segunda-feira, 17 de março de 2014

Pensamentos Divergentes (nº 339)


Este universo
é quase todo
feito de nada.

Ainda assim,
eu rebolo até ti
e tu até mim.

O sentido das coisas,
é elas não fazerem nenhum
E mesmo assim,
a sua repetição ser encontrada.

domingo, 16 de março de 2014

Camisa de noite


Por entre os dedos dos pés, é onde começa.
Mas a chama acende e sobe pelas veias. Vai às cavalitas até morrer pela ganância das alturas.
E eu enterro-a na minha cabeça. Coloco as cinzas numa caixa de sapatos e faço-lhe um pequeno funeral entre as paredes do meu crânio, para que todas as noites me acorde em sonhos a galope - um post-it de adrenalina para me lembrar que podia estar morto.

A vida tem mangas curtas para os meus braços.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Fechado na sala


Sempre que abro as janelas, fecho as portas a um romance.
As duas só sonham em estar juntas. E eu, asmático de amor em solidão, insisto em quebrar o namoro com muros de ar e som.
Devia acorrentá-las uma à outra. Mas nunca acreditei em finais felizes. E podia dar-se a tragédia de os escrever.

terça-feira, 4 de março de 2014

Pensamentos Divergentes (nº 338)


Dou graças a deus, Mulher
por estas cotoveladas de felicidade que me fazes sentir sem aviso.
Fosse deixado aos meus próprios estratagemas sem outro afazer,
e nunca teria descoberto o tédio
como o mais elevado prazer.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Books of lies stacked either side


Aconteça o que acontecer, espero manter a minha compostura enquanto faço um espectáculo do meu inevitável esgotamento nervoso.

domingo, 2 de março de 2014

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº663)


Cheguei ao fim de um dia de trabalho à minha rua. Dez da noite. Um vizinho deu-me o cêntimo de conversa habitual. Perguntou-me como ia tudo. Em vez de responder com a constatação "Mais um dia", saiu-me "Menos um dia".
Estou a ficar velho.

Pepitas de fome


"Há amor aqui" disse o velho.

"Há amor aqui para nos inundar, uma veia de amor por descobrir".

Mineiro. 
De amor. 
Escava o seu buraco na terra até não ver um palmo à frente dos seus senis olhos por acreditar que o amor é cego.

E eu, canário de ilusões, a única coisa que faço é musicar inspiração. 
Até ao dia.

Tivesse braços, pegaria eu próprio na picareta.

E matava o velho antes que fosse tarde demais.

Ponto de luz


Da quarta vez que falámos um com o outro, preparei-me para a tua inevitável morte.

Da quinta, para a minha.

São coisas que acontecem quando levamos toda a nossa idade à cintura. Faz parte da migração natural dos anos.
Primeiro, pesam-nos nos pés e começamos a andar neles, espezinhando-os à vontade.
No fim, levamo-los todos às costas e curvamo-nos perante as evidências.
Mas pelo meio... pelo meio fazemos tudo para que o futuro não cresça. Como se soubéssemos que nunca mais a nossa vida iria estar tão perfeitamente centrada.

Ainda me lembro das vezes que testei a hipótese até descobrir que foder não bastava para levar à minha aniquilação total. Que aqueles breves momentos de inexistência profunda seriam sempre passageiros - à procura de estação.

E se eu fosse mais como tu, também seria essa traça auto-imolada correndo atrás de si própria. Cada bater de asa reanimando o interior em brasa, extinguindo-se a si mesma.
Uma vida curta e luminosa. Como é suposto as vidas serem.

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