domingo, 2 de março de 2014

Ponto de luz


Da quarta vez que falámos um com o outro, preparei-me para a tua inevitável morte.

Da quinta, para a minha.

São coisas que acontecem quando levamos toda a nossa idade à cintura. Faz parte da migração natural dos anos.
Primeiro, pesam-nos nos pés e começamos a andar neles, espezinhando-os à vontade.
No fim, levamo-los todos às costas e curvamo-nos perante as evidências.
Mas pelo meio... pelo meio fazemos tudo para que o futuro não cresça. Como se soubéssemos que nunca mais a nossa vida iria estar tão perfeitamente centrada.

Ainda me lembro das vezes que testei a hipótese até descobrir que foder não bastava para levar à minha aniquilação total. Que aqueles breves momentos de inexistência profunda seriam sempre passageiros - à procura de estação.

E se eu fosse mais como tu, também seria essa traça auto-imolada correndo atrás de si própria. Cada bater de asa reanimando o interior em brasa, extinguindo-se a si mesma.
Uma vida curta e luminosa. Como é suposto as vidas serem.

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