quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O som das coisas


A estupidez faz um som idêntico ao de uma lagosta afónica a cantar La Traviatta em dó menor. Tão certo como um primeiro beijo soar a uma música inédita dos Beatles em hi-fi, ou a morte fazer o estrondo de um eco que ecoa silêncio absoluto.
As coisas têm tendência para fazer um som característico que outra não consegue replicar. Por exemplo, eu posso estar a tentar aprender beatbox, mas por muito que treine só consigo soar ligeiramente parecido a um completo anormal. Por agora só consigo fazer barulho de idiota. Ainda assim, estou certo que se me estivesse a ouvir de fora, bateria - em mim próprio.

Daí a minha surpresa quando encontro algo em absoluto silêncio. Como quando ainda vou a meio de uma cerveja e percebo que já estou a precisar da próxima. Porque a pressa, ou melhor a ansiedade, do que pode vir não faz som. É como um relâmpago à distância que se vê antes do seu refilar chegar até nós. É um triste oráculo em cinema mudo que nos faz a exposição dramática de tudo menos do que está realmente a acontecer.

E é por isso que o amanhã é o afogar do galope dos sonhos; o atirar paus em lume às cavernas do desconhecido à espera que os ursos do futuro saiam para nos atacar as ânsias. E o ano novo é o maior dos amanhãs que alguma vez existiu. Porque nunca vem e sempre que nunca vem fá-lo sem aviso. É, diria, como um texto sovina que não sabemos se nos acaba por recusar dar-nos o obséquio de um maldito ponto final

0 comentários:

Sesguidores