Tal como muitos dos meus compatriotas, eu também acho que o povo português é um povo manso. Há algo na nossa cultura que terá borbulhado da nossa profunda religiosidade cristã e dos nossos tempos de ditadura e que nos faz acreditar que é suposto estarmos em sofrimento e que isso até é algo bom. E por isso é difícil que o povo se revolte contra quem o trata mal, porque no fundo nós até achamos que merecemos ser castigados.
Dito isso, há um ponto de limite para tudo. Todos os dias tento manter-me atento à conversas de ruas e cafés, aos meios de comunicação e aos blogues, facebooks e comentários de edições online de jornais, e sente-se um incrível aumento de tensão. Parece que foi o recente aumento das medidas de austeridade anunciadas por Pedro Passos Coelho que desarmonizou a balança e que começou a fazer com que as pessoas realmente comecem a perder a paciência.
E é assim que me surpreendo que tão cedo após essas medidas e após avaliação da Troika Vitor Gaspar venha admitir que vêm aí novas medidas de austeridade que incluem cortes nas pensões e aumento de impostos. Surpreende-me não porque tenha algum tipo de ilusão sobre a razoabilidade deste governo mas sim porque isto demonstra ignorância ou total despreocupação com a crescente revolta no coração dos portugueses. É que os animais mansos, quando chegam ao ponto de estalo, libertam toda a selvajaria contida de uma vez só, o que é muito perigoso para quem se encontra à volta. E alguns de nós levamos tanta raiva no peito e tão pouca capacidade de auto-controlo que há o real perigo de as coisas deixarem de ser pacíficas.
Vem aí manifestação no próximo dia 15. Tenham cuidado - todos vocês.
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