Saiu à rua para "apanhar ar". Quem já conhece o seu dicionário, sabe que ele na verdade vai encher de névoa os pulmões e a mente.
Acendeu o seu remédio para a ansiedade social e inspirou fundo. Os dias começavam a pesar-lhe cada vez mais; o passar das folhas do calendário caem-lhe em cima como pesos de chumbo.
Receou e receia que esteja nas últimas, que a fera que o ameaça engolir há tanto tempo esteja prestes a cerrar os dentes à sua volta, como um cobertor de pesadelos.
"Deve estar para breve."
Pensou na sua própria figura encostada à parede, à porta do café habitual. Sentiu que podiam tirar mil fotografias àquela rua, que em todas elas ele esteria ali, consigo mesmo, a fumar um cigarro.
Atirou a beata para o chão.
E a beata lá ficou, estendida na pedra, a consumir-se com o seu próprio fogo.
E ele lá ficou, estendido na pedra, a consumir-se com o seu próprio fogo.
0 comentários:
Enviar um comentário