segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Morte como Musa



Não imagino, para a maior parte de nós que constituem a nossa humilde espécie, maior tédio que o tédio de viver para sempre. É verdade que, para uns quantos de curiosos iluminados, o aborrecimento de existir sem o constante pairar de um término fatal poderia ser estancado, nem que temporariamente, pela vontade de conhecer e explorar mais, o que se tornaria bastante útil visto que o conhecimento perfeito é impossível ou pelo menos inconcebível no nosso presente estado. Mas para a maioria, uma eternidade a viver seria uma eternidade sem nada a fazer. É talvez aquilo em que os profundamente religiosos, sem o saber, mais acertam - o desejo de morrer para finalmente se verem livres da sua miserável existência.

Os motivos contra a execução da imortalidade são já um lugar-comum e muitos melhores que eu o explicaram detalhada e poeticamente antes de eu ter tido a oportunidade de pegar num papel e numa caneta. Ainda assim, a natureza humana é a de procurar a imortalidade, seja ela literal ou figurativa, e o desenvolvimento científico aproxima-nos cada vez mais ao momento mais significativo da história da humanidade: Viver para sempre ou não?
A não ser que o progresso científico que temos vindo a viver nos últimos séculos seja abruptamente atrasado, será um momento inevitável. Ainda que não procurássemos uma alternativa à morte de forma activa, o mais certo seria tropeçar nela mais tarde ou mais cedo durante uma investigação aparentemente não relacionada. Acontece constantemente.

A minha preocupação vai para além das questões éticas centrais a este futuro momento. É que temo que uma imortalidade factual possa levar à extinção da procura de uma imortalidade metafórica. Temo o que seria da arte, da escrita e da música sem o constante bafejar do Ceifeiro nos seus pescoços. Não digo que deixassem necessariamente de existir por completo - a necessidade de expressão e da catarse através da libertação artística é inerente à nossa natureza e além do mais uma vida eterna necessita de ser entretida com tudo aquilo de que nos possamos auxiliar. Não, o meu medo é outro. É que se deixe de fazer arte com O Desespero. Porque o desespero, para mim, é belo.

3 comentários:

je suis...noir disse...

não viver para sempre mas viver enquanto se vive...

(o desespero não é belo:( e repara na grafia da palavra. eu não percebo disso mas reparo. há-de querer significar algo o "des- ESPERO", não?!)

* e tem a ver com imortalidade; o esperar...

T disse...

Possuimos ou conceitos diferentes de beleza ou temos preferências diferentes.

je suis...noir disse...

talvez as duas coisas. talvez nenhuma... a maior parte das coisas depende das circunstâncias.acho que "estamos em circuntâncias" diferentes.

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