Não irei fazer de conta que estou revoltado com este país. Também não irei fazer de conta que estou surpreso com o que tem vindo e está a acontecer. E não irei, se quer, fazer de conta que tenho algum tipo de energia ou emoção disponíveis para com os comentários que se poderão tecer sobre o assunto.
É este o problema. Não é que já estejamos habituados, é que já estamos à espera que a coisa vá sempre dar a pior. E como não nos surpreendemos, não nos revoltamos. É simples na verdade: a vantagem de ter um povo pessimista e deprimido é que gasta todo o seu tempo a preparar-se para o pior. O que vier depois é só a confirmação do seu pessimismo e assim não há espaço para desilusões. Trata-se de um mecanismo de defesa que usamos colectivamente e que neste caso nos está a levar de mal a pior.
E é por isso que não nos espera uma revolução pela frente. Estamos todos à agarrar-nos ao mastro do barco e ver onde nos leva enquanto esperamos o fim da tempestade. Não há quem pegue na porra do leme do navio porque enquanto for só a tempestade a levar-nos contra as rochas então aí a culpa não é de ninguém. E nesta terra ninguém gosta de dar a cara, mesmo que em alto-mar.
4 comentários:
somos um país de conas moles. tenho dito.
Inclusivé nós que estamos para aqui a falar e a concordar, sem sair à rua...mas também não tenho pachorra para manifestações todas certinhas e revoltadinhas que se desfazem no ar.
*aliás, inclusivamente...
todas as formas de manifestação são válidas. nem que seja um simples post no facebook para mostrar indignação. é tudo uma forma de não ficarmos estúpidos.
a da rua, é que tem mais impacto, a que exige mais esforço, a mais real, a que mais assusta.
não acho que sejamos um povo pacífico. a meu ver, estamos a encher aos poucos até rebentar.
sábado estou lá para me manifestar e não é preciso incendiar carros alheios para o fazer.
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