sexta-feira, 19 de novembro de 2021

não há guerra que traves que não tenha um trago a doçura

e eu aqui sem nada para oferecer se não linhas de costura num rosa fluorescente

vibrando em dores antigas disfarçadas de sabedoria - temporariamente


mas tu vais ver em breve

que tudo o que o tempo leve

nunca foi teu realmente

e não vale a pena fazer frente

porque o que eles dizem não se escreve


quarta-feira, 17 de novembro de 2021

quem é este que escreve

que não te via há tanto tempo

estás velho

e esse tumor no cérebro que antes seria uma egocêntrica metáfora

e agora é apenas um diagnóstico?

está tudo bem

mas nunca esteve bem

diz-me lá, quem fazes de conta ser

fugindo deste que ainda, ocasionalmente, te assombra

qual de nós o real

e qual o funcional?

está tudo como tem de ser

e tu vais sobreviver

revisitas porquê o fantasmas?

precisas de velhos mecanismos de defesa?

"é porque pensas demais"

"é porque bebes demais"

"é porque não cuidas da tua cabeça"

queres abrir a porta, jorrar tudo para fora, ver o que as palavras te trazem quando as enxovalhas e as arrastas por cima do teu ser, para ver no papel o que elas tiraram de ti e te observares ao microscópio porque foi a única forma que descobriste de te descobrir - como um carimbo de angústia no qual te debruças para ver se é mesmo em angústia que escreves ou se é algo mais.


mas basta isto. isto para que te odeies. para ver o narcísico em ti. a herança que não queres.


não te queres sentir esperto.

não te queres sentir maior.

quem é este que escreve.

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