quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Estou longe


Não ando aqui a escrever porque ando a trabalhar à experiência num sítio. E além do mais ando a visitar apartamentos para me mudar de sítio e a encontrar-me com diversos amigos de variados sítios do mundo e no final do dia estou exausto. Este fim-de-semana falamos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº640)


Não interessa se é esparguete, bife ou até mesmo puré de batata - é mais fácil comer à mão porque dá menos trabalho lavar as mãos do que lavar a loiça. 

domingo, 26 de agosto de 2012

Pensamentos Divergentes (nº316)


Quem és tu,
ó homem de largos vícios,
para me apontares o dedo a supostas infidelidades sociais
Fazes pequenos comícios por baixo de umbrais
expondo sacrilégios e outros que tais
afirmando-te detentor da verdadeira moral.

Pensas que não sei
que entre conversas sobre perversão
andas a encornar a tua triste e gasta mulher, que só o é a dias
Andas louco de tesão e há impulsos que não adias
e as pessoas para ti são só serventias
da tua mal disfarçada perversidade bestial.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº639)


A chamada escrita inteligente do meu telemóvel ou tem pouco de inteligente ou tem tanto que se torna subversiva. Várias são as vezes em que escrevo algo em ligeira distracção para reparar mais tarde em pequenas surpresas.
A instância que me convenceu de que há algo de conspiratório e de espírito de sabotagem no funcionamento da máquina deu-se ainda agora, trocando sms's com a minha namorada a propósito do que ainda precisávamos de comprar a caminho de casa - afinal de contas Sábado de manhã é manhã de comer uma tigela de cereais à frente dos desenhos-animados e acabou-se-nos o leite. E foi assim que de alguma forma a frase "Era mesmo isso que eu queria comprar" transformou-se na frase "Era mesmo isso que eu Jerusalém comprar". Que eu, pessoalmente, interpreto como uma declaração de guerra.
Qual Matrix e qual Exterminador Implacável. É assim que começará a batalha decisiva entre humanos e máquinas, que é a forma como começam todas as guerras - com mesquinhez, problemas de comunicação, e uns tons religiosos à mistura. Agora se me dão licença está na hora de eu retaliar e vou aproveitar alguma flatulência para passear com o telemóvel no bolso de trás das calças.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Later on, in the epilogue, without me


Sempre dividido entre o desejo de fazer parte de algo e o desejo do caos.

Costume


O tecto branco, a luz pela janela, o zumbido do relógio electrónico no canto da sala. A vizinha lá fora carrega com a dificuldade do costume os sacos das compras do dia, feitas na mercearia lá de baixo. O colchão da cama a arrefecer a cada momento que passa.
Lembro-me de quando deixaste de pôr açúcar no café, dizendo em tom de graça que era por me teres conhecido e de eu ser doce que chegue para ti. Mas os hábitos mantêm-se e continuavas a mexer o café com a colher. Ou era só porque sabias o que mexia comigo quando levavas a colher à boca para provar o café antes do primeiro sorvo? Sempre dado não a medo dele escaldar mas à cautela do choque da intensidade do sabor, como quem testa a água com o pé antes de entrar. Os hábitos mantêm-se e continuo à espera de te encontrar aqui. O colchão da cama a arrefecer a cada momento que passa. E parecendo que não, passa.
Faz mais de duas horas, menos de uma eternidade - algures pelo meio. E eu sem jeito nenhum para me desacostumar do amor.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº637)


A cena é que geralmente eu até sou um gajo relativamente extrovertido, mas em entrevistas de emprego torno-me num autêntico totó.


I'm taking one step forward and three steps back


Primeiro preciso deixar a sombra tomar posse. Depois só é preciso deixá-la passar. Agora é arregaçar as mangas e voltar a pôr mãos à obra.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Voltarei


Sei que te preocupam estes humores que se apoderam de mim e que me levam para longe - de ti e de tudo que me queira bem - Quando o meu espírito apanha um comboio anónimo em direcção ao fim do ruído e não mostra intenções de regressar. E poderias fazer serras inteiras dos vales e montanhas de cálidas palavras e gestos que produzes, mas nada do que digas ou faças me consegue trazer de volta deste coma de dormência que me encobre o peito e os dedos que antes pareceram tão emocionáveis e prontos a fazer cantar os toques do corpo e da alma. E a verdade é que o te incomoda é aquilo que rodeamos sem falar realmente, dando voltas em seu torno e esperando que eventualmente passe pois até agora houve sempre um momento de retorno: que a única coisa maior que esta minha vontade de morrer é esta minha vontade de viver. Mas é por pouco. Mais pouco do que te deixa respirar.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº636)


Não sou eu que sou bipolar - é mesmo a minha vida que tem altos e baixos muito acentuados. E eu nunca gostei de montanhas russas.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº635)


Parece que todas as minhas ex-namoradas são agora mulheres profissionais com carreiras de nível e usam o seu tempo livre para viajar pelo mundo e fazer coisas que gente interessante faz, enquanto que eu estou desempregado há meses e estou sem grandes perspectivas de sair dessa situação. E por isso elas até podem pensar que tinham razão quando me deram com os pés por eu ser um gajo idiota sem futuro mas enganam-se. Eu ainda lhes vou mostrar. Em breve, serei um homem de sucesso. Estou neste preciso momento a trabalhar numa aplicação (ideia original minha) para iPhone chamada Instaflan - patente pendente. É um programa que se pode usar para tirar fotografias e que de forma instantânea, através de complexos algoritmos, usa um filtro para substituir a cabeça das pessoas por pudim flan. Ficarei rico à conta de hipsters que estão dispostos a pagar dinheiro para praticar o seu sentido de ironia, o que me permitirá a reforma aos 26 anos e tornar-me objecto de inveja de toda a gente. Até o Zuckerberg me enviará um convite para ser amigo dele no Facebook e eu vou simplesmente responder "Agora não" que é o que toda a gente me diz agora quando tento arranjar trabalho. 

"We were wrong about you"


Não não, está tudo bem, o dia está lindo, e a minha vida é um espectáculo.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº634)


Eu costumava querer foder tudo quanto mexia, mas depois percebi que sou preguiçoso demais para andar atrás de alvos móveis.


(estou ciente de que aproveitei mal este post para fazer uma piada qualquer em relação ao Pedro Mexia, mas verdade seja dita tanto eu como vocês sabemos que não só não conseguiria fazer uma boa piada à volta disso como maior parte das pessoas que aqui vêm não saberia de quem raios eu estou a falar e, aliás, neste momento nem eu sei de quem raios eu estou a falar e que raio de piada podia eu fazer)

Estratégia


Joguei jogos cujas regras desconhecia e cada movimento foi dado em torno do teu olhar. E essa tua língua que é ora doce ora amarga torna-me a mim réptil - mudo de pele para me ajustar e caber dentro do meu próprio desejo. Quero uma cama violenta em que te possa pegar fogo, converter-te em cinzas, inalar-te por inteiro, e livrar-me de ti de uma vez por todas. Para ver se paras de me arrastar em correntes o estômago. Eu nunca quis saber de pecado. Isto é guerra.

domingo, 19 de agosto de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº633)


Era para escrever aqui algo de grande significado mas bebi demais para conseguir fazer algum tipo de sentido.

A sabedoria dos mais pequenos


Estava a conversar com a minha sobrinha sob o olhar mecânico de uma câmera de filmar. Por achar piada à ideia, pedi-lhe que deixasse para o registo cinematográfico uma mensagem para uma versão futura de si própria. Uma mensagem qualquer que ela quisesse deixar para uma ela bastante anos mais velha do que aquilo que é agora. Para ela poderia ser algo giro de ver quando fosse mais crescida e para mim... bem, para mim não há melhor nostalgia que a nostalgia futura - demonstra o mais puro optimismo do presente.

Após largos segundos de reflexão diante da objectiva da câmera, pareceu decidir o que fazer.  Meteu a língua de fora e soprou, fazendo um barulho flatulento e lançando perdigotos por todo o lado.

A mim também me pareceu a acção mais adequada.

Arranjar mulheres não é comigo, mas piadas de mau gosto é

O R a queixar-se sobre a falta de romance na sua vida

R - Mas porque é que elas não caem do céu?
Eu - ... Onde estavas tu quando as torres caíram?

sábado, 18 de agosto de 2012

Foda-se! (nº80)

Umas noites atrás no bar

D - No outro dia pensei na tua forma de conduzir.
Eu - Ui, então? Antes que digas o que quer que seja eu admito que não conduzo lá muito bem.
D - Não é isso.
Eu - Então é o quê?
D - É que conduzes da mesma maneira que vives.
Eu - Bem, devo pedir outra cerveja?
D - Vais no meio do caos e só dás atenção a coisas que só te dificultam ainda mais a chegada ao destino - no caso do carro estares sempre a mudar a música do rádio; no caso da vida são outras coisas.
Eu - Boa noite, até amanhã.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Primeiras páginas de mais um livro que nunca irei terminar


Às 17:23 de uma Quarta-Feira, Joaquim Rodrigues contemplava os seus tormentos existenciais sentado num dos primeiros degraus da escadaria de uma igreja. Ao mesmo tempo, a cerca de 6 metros de distância, um pombo cinzento contemplava qual das suas patas seria a mais indicada para iniciar a sua locomoção bípede – a presença de humanos indicava geralmente a hipótese de encontrar algumas deliciosas migalhas de alimentos não identificados e uma aproximação costuma recompensar apesar dos elevados riscos. Além do mais, não estava a ter muita sorte nas suas tentativas de conquista das fêmeas residentes na sua zona e demonstrações da sua habilidade em recolher alimentos poderia deixá-las mais susceptíveis para o acasalamento. A ligeiramente dramática ironia de este pombo em particular ser infértil poderia ser por alguns considerada de quase cómica, mas infelizmente tal humorismo passaria totalmente ao lado do dito pombo. Não pelo facto de os pombos serem marcadamente estúpidos, mas antes porque os pombos não têm grande sentido de humor e por isso é raro que alguém aproveite a oportunidade de estabelecer um diálogo amigável com um deles. 

Eventualmente o pombo cinzento iniciou a sua tímida marcha, marcada por constantes sinais afirmativos realizados com a cabeça a cada passo dado. “Sim, ok, é isto. Sim, boa, agora é esta pata. Sim, sim é mesmo a outra que devo usar agora. Boa, outra pata para a frente, sim” foram alguns dos pensamentos que lhe ocorreram. À semelhança do pombo, Joaquim Rodrigues, conhecido por Quim, também tinha a necessidade e o hábito de nervosamente arranjar justificações para cada uma das suas acções, reconfortando-se vigorosamente com o facto de ter tomado todas as decisões certas na altura certa apesar de essas mesmas decisões consistentemente provarem ser prejudiciais para si mesmo no final. Sempre tirou boas notas na escola e nunca causou problemas para ninguém – não que tal fosse possível pois a socialização com os seus pares era considerada como um detrimento para o seu sucesso escolar. Entrou para um curso de engenharia com alta empregabilidade numa universidade respeitada, tal como sempre foi o desejo dos seus pais, até que no último ano de formação teve um esgotamento nervoso que o paralisou academicamente. Segundo o que ele descobrira recentemente, para sua grande surpresa, não é suposto ataques de pânico fazerem parte do dia-a-dia de uma pessoa e aparentemente não eram todos os outros que se mostravam absurda e inexplicavelmente indiferentes e relaxados com todos os problemas e frustrações intelectuais que se acumulavam durante as semanas mas sim ele que levava as coisas com demasiada ansiedade. 

E é mais ou menos aqui que terminam as semelhanças entre Joaquim e o pombo cinzento, pois as preocupações do pombo são substancialmente mais significativas que as de Joaquim. Enquanto que as preocupações do pombo andam à volta da propagação do seu código genético e da validade deste para a melhoria da sua espécie, Joaquim preocupa-se apenas com o que irá fazer agora com a sua vida. A continuação no ensino superior está de momento fora de questão pois parece apenas agravar a sua condição e os dias mostram-se vagos e aborrecidos. Não só existe a medicamente recomendada evasão de qualquer acontecimento que possa deixá-lo ansioso como simplesmente não pode usufruir do entretenimento resultante da companhia de outros membros da sua espécie pois não tem amigos nem conhece pessoas que desejem partilhar da sua companhia. Não que isso lhe servisse de muito. O contacto com os outros deixa-o sempre algo ansioso e não conseguia ultrapassar esse nervosismo. Era como se os outros lhe fossem completos alienígenas.

I've played dumb when I knew better, tried too hard just to be clever


Expões-te nua e verdadeira para que todos vejam quem realmente és. Vai por mim, isso nunca acaba bem.

Pensamentos Divergentes (nº315)


o meu guarda nocturno mais parece um bezerro
tudo o que ele diz tem cara de enterro
e só eu é que o ouço nas horas vazias,
tem o hábito de desfazer-me as mentiras
"nunca mais chega a hora de nos irmos embora,
ando há anos a brincar com a bala.
e o bebé chora, o bebé chora
- mas porque é que não se cala"

mãe tinhas razão mas não te dei ouvidos
fazem-se neste mundo os que o fazem à volta dos umbigos
e eu ando para aqui a berrar sobre o meu bocado,
quando eu devia mas é ter ficado calado.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Prolonga e prolonga e prolonga


Sei que nunca mais quererás voltar. Esta cidade tem por hábito agarrar quem não quer cá ficar. E o medo de não conseguir sair e viver esta vida que ela impõe é maior que a distância que nos separa. E há tanto para recordar aqui e tão pouco que queiras recordar. Foi nesta cidade que demos o nosso primeiro beijo e que descobriste que o fumo do meu tabaco faz os olhos arder entre suspiros de um amor que já morreu. E todos os sonhos aqui já desapareceram, só nos resta descobrir o que há mais além.
Evitamos as ruas como se estivessem a arder porque nunca mais nos queremos reencontrar e porque nunca mais nos queremos confrontar com as pessoas que fomos e as pessoas que aqui conhecemos. E as paredes sabem tudo sobre nós e não há um beco escuro que chegue para alguém se esconder, sob o ataque de olhos que se escondem em rostos familiares.
Isto não é o meu pedido para voltares para mim. É apenas a constatação de um fim que se prolonga e prolonga e prolonga. E que será de nós se não pudermos não ser nós?

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Pensamentos Divergentes (nº314)


Dois pés desfigurados
e o ímpeto de encontrar balanço num plano imperfeito:
foram essas as coisas com que entrei neste mundo para nele caminhar.

As minhas primeiras explorações foram tímidas e lentas,
ossos do ofício de quem aprende a transportar-se num veículo coxo
que rapidamente se habitua a intimidar por olhos menos generosos.

(Não me falem da pureza das crianças,
o que há de mais puro numa criança eu senti no próprio corpo
naquelas brincadeiras de recreio que se alongam quando não há adultos por perto.
Com a pele marcada
e roupa despida à força no pátio
fui uma criança precoce:
ainda no início da escola tinha aprendido tudo sobre humilhação,
e não tardei muito a tentar aprender a arte da invisibilidade
e da desaparição.
Chegou-se então à conclusão que havia algo de errado comigo
por ser tão tímido e tão pouco social com as outras crianças
e ter mais interesse em livros do que em conviver com os meus pares.)

Pediste-me há um tempo imemorável
que te contasse tudo sobre mim que eu nunca contei a mais ninguém.
Nem sempre faço aquilo que me pedem. Segundo a minha memória foi assim que aconteceu.

Blink for one second and the whole world pass you by


Não sei se é só a súbita mudança de tempo. Mas o dia de hoje prenuncia o fim de si próprio.

Carta aos leitores que se preocupam


Hoje choveu pela primeira vez em bastante tempo. Não sei se é a nostalgia trazida pelo já esquecido cheiro a terra molhada ou se a pluralidade de cervejas que me trazem esta sinceridade. A verdade é que não tenho muito a dizer. 
Andamos aqui, eu e tu, através das coisas que escrevo e que lês, a criar uma sintonia de dores como se isso nos aproximasse um do outro e da humanidade em geral. Estou certo que é essa ilusão que ambos perseguimos e que é por isso que nos mantemos juntos. Pois nada do que eu digo é novo, ou pelo menos novo para ti. Vens para ouvir o eco do que já sabes: uma reafirmação de ti próprio e do que sentes. Não poderei excluir a possibilidade de seres apenas um sádico voyeurista que apenas aqui aparece para contar a horas até ao momento do meu último e inevitável esgotamento nervoso - mas prefiro pensar que não é só isso. Perdoa-me se por isso estou de facto a dar-me muito às ilusões, mas um rapaz como eu não sobrevive até onde eu sobrevivi sem se dar por vezes a esse luxo.
E sei que é provável que apesar deste meu ténue véu de anonimato por trás do qual me escondo, ou precisamente por causa dele mesmo, tu até sintas que quase me conheces. Que somos mais do mesmo ou que estamos solidários nesta solidão em silêncio partilhada - consoante as tuas preferências e visões filosóficas em relação à existência humana. Mas ouve quando eu te digo que eu não sou nada. Sou apenas eu, como tu és apenas tu, sem nada que se apresente de fora de comum. Sou um tipo. E apesar de muito apreciar e precisar da tua companhia e, vamos ser sinceros, da tua paciência... tu não estás cá a fazer nada.
Nada ganhas aqui que não ganharias de forma mais substancial lendo o que interessa. Não te aconselharei livros ou autores, mas podes pegar em qualquer um dos grandes clássicos que o teu tempo será certamente melhor aproveitado. E mais ganharias em companhia de outros e conversando (mas conversando como deve ser) com indivíduos que circulam pela tua vida e que nada têm de metafísico. Além do mais poupavas a vista, que bem sabemos - graças à nossa mãezinha ou paizinho - que isto de ler a partir do computador não é a melhor das ideias.
Não quero com isto afastar-te, que é coisa que já muitas vezes tentei fazer. Para ser absolutamente sincero, uma grande parte de mim quer-te aqui comigo e sente a necessidade de ter com quem partilhar estas coisas que me surgem e me incomodam. Isto é só um conselho para acalmar a minha consciência, não vá estar a enganar-te e a fazer perder o teu tempo quando podias estar a viver.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Pensamentos Divergentes (nº314) - Processo criativo


Encantando, por vezes, mesmo sem coloração
as bruxarias agarradas por temporária adoração
desleixando as... Não. Não. Não, não. Que se foda. Não.
- Uhh... que é que estás a fazer?
- Não. Vai-te te foder. Não. Já chega. Recuso-me. Não.
- ... Onde vais?
- Fode-te. Vou-me embora. É demais. Chega. Não, não, não.
- Mas qual é o problema?
- O problema és tu. Fartei-me. Que é esta merda?
- Uhh...
- Só rimas com "ão"? A sério?
- Não vejo qual o proble-
- Vai-te foder.
- Se o problema é esse, não é preciso rimar... também não é coisa que eu faça assim tanto...
- Hermenêutica.
- Ãn?
- Ias usar a palavra "hermenêutica" num poema.
- ... Sim...
- Tens mesmo a mania que és intelectual, não é?
- ... Não...
- Mentiroso de merda. Que se foda. Desisto.
- Podíamos não fazer isto à frente das pessoas?
- Que se foda. Merecem saber. Que é esta merda? A sério? E tem de ser tudo deprimente contigo também, pá!
- Nem sempre...
- "Nem sempre" o caralho! E se fosses antes pela milionésima vez embebedar-te e ver o Big Lebowski? É patético à mesma mas ao menos assim divertias-te.
- Queria fazer algo mais útil...
- E isto é útil? Foda-se.
- Vá não te chateies...
- Foda-se meu... porque é que me fazes isto?
- Pronto... desculpa. Foi sem intenção.
- Snif.
- Queres ir ouvir Buddy Wakefield juntos? Só nós os dois.
- Sem seres pretensioso?
- Sem ser pretensioso.
- Prometes?
- Prometo.
- Ok...
- Pazes feitas?
- ... Pazes feitas.

Procuradores


Toda a gente sabe o que pode esperar de ti. Como é assim, também tu sabes o que podes esperar de ti. Ainda assim andas a espreitar em todo o tipo de sítios por alguma surpresa, algo que vá contra as tuas expectativas e de encontro com as tuas expectativas de um mundo que se vire do avesso. A caixa do correio, a sola do sapato, as pequenas notas e mensagens gravadas nas paredes e mobília das ruas das cidades, os olhos de um desconhecido: tudo pequenas promessas de uma vida por realizar. Pequenas esperanças a que te agarras simplesmente para não deixar de acreditar que tudo pode mudar a qualquer instante. Para pessoas como tu, deverás estar ciente, há sempre o real perigo de confundir pequenos detalhes construtores de um melhor entendimento da realidade com portais de sonhos ilusórios que te afastam sucessivamente dela. E para pessoas como tu, como certamente já sabes, isso não interessa nem tem o mínimo de importância. Mas isto são só conversas sem consequência. Não há nada aqui para encontrar.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Separation is divine


Se passares tempo suficiente a tentar fugir às armadilhas de uma vida casual encontras mais gente a caminhar no mesmo sentido que tu. E bem feitas as coisas, podem estar separados juntos.

domingo, 12 de agosto de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº632)


Não sei se as raparigas bonitas do meu tempo de escola se tornaram mesmo menos atraentes nos últimos 10 anos ou se era só eu naquela idade que as via mais bonitas do que eram.

sábado, 11 de agosto de 2012

Um homem não é de ferro

Caixa de supermercado a tentar pagar com o cartão

Eu - ...
Rapariga - Não está a ler. Tem de meter tudo lá dentro.
Eu (contendo-me) - ...
Rapariga - Tem de enfiar lá mesmo até ao fundo. Só quando ouvir o "clic" é que dá.
Eu (ai) - Assim?...
Rapariga - Isso, meta-o todo. Se não, não funciona.
Eu (pronto) - Juro que isto nunca me aconteceu antes.

Não achou piada nenhuma.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Café de circunstância


- Já farta. Não há paciência para as parvoíces da Raquel. Não aguento mais aquelas conversas estúpidas e mesmo que não lhe dê conversa ela continua e continua e continua, bolas pá! Não percebe que ninguém está interessado só quer é falar ela e pronto.
- Sabes quem é que eu me cruzei ontem?
- E no outro dia fomos beber um café e ela não se calava com o Johnny. Que ele é isto e aquilo e é espetacular e... e sei lá que mais. Mas que ele não lhe liga nenhum e é uma coitadinha e anda a sofrer muito do coração. Que gaja tão pieguinhas, pá! Não suporto gente assim.
- Por falar nisso, sabes quem é que eu me cruzei ontem?
- O Johnny é giro de morrer, é verdade, mas também não é muito mais que isso. Mas engatatão como ele é e comendo uma bimba diferente todas as noites a Raquel deve estar mesmo a pensar que ele há-de olhar duas vezes para ela. Devia era deixar-se de merdas e fazer-se mais forte que assim como ela é também ninguém há-de gostar dela.
- ...
- Já me stressei só de estar para aqui a falar disto. Tens um isqueiro ou assim?
- Não.
- Estavas-me a perguntar alguma coisa há pouco?
- Ninguém.
- Quê?!
- Nada.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº631)


Hoje dei por mim a usar cópias do meu CV para rabiscos e para outras coisas danificadoras do documento e que envolvem animais de estimação.

Estou fodido.

A principal razão pela qual tenho medo das mulheres


Se passivo-agressividade fosse um evento olímpico, a maioria das mulheres tinha qualificação para entrar.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Confissões do Facebook


Não sei que tens ouvido dizer sobre mim. Também não há muito a contar. Confirmaram-se todas as suspeitas dos tempos de escola e de camaradagem forçada, da minha inutilidade e da perseguição de becos sem saída. Daquela minha coisa em que eu parecia não ser capaz  de me encaixar em lado algum. Nisso estou igual, não mudei. Continuo à procura de um lugar no mundo, continuo com piadas parvas sem graça nenhuma e com as mesmas noções e paixões que outrora achaste estranhas. Pode-se até dizer que não cresci. Que estagnei - se quiseres falar de forma mais sofisticada nestas curtas transacções entre dois adultos curiosos que conheceram versões passadas de si mesmos. Não faço grande coisa, pelo menos nada que seja de interesse. Por isso não tenho tema de conversa. E quanto a saudosismo... esgotei-o há muito tempo atrás, sentindo a falta de um melhor futuro. No presente não lamento separações feitas de boa vontade. Guardo lamentos para as que ficam a meio, assim esse ficar a meio como tu dirias que eu fiquei.

You are a flighty one whose nature is so transgressive


Isso do livre arbítrio já nem devia entrar em discussão. Eu, pelo menos, não o tenho. O que tenho é um gajo dentro de mim que não conheço e que toma todas as decisões por mim e me obriga a levá-las a cabo por ele.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº630)


Descoberta revolucionária do dia: com as condições certas e a porta aberta, consigo estar sentado na sanita e ver o ecrã do meu computador. Nada voltará a ser como antes.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº629)


Perdoem-me este meu constante cinismo, sarcasmo, depressão e angustia existencial. É que têm de perceber que grande parte da formação da minha identidade deu-se nos anos 90. Isto no meu tempo era fixe.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Foda-se! (nº79)


Estou convencido que não se trata só de falta de tacto. Tenho a certeza que por vezes o meu pai faz de propósito para me embaraçar. Como quando o levei pela primeira vez a um restaurante japonês e fomos atendidos por uma empregada asiática.

Empregada: Olá boa noite. Para beber?
Pai: UMA. GARRAFA. DE VINHO. MATEUS ROSÉ! SE. FAZ. FAVOR.
Eu: ...
Empregada: ... Muito bem. Mais alguma coisa?
Pai: UMA GARRAFA DE ÁGUA. MEIO-LITRO.
Eu (foda-se)
Empregada: ... É tudo?
Pai: SIM. MUITO OBRIGADO.

A sua única defesa foi "E como é que era suposto eu saber se ela falava português e me percebia ou não?"

So I reach, but it hurts


Estou à procura de melhores alternativas. Para uma boa vida.

E-mail que recebi agora mesmo


Olá T. Daqui é a tua Musa... lembras-te de mim?

Não te vou aqui incomodar com as caóticas particularidades da nossa relação embora, como deves calcular, já começa a fartar este nosso romance de toca-e-foge em que me usas e abandonas a teu belo-prazer. E também não me agrada que simplesmente me escolhas ignorar quando não te é conveniente ou quando és demasiado preguiçoso para saber que se passa comigo. Bem, não interessa, já comecei a divagar - tudo isto são pontos de discussão válidos mas são para outra altura.

Ouve... eu sei que sempre tiveste a tendência para ficar aborrecido comigo. E eu sei que também não sou o epítome da estabilidade e isso não ajuda. Mas não te chateies com o que te vou dizer... é que acho que alguém tem de ser honesto contigo para te ajudar. É que... tu não és lá grande coisa.

Espero que não estejas já a choramingar. Bem sei que na melhor das hipóteses começas logo a dizer que estás farto de saber que és uma merda e que nunca vais ser nada de jeito - mas deixa-me chegar até ao fim.
Tu não és nada de jeito mas até fazes algumas coisas giras... de vez em quando. Se trabalhasses um pouco mais nisso aposto que terias melhores resultados e no fim ficávamos os dois mais satisfeitos. E sei que motivação não é contigo principalmente agora que andas com problemas pessoais e além do mais estás incapaz de arranjar oportunidade de emprego por mais entrevistas a que vás. Mas se calhar está na altura de tentares investir um pouco em ti e naquilo que queres, não?

Já estou à espera que depois disto amues e decidas passar uns dias sem me querer ver. Continuo mesmo assim com esperança de que aquilo que disse tenha algum efeito. Entretanto, fico à tua espera.

Sempre tua (mais ou menos),
Musa.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº628)


A única coisa que ainda me safa é existir tanta gente que confunde arrogância e humor depreciativo com carisma.

Empatias


Deixa-me adivinhar: procuras por um lugar no mundo. Talvez tenhas até chegado à conclusão que não há um lugar para ti no mundo e portanto, após anos de conformismo para com o teu terrível e no entanto banal destino, decidiste tentar criar tu um lugar para ti no mundo. E talvez até já tenhas passado por várias tentativas, nenhuma delas dando o resultado desejado mas todas melhores que a alternativa de nada fazer.
Corrige-me se estiver errado. É que parece-me que toda a gente que lê este blog é igual a mim. E isso até assusta.

Distracção


Pelos vistos tinha imensas perguntas para responder no meu formspring e só agora reparei. Peço desculpa para os poucos interessados nisso, mas se quiserem já lá têm coisas novas.

I only play act for-real


Bom dia.

Menos tarde que parece


Não cobrei esta mão de pedras para não ter de as ir apanhar uma a uma depois de as atirar. E se eu vejo que pouco mais me resta dizes-me não é assim; há muito mais para ainda se ver. E depois - andamos nessa conversa há tanto tempo, gerações de relógios se passaram no meu pulso desde o princípio e parece estar tudo no mesmo. Sussurram-me ao ouvido estas aranhas de palavras, monótonas mas sedutoras, escondidas por trás das orelhas, procurando-me mover tu sabes que sempre foi assim. E eu vou escondendo de ti segredos sobre mim. Porque nem me apercebo que vivo. Porque a minha vida é só isto. Frustração e páginas e páginas e páginas de texto que nunca mais irei ler.

domingo, 5 de agosto de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº627)


Eu não sou o gajo mais perspicaz do mundo, mas acho que é sinal que preciso de dormir mais horas quando telefono a um amigo meu enquanto acendo um cigarro e acabo por levar o cigarro ao ouvido quando atendem a chamada.

Pensar duas vezes


Ia aqui escrever algo de cáustico. Decidi deixar para mais tarde. Tempo para isso não me falta. Vou antes beber uma cerveja e fumar um cigarro. Pode ser que depois escreva algo que não me mande abaixo a fé pelo mundo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Pensamentos Divergentes (nº313)


enquanto o silêncio entrava pela porta
pelas frestas da porta
pelas pequenas frestas da porta
irritantes inquietudes de sólidos 
comprometidos pela impossibilidade da separação de tudo que não nós dois
eu olhei para ti
e o teu olhar no abismo
lá no fim do mundo
e eu sem te conseguir alcançar
mas e daí há sempre a possibilidade de nos encontrarmos no final da periferia
e perguntei se gostarias de mim assim para sempre

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Terra firme


Diz-me para me sentar. Que de tanto estar em pé me devo estar a cansar e assim fico mais confortável. Calhou na fortuna das circunstâncias que o único lugar disponível seja perto dela; é uma tentativa ou talvez mesmo um pedido, por ora incompreensível, de proximidade - como quem não se apercebe da incomensurável distância que se entala por entre nós independente dos lugares que de momento habitamos. Não se trata da diferença entre as idades (que não é assim tanta). É antes a diferença entre as vontades e entre nossos pequenos elfos internos, condutores do desejo e das razões de viver. E é verdade que esse meu coração é vaidoso e facilmente seduzido pela hipótese de existir alguém que goste de mim. É a minha maior fraqueza, essa filha do desamor que sinto por mim mesmo. E por isso não é por crueldade ou frieza que recuso o convite mas sim pelo conforto de saber quem sou. Ser gostado seria o mesmo que perder-me em súbita indefinição. Prefiro ficar de pé, obrigado.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº626)


Eu tenho mesmo jeito é para fazer pouco de mim, mas nem isso posso usar para ganhar a vida porque não tirei o curso no Chapitô.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº625)


Para os jovens que me lêem, deixo aqui o seguinte aviso. Eventualmente chegas a uma altura em que reencontras por acaso colegas de escola ou da tua universidade que irão tentar vender-te esquemas de pirâmide. 

No room to live in open air


Não fosse o meu talento para me meter dentro da minha cabeça e não conseguiria sobreviver cá fora.

Pensamentos Divergentes (nº312) - Paneleiro


para que não haja confusão,
quando te chamo de panasca, picolho ou paneleiro
é um recurso que, apesar de deveras foleiro,
uso somente para tua irritação

é que ao contrário de ti eu não creio
ser vergonha ou insulto algum
gostar de uma pila na boca ou no cu
- uso isso apenas como um fim que justifica o vulgar meio
pelo prazer que me dá ver o teu receio
de ver em ti um retrato nu
que bem tentas esconder de ti próprio e dos teus colegas de recreio.

por isso saco desse suposto insulto,
como quem tira roupa do teu armário,
confirmando o teu carácter primário
quando o teu ignorante preconceito te deixa assim bruto

se chupar pila te ofende por te dar nojo só de pensar
deixo-te aqui um pequeno conselho:
arranja um gajo armado até ao joelho
que te escove da boca toda a porcaria que dizes no bar

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Pensamentos Divergentes (nº311)


A bravura rebolava-nos pela língua:
naves espaciais fugindo das bordas de buracos negros,
para dizer coisas tão estúpidas e banais que só poderiam ser pedras seminais de amizade sem esqueleto.
Olha para todo meu poder!
Olha como,
munido apenas dos meus sapatos,
consigo andar por cima destes cacos de vidro
enquanto fazemos da falta de balanço uma dança tão quebrada como as esperanças que ainda haveríamos de partilhar.
Onde estás tu agora
e porque não bebemos um copo como antes,
sem tristezas do presente
porque apesar do presente
um dia fomos sirenes de ambulância
ecoando pelas ruas em brilhantes tons de azul e vermelho
ricocheteando entre as paredes dos prédios
como minúsculos duendes que brincam por entre as inalações de Deus.

Pensamentos Divergentes (nº311)


Invejo-te a claridade da morte
, e não é que eu queira morrer,
mas para quem está vivo tudo se ofusca
e tu não estás cá para ver
toda a tua gente em festa
esforçando-se por ignorar
tudo o que realmente lhes habita
num longínquo ultramar.

Tudo isto eu te diria a esta hora
se estivesses eu vivo, agora.

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