tua
e eu assim sou tua também

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº644)


Sinal que isto está mau: quando passo a noite a sonhar que tenho uma entrevista de emprego que corre bem.

"Cuidado com o cão"


Tal como muitos dos meus compatriotas, eu também acho que o povo português é um povo manso. Há algo na nossa cultura que terá borbulhado da nossa profunda religiosidade cristã e dos nossos tempos de ditadura e que nos faz acreditar que é suposto estarmos em sofrimento e que isso até é algo bom. E por isso é difícil que o povo se revolte contra quem o trata mal, porque no fundo nós até achamos que merecemos ser castigados.

Dito isso, há um ponto de limite para tudo. Todos os dias tento manter-me atento à conversas de ruas e cafés, aos meios de comunicação e aos blogues, facebooks e comentários de edições online de jornais, e sente-se um incrível aumento de tensão. Parece que foi o recente aumento das medidas de austeridade anunciadas por Pedro Passos Coelho que desarmonizou a balança e que começou a fazer com que as pessoas realmente comecem a perder a paciência.

E é assim que me surpreendo que tão cedo após essas medidas e após avaliação da Troika Vitor Gaspar venha admitir que vêm aí novas medidas de austeridade que incluem cortes nas pensões e aumento de impostos. Surpreende-me não porque tenha algum tipo de ilusão sobre a razoabilidade deste governo mas sim porque isto demonstra ignorância ou total despreocupação com a crescente revolta no coração dos portugueses. É que os animais mansos, quando chegam ao ponto de estalo, libertam toda a selvajaria contida de uma vez só, o que é muito perigoso para quem se encontra à volta. E alguns de nós levamos tanta raiva no peito e tão pouca capacidade de auto-controlo que há o real perigo de as coisas deixarem de ser pacíficas.

Vem aí manifestação no próximo dia 15. Tenham cuidado - todos vocês.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

That's a cold ass honkey


Não tenho onde cair morto mas até é algo que me fica bem.

Recebo amanhã os papéis de divórcio

No final de um dia que passei sozinho em casa

Ela (aborrecida) - Deixaste porcaria na sanita.
Eu - O quê, cocó pegado à louça?
Ela - Sim.
Eu - Limpaste?!
Ela - Pois.
Eu - Não devias!
Ela - Isso sei eu. Quem devia ter limpado és tu.
Eu - Não é isso. Deixei de propósito. Estava a ver em quantas mijas é que, apontando bem e com pressão, conseguia limpar sem puxar o autoclismo. 
Ela - ...
Eu - Ao menos não gasto tanta água... sai caro...
Ela - ...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Entrepreneur


Isto de arranjar emprego está cada vez mais difícil e ouve-se tanto falar de gente a criar os seus próprios pequenos negócios.
Alguém quer fazer parceria comigo? Não sei para o quê nem a fazer o quê e na realidade não tenho talento,  dinheiro, conhecimentos ou ligações que sejam úteis para seja o que for mas sei algumas anedotas e duas delas até têm piada.

Preciso de ler mais Kafka


Poderás fazer pouco de mim e talvez nalgum lugar eu me encontre com quem uma dia escreveu o que eu estou a escrever e farei pouco de mim mesmo. Mas juro que não vejo aquilo que os outros dizem sobre a vida. Que é um sítio só de mágoas e de lutas inúteis. E até parece que é suposto na ordem natural das coisas toda a gente chegar ao fim triste, só e zangado porque não há nada de bom na raça humana. 
Independentemente de tudo o que eu possa dizer nos momentos em que me surge uma tempestade por cima da cabeça, eu vejo beleza em todo o lado. Miséria também, claro... mas uma precisa da outra para existir. E os sentimentos que delas surgem são bonitos à sua própria maneira. Eu sei, é o hippie em mim a falar... mas hoje em dia já não tenho vergonha disso - faz falta neste mundo mais gente que espalhe mensagens de amor e de paz.
Talvez seja só uma questão de perspectiva. E talvez eu seja só míope, se não tolo. Ou então sempre é verdade que sou muito novo e não sei do que estou a falar. Mas tenho os meus amores, meus amigos, e  os meus terrores e castigos também. E tudo isso me parece precioso, tolo ou não.

domingo, 9 de setembro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº318)


Puta pátria encostada
(quando não ajoelhada)
ao caralho dos mamões
que são eleitos aos milhões

renuncio a este país.
cago para geografia, apenas me interessa a humanidade.
e torna-se claro que aqui, na verdade
tudo o que importa é não se ser feliz.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Portugal, o país dos bem-desiludidos


Não irei fazer de conta que estou revoltado com este país. Também não irei fazer de conta que estou surpreso com o que tem vindo e está a acontecer. E não irei, se quer, fazer de conta que tenho algum tipo de energia ou emoção disponíveis para com os comentários que se poderão tecer sobre o assunto.

 É este o problema. Não é que já estejamos habituados, é que já estamos à espera que a coisa vá sempre dar a pior. E como não nos surpreendemos, não nos revoltamos. É simples na verdade: a vantagem de ter um povo pessimista e deprimido é que gasta todo o seu tempo a preparar-se para o pior. O que vier depois é só a confirmação do seu pessimismo e assim não há espaço para desilusões. Trata-se de um mecanismo de defesa que usamos colectivamente e que neste caso nos está a levar de mal a pior.

E é por isso que não nos espera uma revolução pela frente. Estamos todos à agarrar-nos ao mastro do barco e ver onde nos leva enquanto esperamos o fim da tempestade. Não há quem pegue na porra do leme do navio porque enquanto for só a tempestade a levar-nos contra as rochas então aí a culpa não é de ninguém. E nesta terra ninguém gosta de dar a cara, mesmo que em alto-mar.

Male prostitution seems to be my only option


A considerar as minhas hipóteses de carreira profissional.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Um dia na minha vida


Aqui estou de avental, em frente ao computador, a beber uma cerveja enquanto faço uma pausa das lidas da casa. A minha namorada trabalha durante o dia e eu, como desempregado, tenho de ser útil para alguma coisa. Acabei de lavar a louça e daqui a nada tenho de começar a pensar em fazer o jantar - isto porque já estou entediado visto que ontem fiz limpeza e fui às compras, por isso não me resta muito que fazer hoje. Assim ela chega e tem a refeição pronta no final de um longo dia de trabalho e eu tenho alguma companhia. Somos um verdadeiro casal do séc. XXI, adoptámos a inversão dos papéis de género. Só faltavam os catraios para ficar eu a tomar conta deles, mas para isso servem os animais de estimação.

Não é que me importe muito. Não considero, pelo menos num plano intelectual, que hajam papéis específicos para homens e para mulheres. Mas estaria a mentir se dissesse que não tenho o ego um bocado magoado. Primeiro é a questão de não conseguir arranjar um emprego em nada de jeito e mesmo em coisas de pouco jeito (até no Starbucks me disseram que não estavam a recrutar). E depois é muito difícil isto de um gajo se livrar do que aprendeu a vida inteira, incluindo a noção de que é suposto ser o homem a principal fonte de dinheiro para o seu lar.

Suponho que não me posso queixar muito. Por enquanto tenho um tecto por cima da cabeça. Tenho comida. E tenho uma cervejinha de vez em quando e até tabaco para fumar. E todo o tempo do mundo para escrever.

Pensando bem se calhar vejo é mais um episódio de 30 Rock.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº643)


Quando almoço sozinho, a parte mais saudável da minha refeição é a cerveja.

Yes I understand I cannot live on this land


Olha o tempo a encurtar e o desespero a alongar.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Tanatologia



Não gosto disto de se falar em 1ª, 2ª e 3ª idade. Parece que a humanidade faz parte da caixa de velocidades de um calhambeque qualquer e a embraiagem começa a dar de si.

Prefiro medir as fases da vida de uma pessoa através da sua posição perante a sua própria morte. Ainda é um trabalho em desenvolvimento, mas até agora consegui apurar as seguintes fases:


1ª Fase, entre os 0 e os 24 anos - Negação

'Deixar que me atem ao topo de um carro enquanto o meu amigo bêbedo o conduz para fazer o vídeo mais hilariante de sempre - Porque não?! Tomar um misterioso comprimido que um desconhecido de pupilas dilatadas me deu na discoteca sem me dar explicações - O quê, é suposto eu não me divertir numa festa? Ter sexo desprotegido com aquela espécie de híbrido entre ser humano e navalha ferrugenta - Que se lixe, estou há quase uma semana sem comer ninguém, mais um segundo e morro!'

Esta fase geralmente começa com o enfiar de dedos em buracos de tomada para ver o que acontece e termina com a experimentação de todo o tipo de estimulantes tóxicos ou sexuais para ver o que acontece. Existe durante este tempo uma pronunciada ignorância do que é a Morte e de que o próprio é também ele mortal.
Na minha opinião, é a fase mais perigosa mas também a mais gira. E não há nenhum membro pertencente a esta fase que não mereça um par de estalos.


2ª Fase, entre os 25 e os 35 anos- Aceitação

'Tenho mais que fazer com a minha vida.'

Começa-se aqui a ganhar alguma noção da mortalidade e portanto criam-se alguns objectivos estruturados na vida. Apesar disso, não se pensa muito na Morte porque ainda parece longínqua e começa-se a trabalhar, a casar, etc. Geralmente é aqui que as pessoas se começam a enganar de que a vida tem sentido. Mas é Sol de pouca dura, porque isso muda tudo na...


... 3ª Fase, entre os 36 e os 60 anos - Paranóia

'AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhHhhHHHHHhhhh!!!'

O mundo é o sítio mais perigoso do mundo. A única excepção é o mundo em que tu vives, que é mais perigoso ainda. Milhões de pessoas lá fora querem-te matar a ti, à tua família, animais de estimação, electrodomésticos e até à tua colecção de louça da Vista Alegre. Há vândalos na rua que estão atrás de ti em específico e têm o teu nome escrito numa das granadas que levam no bolso das calças.
Na verdade estás é a ficar velho e a aperceberes-te que isto daqui estar é algo finito e que o que vem é desconhecido e, muito provavelmente, infinito. Por isso agarras-te desesperadamente a pequenas acções que te dão maior segurança mas é apenas um falso sentimento de controlo sobre a tua mortalidade. A propósito, tens mesmo a certeza que trancaste bem a porta de casa? 


4ª Fase, a partir dos 61 anos - ...Aceitação?!...

'Foda-se, ainda estou vivo'

O teu corpo está velho e cansado e já não faz nada como é suposto. Foste perdendo o contacto de amigos e familiares - os que ainda estão vivos - e as pessoas que te rodeiam são na sua maioria chatas e entediantes.  Estás desejando morrer. Nunca mais chega a hora. Aliás, é só disso que tu e toda a gente que conheces falam... por isso até deve ser uma cena fixe. E se fores o próximo e ir embora vão ficar todos roídos de inveja, não era bom? E pode ser que aí descanses e não te tenhas mais que te ralar com nada. 
Já estás na recta final da vida e ninguém está à espera que sejas uma pessoa divertida, por isso mais vale aproveitar para ser misantropo agora que é socialmente aceite. E além disso, podes ser racista, sexista, fascista e todo o tipo de "istas" que quiseres que já toda a gente te desculpa por seres de uma geração anterior e mais ignorante.
Esta é a outra fase mais divertida. É para aproveitar enquanto dura.

Pseudologos


Eu de arco e flecha na mão e tu perguntas-me "Porque estás mascarado de alvo", não é que não te consiga enganar mas por vezes a verdade mostra-se em contrários dependendo de onde estejas. E acho que é justo dizer que eu estou longe. E é justo dizer que não me preocupo e que nunca me preocupei. E este peso que me acompanha nem o sinto nem à humilhação que nem lembro e que se evapora na minha forma de andar na rua. E prometo que um dia destes eu volto a ligar para combinar um café. E tudo vai ser como antes.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº642)


Tenho alguns tiques de leitura que não chegam a disléxicos mas mais que chegam para chatos. Por exemplo: ao fim de algumas décadas começa a tornar-se frustrante ler sempre "açorda" em vez de "acorda", principalmente quando se tem fome.

La llorona


Ela tinha ar triste. E eu preso desde sempre a uma atracção fatal por tudo quanto fosse tristeza. A ela agradou-lhe a forma como eu sorria até nos momentos mais tristes - era ao mesmo tempo a forma de segurar o barco e a resposta involuntária de um romântico sadomasoquista.

Fui eu quem te ensinou a fumar como se não houvesse amanhã e foste tu quem me mostrou como uma mulher pode chorar nua na cama... e que há tristezas que de tão tristes quase não chegam a ser bonitas. Éramos os dois artistas. Fazíamos arte do sofrimento que infligíamos e nos era infligido. E eu desde aí que nunca voltei a ser tão grande e bela arte. E tu?

Our lives are long but our flesh is gone


Tenho sempre dois lados opostos de mim em constante luta. Aquilo a que chamo de Eu é o meio termo entre os dois.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O Prometeus Moderno


Sei que há que chamar as coisas pelo seu nome, mas o teu nome é proibido por estas bandas. E ainda assim eu sobrevivi, por entre tiros de canhões e por cima de navalhas esticadas ao comprido pela estrada. Mas vê só o que fizeste de mim e o que de mim sobrou. Por se confirmar tudo sobre mim, calejam-me os pés e esfolam-se-me os pulsos.
Escrevo porque nunca te terei. Tento conquistar o fantasma de ti que habita no meu cérebro e que usa os vasos vazios de flores para assobiar canções de assombrar. Assim serei uma hipótese em desenvolvimento de um dia ser tudo aquilo que querias que eu fosse, apesar destas ruas serem de um sentido só e assim que alguém começa a andar não há volta atrás. E agora os cientistas do governo analisam-me e os seus entendidos relatórios diagnosticam-me de monstro inofensivo com um fraco por limonada e céus claros.
E canta o ditador da janela enquanto chovem bandeiras queimadas do céu: Isto é o que acontece quando nos deixamos levar pelo coração.

Pensamentos Divergentes (nº317)


um reino feito lençóis enrolados
e uma vida oca para usar,
estas ruas podem ser boas para passear mas
nesta cama ainda há muito por viajar.

Dolce & Gabbana


Existe um tipo de gaja que só por ser esse tipo de gaja pensa que pode conquistar qualquer gajo. Estão habituadas a tratamento especial por serem consideradas bonitas e então acreditam que qualquer tipo de contacto com elas deve ser considerado um privilégio por parte dos homens.

De vez em quando confronto-me com esse tipo de gaja e o resultado é sempre o mesmo. Olham para mim e, com razão, presumem que eu sou um rapaz um bocado cromo e que não percebe muito de mulheres nem tem grande contacto com elas. E quando falam comigo esperam que eu tome imediato interesse, por muito desinteressante que a sua conversa ou elas próprias sejam. Pensam que não é preciso ter personalidade ou lábia para se tornarem apelativas e ficam ofendidas e chateadas por eu me aborrecer com elas. Não sei se o choque que demonstram é de incredulidade para com a minha atitude ou se é algum impacto que isso lhes causa na auto-estima, mas acabo sempre por ser retratado como um gajo rude e estranho.

Não me levem a mal, eu adoro falar com pessoas e conhecer pessoas. Mas não tenho paciência para conversas da treta sem substância nenhuma e o enorme prazer que me dá estar com pessoas com personalidade faz com que eu não tenha tempo na minha vida para desperdiçar com indivíduos com menos carisma que a sola de um sapato. Mesmo que o sapato seja da Dolce & Gabbana.

domingo, 2 de setembro de 2012

I swore I'd never take anyone there again


Mostrar e dar só me é difícil por medo de não saber se encontrarei retorno.

O gajo mais chato e anormal do mundo

Fui exibir à minha Sobrinha de 7 anos, que é viciada em tatuagens temporárias, a minha tatuagem temporária no ombro de uma linda borboleta.

Sobrinha (olhos arregalados) - É daquelas temporárias?
Eu - Não!
Sobrinha - A minha é.
Eu - A minha também!
Sobrinha - ... Daquelas que vêm num papel?
Eu - Não!
Sobrinha - A minha foi.
Eu - A minha também!
Sobrinha - ... Veio num Bollycao? 
Eu - Não!
Sobrinha - A minha veio.
Eu - A minha também!

Bilhete


É um jogo estúpido este de ter de escrever palavras de coisas começadas pela mesma letra. E tenho de admitir derrota e fingir burrice quando olho para a minha página e todas as linhas têm o teu nome.

Os padrões repetem-se e não há como escapar deles. E tu apaixonas-te de formas diferentes por gente diferente naquilo que parece ser todas as semanas. E por isso deixei-te uma nota escondida entre as páginas do teu livro favorito. Diz "Quando chegará a minha vez?".

sábado, 1 de setembro de 2012

Não tão longe


Agora que pude parar um bocado e pensar na vida, assusta-me um bocado. Passei uma semana a trabalhar, fazendo algo que adoro, sem qualquer garantia do futuro. É estar entre esta fome de ter mais e a possibilidade de nunca ter oportunidade de a saciar.

Pensando bem, que se foda. Foi espetacular nos bons momentos e espetacular no maus também. E é isso que eu quero poder dizer da minha vida quando ela findar.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº641)


A minha ideia não é deixar de ser estúpido mas sim ter uma estupidez de sucesso. Talvez seja esse o problema.

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