sábado, 13 de dezembro de 2014

O espelho


Contam-se pelos dedos o número de ossos que parti a esmurrar paredes. E tua cara lá pintada a vermelho, beijando em mudo as tuas eternas palavras. Um ódio que cresce, mas não aparece - a velha história do costume, com duas pernas que lhe falham e uma memória que já não é o que era. Para que fique acordado à espera de esquecer esta indigestão de sonhos. Este ouriço-cacheiro de lutas à flor da pele.

Deixa-me como a meia solitária no canto do quarto. Como o depósito de vinho barato no fundo do copo. Lançando desejos às costas de camelos para atravessar o Deserto que Sara deixou.



terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Pensamentos Divergentes (nº343)


um ódio à medida na boca
o aperitivo ideal para o prato principal
drogas, mulheres e um punhado de nada
tudo o que me possa manter no centro da estrada

ó, vê como os pássaros fazem pouco
de ti, de mim e de um azul sem fim
enquanto o turismo do amor engorda a cada dia
um revólver com apenas uma bala como seu guia

mas os dias acabam em pandeireta
só se ouve o fim quando ninguém toca

A(u)ditivo


Semáforo. Luz. Passadeira. 

Ninguém dava por nada enquanto enviavas o teu amor em tanques de guerra fazendo marcha-atrás por toda a cidade. Tentando fazer piruetas só com os cotovelos e meio bolso de fé. Como as centopeias de palavras que te habitavam o cérebro. Como as senhas varridas do chão do supermercado. 
Como a primeira vez que sentiste que um beijo não tinha sido uma arma.

Todo o vazio à tua volta para te dizer aquilo que já sabias. Todos têm uma canção entre as orelhas que mais ninguém consegue ouvir. E o problema não é morrer sozinho. É não ter quem a oiça a tempo.

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