domingo, 3 de junho de 2012

Carta aos fantasmas


Perguntas-me se eu não quero ir beber um café. Meter a conversa em dia e conviver como nos tempos de antigamente; que tens saudades e há tempos que não nos vemos. Como se ainda fossemos amigos. Como se tivesse existido apenas uma incompatibilidade de horários por parte de ambos e não um desencontro amoroso em que um de nós ficou, na altura, mais ou menos a perder. E eu sei (e desconfio que tu também o sabes) que é tudo uma tentativa de reconciliação - não comigo mas com as imagens que tens de quem foste e de quem és. Fazendo-te a vontade, eu não seria se não uma ferramenta para ti; para te sentires melhor com as escolhas que fizeste, que todos nós fazemos. Parecendo que não, eu compreendo - não és o primeiro espectro que me contacta do Além. Chega uma altura em que sentimos a tentação de nos agarrarmos a alguém do passado para fazer sentido da nossa existência. Mas a diferença entre nós é que eu não adio os meus lutos. Tentei agarrar-te quando te senti a morrer de mim. E quando senti que querias morrer de mim tive de te deixar ir e seguir com a minha vida. E na minha vida existe quem eu quero e quem me quis - não cometi esses tropeções casuais que agora consideras momentaneamente poderem ter sido erros. Por isso não me venhas assombrar, que eu ainda vivo.

3 comentários:

Teresa Margarida Costa disse...

Perfeito :) Se não fosse por ter prometido enterrar tudo, pedia-te emprestado. Está exatamente o que é preciso dizer ;)

Jelysa disse...

Oh meu.. Era mesmo isto que eu precisava de ler.

mi disse...

gostei gostei gostei :)

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