terça-feira, 24 de julho de 2012

Homenzisses



Ser homem implica um conjunto de coisas, algumas delas desagradáveis. Por exemplo, fazer a barba é um bocado chato. Mas não nos podemos queixar muito - afinal de contas, a maioria das mulheres faz depilação, coisa que aparenta ser um processo digno das técnicas de interrogação implementadas pelo governo da Coreia do Norte. 

Chato mesmo chato é precisamente não nos podermos queixar muito. É aquela coisa de um homem ter de ser forte e todos nós confundirmos ser forte com não ter fraquezas. E o esquema até está bem estruturado, visto que quando um rapaz mostra fraqueza os outros rapazes, e mesmo as raparigas, certificam-se de o chamar à atenção de forma a que não se repita. É um mecanismo auto-regulador que vai para além da crueldade das crianças, já que os adultos fazem o mesmo uns com os outros e com os pequenos também.

O maior problema nisto tudo é que aquilo que consideramos como fraquezas num homem são coisas que até podem ser bem úteis - se não mesmo essenciais - mas que à força toda tentamos eliminar. Tais como demonstrações de qualquer tipo de emoção que não passe por alegria ou fanfarronice... Ou compaixão. É, com a compaixão é complicado.
É que compaixão não é lá muito coisa de homem. Preocupação e atenção com os outros é coisa de mulher, afinal é à mulher que cabe cuidar das outras pessoas (mas essa é outra história para outra altura). À custa disso, muito homem acaba por criar uma crosta de frieza para com esse tipo de prática. Chega-se até a fazer pouco dos males dos outros - afinal de contas, ser homem é nada fazer mossa e seguir sempre em frente; pensar nisso para quê.

Ando a tentar desaprender algumas coisas que aprendi. Aliás, parece que passo a minha vida adulta e renegar toda a educação que me foi dada (os meus pais, entre garfadas e entre notícias do telejornal, concordam com esta afirmação). E o mistério da compaixão ainda me dá alguns problemas. 
Aos poucos lá vou fazendo um esforço e o que descubro é que me sinto melhor assim apesar de alguns turbilhões internos ao quais não sei bem o que fazer devido à falta de prática. Ando então a ver se me deixo de ser o homem que os outros acham que assim é que é homem. A ver se assim me torno num homem à séria.

4 comentários:

maria joão moreira disse...

pela imagem que se projecta nas tuas palavras, acho que já o serás! mas fazes bem em continuar, podemos sempre melhorar, não é? força nessa empreitada!

T disse...

Obrigado.

. disse...

às vezes penso nisso como um processo de humanização. isto de um gajo ser sacana a tempo inteiro tem consequências desastrosas quando nos apaixonamos a sério e falta a capacidade de demonstrar sentimentos. é um equilíbrio lixado de obter.

T disse...

*fist-bump*

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