quinta-feira, 20 de setembro de 2012

12º A


Por vezes, a nicotina que me mancha os dedos faz uma nódoa cuja forma é impressionantemente semelhante à silhueta da inutilidade. 
E então, frequentemente de copo na mão, dou por mim a pensar: talvez seja mesmo inútil. Talvez haja mais na vida para além desta sintética leveza de espírito trazida pelo álcool como forma de anestesiar uma angústia que neste momento me é estrangeira. Talvez haja mais nesta vida que seja possível alcançar sem ser à beira de um janela de um 12º andar, com nada mais nas mãos para segurar do que a casca vazia de uma passada esperança no futuro e uma futura frustração do passado. 
Eu nunca irei perceber a segurança e a sensatez de quem nunca desejou morrer. E eu sei que estas vertigens não são do medo da altura mas o medo do futuro decidir atirar-se para o abismo. Não é medo de cair mas medo de um eu de vir a atirar-se por vontade própria. 
Mas ultimamente tudo me dá vertigem. Ao contrário de mim, há quem não tenha nada a perder. Eu só me tenho a mim.

4 comentários:

Anónimo disse...

"Eu nunca irei perceber a segurança e a sensatez de quem nunca desejou morrer. " - nunca tive coragem de admitir isto a ninguém, mas partilho da mesma opinião.

Rui Pi disse...

Somos três a partilhar a mesma opinião. No entanto o meu desejo de morte, quase constante, é mais cientifico... é aquela curiosidade de saber o que é que há ou não há depois. E aquele nervoso miudinho de haver uma grande probabilidade de não andar aqui a fazer nada.

Diana Almeida disse...

http://24.media.tumblr.com/tumblr_m48m7qG7n31qednp7o1_500.jpg, 'Persona' [1966].

T disse...

Anónima: Acho que a maior parte partilha.

Rui Pi: Eu essa curiosidade não tenho. Estou quase certo que para lá não há nada semelhante a uma consciência. Quero mais viver o agora.

Diana: Muito bem dito.

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