terça-feira, 12 de junho de 2012

Geração fim-de-alfabeto


Proponho-vos algo diferente. Proponho que sejamos carne para canhão. 

Já se disse tudo ou quase tudo o que se podia dizer sobre a situação económica do país e sobre a geração a que eu pertenço. Mas, por medo da ansiedade e maior desespero que isso pode suscitar, não queremos realçar o facto de que a denominada Geração Perdida o seja porque já não tem salvação.
A verdade é que o país não vai mudar amanhã. Nem depois de amanhã ou no dia a seguir a esse. Tampouco os seus habitantes ou a sua mentalidade. O sistema está viciado, o dinheiro não vai aparecer do nada, oportunidades de emprego não vão aparecer do nada e o tal do Sol não brilhará tão cedo. Torna-se evidente que a maioria de nós, como juventude, está condenada a ficar para trás, a ser uma casualidade de mais um evento histórico do nosso país. Seremos se não um futuro facto para ser considerado banalmente na mesa de jantar ou num café bebido de uma chávena de uma louça tão conformista como a que temos hoje em dia.
Proponho que nos deixemos de eufemismos. Quando sairmos à rua e quando escrevermos ou falarmos sobre a nossa condição, aceitemos aquilo que somos - uma geração mal usada e deitada fora. Somos só um vergonhoso elo de ligação entre duas melhores épocas que calharam fora do nosso tempo. Desistiram de nós antes de nos deixarem desistirmos de nós mesmos e por isso somos carne para canhão. Toda a gente já o sabe e quem não o quer ver precisa de se confrontar com o poder das palavras certas e com a realidade de uma década de vidas que irão para a sarjeta por motivos que nunca estiveram sob o seu controlo. Carne para canhão.

Costumo suceder nos meus esforços para terminar estes textos de uma forma um pouco mais optimista. Desta vez não tenho tal coisa para oferecer.

0 comentários:

Sesguidores