sábado, 10 de outubro de 2009

Hoje, Setúbal

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Setúbal. Merda, como eu odeio esta cidade. Os prédios decadentes, esclorosados, apoiados em muletas. Merda, odeio mesmo Setúbal.
O meu pai é de lá, bem como a minha família do lado paterno. Fui lá em criança, várias vezes e já na altura abominava o sítio.

Até a porcaria do hospital é especialmente mais deplorável que os outros hospitais que já conheci (vou tentar lembrar-me de não dizer mal do da minha cidade durante uns tempos).
Acompanhei o meu pai, não quis que fosse sozinho ver o pai dele que está internado depois do AVC. Está lá, atirado na cama como um trapo amorfo, uma figura em barro desfigurada que se assemelha apenas vagamente àquilo que já foi. Onde está o teu acordeão agora? Para onde foi a tua voz sempre forte e confiante, como se o mundo já tivesse sido derrotado há incontáveis épocas atrás?

Odeio Setúbal, foda-se. Odeio as tensões sanguíneas dos membros de uma família que nunca se souberam aturar, quanto muito dar. Hoje fiz de psicólogo, de mediador e de apaziguador para várias pessoas e estou de rastos.

E eu, eu gostava de um dia fazer as pazes com Setúbal. Desagrada-me não gostar de uma cidade só porque sim e há-de ter muito mais para me oferecer do que eu tenho consciência.
Mas é possível que a nossa relação já não tenha cura.

2 comentários:

Ana disse...

É engraçado como conseguimos não gostar da(quela) cidade, odiar-lhe os caminhos, os becos escuros, os jardins mortos ou os prédios sem alma. Na verdade odiamos é o que lá aconteceu, o que lá vivemos e nos deixou um pouco mais tristes, mais sós ou mais exaustos.
Por exemplo, eu com Edimburgo tenho uma relação de amor-ódio. Passei por coisas muito difíies aqui e em alturas menos boas eu odeio esta cidade. É claro que em alturas melhores até gosto e vejo-lhe as qualidades.
Talvez, então, o problma não seja Setúbal, mas outros assuntos, mas talvez já saibas isso :)

T disse...

Por alguma razão a maioria das analogias que faço à cidade fazem na verdade alusão a coisas mais pessoais =P

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