sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Processador criativo


- Lá estás tu novamente.
- Uh?
- Em frente a um ecrã, com uma folha artificial meio vazia a tentar despejar para aí alguma coisa.
- Ah.
- Só comunicas por grunhidos, como um neandertal. Como é que queres escrever alguma coisa com sentido?
- Estou distraído. Estou-me a tentar concentrar. Larga.
- "Mim não quer. Ir embora agora. Larga." É assim que tu soas, percebes? Nem constróis frases inteiras, pareces um telegrama. Estás a tentar poupar semântica para a escrita, não?
- Talvez.
- Bah. Nem sei porquê tanto esforço. Mais vale divertires-te com o que fazes. Se não andas aí às voltas em possíveis metáforas numa estória com um final pouco resoluto e que quase ninguém percebe, muito menos tu.
- Como a vida real, portanto?
- Olha para ele com ar triunfante. Se calhar devias guardar mais ironia pseudointelectual para a página, não?
- Era para me divertir, não era? Então deixa-me fazê-lo à minha maneira ainda que pareça tolo.
- À vontade.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

And I plead


Apenas quero fogo nos teus olhos de me ver. Tanto me dá que seja de amor ou de ódio. O que interessa é arder.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Onomatomeia Clac Delírio



- Clac



- Clac



- Clac


A última anterior à quarta.

- Clac.

Sou metódico no vício de não pensar. De entreter os meus tambores de nervoso enquanto decoro o cérebro com souvenires de nada, fragmentos de azul e verde que duram o soluço de um segundo.

Acrobata do tédio. Domador de inúteis. Supra-sumo ditador de tudo o que me escapa ao controlo, espero pelo assobio da dinamite que guardam os ossos da minha mão. Aguardo anatomicamente impaciente pelo estalo daquela porta que nunca fecha e que se faz de castanhola com a corrente da casa onde não moro.

E quem perceba a linguagem dos tiques e dos toques de emoção não sabida, ouvirá a minha oração.

Dá-me algo para me esquecer que dentro da minha cabeça o mundo será sempre melhor que o que está lá fora.

Pensamentos Divergentes (nº330)


Ando a tentar viver sem rodinhas de apoio
e pedalar a vida como quem olha para a frente e só para a frente
no equilíbrio de quem finge saber para onde se dirige e que sabe que fingir é a melhor forma de lá chegar.

Ando a tentar acreditar que somos mais do que estas matrículas de dor que nos fazem ver uns aos outros
"lá vai a rapariga dos mil corações destroçados,
lá vai aquele dos lençóis molhados
e o outro que do futuro só os dedos lhe sussurram o vazio de dias que não devolvem a chamada".

Porque quero ser mais do que o rapaz que lia estórias sozinho
para em solidão descobrir com quem poder conviver.
E mais do que o homem que escreve em solitário sem Ás no baralho nem caneta que espada lhe possa valer.

Ando a ver se dos meus braços se pode fazer violoncelo.
E se ao fazê-lo algo mais terei a perder.

domingo, 11 de agosto de 2013

Causa


Trazias guerra na boca quando entraste. Os teus dentes suavemente delapidando palavras em males-menores. Ventos de negra fé vestindo-te o corpo.

E nos teus olhos, a biologia do medo a que alguns chamam de Amor.

Ela é o Fim. A máxima entropia da tentação. O segundo final do soldado que se rende à espada.

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