domingo, 22 de março de 2009

Pensamentos Divergentes (nº37)

Chego à estação.
Nunca tenho a certeza absoluta de qual é a linha que devo tomar, mesmo quando tenho a certeza absoluta de qual é a linha que devo tomar. Tenho de viver em constante nervosismo, verificando visual e mentalmente o número no qual é suposto eu embargar. Irrita-me viver, mesmo que seja apenas por breves minutos de espera, como se um passo em falso pudesse revelar-se desastroso.
Uma mão cheia de sombras solitárias vagueiam esperando por carruagens que as levarão para longe, como futuros fantasmas daquele espaço. Existindo apenas numa ofuscada retrospectiva.
Pergunto-me se também eu não existo apenas em retrospectiva. O melhor é não pensar nisso, não agora.
O meu comboio chega. Ao entrar lembro-me do quanto detesto sentir-me sujeito aos olhares de quem já se encontra na carruagem seleccionada. Nada que um lugar a sós, perto da janela, e uma boa selecção de faixas no leitor de mp3 não cure. É com rapidez que me encerro nos meus pensamentos e fantasias e esqueço que existe um preocupante mundo fora de mim. Às vezes sinto-me precisamente assim. Um prisioneiro por vontade própria, vendo o mundo lá fora através de uma perspectiva limitada, enquanto um mecanismo externo determina os cenários. Mas o melhor é não pensar nisso agora.
E não, desta vez não vou pegar no meu bloco de textos e rascunhos. Nesta viagem quero existir apenas, sem acção nem consequência.
Pela janela observo paisagens já familiares, mas ainda fascinantes. É raro eu encontrar algo que consiga ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Durante o caminho vejo estações nas quais saí por engano no passado. Alguns desses enganos revelaram-se bastante proveitosos… mas aí eu estava bem acompanhado. Não é esse o caso neste preciso momento. Vejo ainda tantas outras estações nas quais eu gostaria de ter saído. Deixei sempre para mais tarde, para “uma loucura tardia em que não tenha que fazer ou esteja de melhor humor”. Como se a espontaneidade se marcasse no calendário ou na agenda do coração.
Sinto-me sem direcção. Não sei para onde é suposto este comboio ir, nunca soube. Mas é melhor não pensar nisso, vou-me deixar levar.

3 comentários:

No more clothes disse...

Leio sempre tudo no teu blog e só os pensamentos divergentes não consigo comentar..... nunca sei o que dizer.

T disse...

É a minha área menos comentada. Não sei é o que isso significa.

Anónimo disse...

significa que não somos mesmo nada "filosóficos". queremos dizer algo tão belo ou sincero como o que escreveste mas nada vem á cabeça. No entanto fica aqui a elogio. e continua. apesar de não comentar muito, leio sempre :)

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