quarta-feira, 14 de setembro de 2022

(puxa os atacadores
olha a audiência)

num palco de dor pronto a salivar
a dança que faço é uma chave que se contorce

tc-tc-trac

é medo que me move?
ou um holofote de enxaquecas de falsas revelações/
não gosto de amarras
mas o seu conforto dá descanso ao maxilar

(faz uma vénia
observa o horizonte final)

sei tudo num momento

e o momento foi-se.

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Densamentos Pivergentes

Saudades 

    de fumar

de não vestir um fato que disfarça um facto,

                 a consciência livre ,

    de que cada segundo de existência 

é ridículo.

            É no reflexo da morte que me vejo mais lúcido.


Que egoísmo.


        Viver para lá da insignificância

para usufruir de mais um amor, mais uma amizade, mais um copo.


                        Como tudo devia ter acabado antes do começar.

 

Porque depois do começar

                    já só há um infinito.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

cada palavra que alguma vez disseste
é um condutor solitário.

mãos no volante e linhas verticais no horizonte,
pedal a fundo, luzes rubi,
cantando desde criança como se fosse oração

"queria estar noutro lugar que não aqui".

desde sempre que a água me chegava aos pés e parecia que afogava.
não havia salpico que não merecesse pânico.
uma constante sensação de um terror iminente, com noites sem dormida num quarto sem guarida.
é que alguns de nós saem do ventre e só conhecem o esventrar. cotoveladas de amor pelo caminho, cantigas de carinho no focinho e um punhado de sonhos para constelar. 

e não é minha natureza. mas juro por tudo.

queria amar-vos a todos.
amar-vos como se ama e como alguns amam sem pensar.
amar como se respira, como se fosse intuição e sem que eu tenha de me ensinar.

amar como se fosse fácil.
como se fosse. inevitável.

mas o meu coração foi afagado em cimento
por homens com mais calos que eu e que usam máquinas em constante movimento.
e os dedos que uso são os dedos que escrevo,
mas dedos não chegam para escavar o pavimento
quando os joelhos esfolam no chão e todos vão olhar e ver só o não cabimento.

queria estar noutro lugar que não aqui.
não ter no sentimento esta lixa nem este rancor.
talvez aí pudesse estar ser melhor.

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