Não estou apegado a nenhum partido político, não tenho credo nem tenho particular orgulho pelo curso que tirei ou pela universidade onde o tirei. Eu nem se quer tenho um clube de futebol predilecto e também não me faz muita diferença entre beber Coca-cola ou Pepsi. Também não me considero escritor ou poeta apesar de serem coisas que eu faço com alguma regularidade.
Eu no fundo não sou nada. Não uso grupos para me identificar como pessoa porque simplesmente não faz parte de mim - seja eu o que eu for - fazê-lo. Sei que não sei o que sou e que tentar nomear-me seria só um artifício. Sou apartidário da vida e não vejo mal nenhum nisso.
Consequentemente, no que toca a Portugal tanto posso pegar nele como largá-lo. Não me faria confusão fazermos parte de Espanha ou agregarmo-nos com ela para formar uma sociedade ibérica. Desde que não se percam os direitos dos seus cidadãos, a cultura ou a língua tanto me faz. Na verdade, pondo questões orwellianas de parte, até me parece bonita a ideia de uma nação global porque interessam-me mais as pessoas do que a localização geográfica onde calharam nascer.
Tentando resumir aquilo que estou a ter dificuldade em explicar: passamos a vida a ter o facilitismo em saber dizer tudo o que não somos. Mas dizer quem nós somos e o que nós somos é bem mais difícil. Daí que haja poder no acto de nos agarrarmos a identidades fáceis de digerir - por muito generalizadas que elas sejam. Eu podia ser benfiquista, podia ser cristão ou podia ser incapaz de beber Pepsi. E no fim ficaria só com uma ilusão de saber quem sou porque no fundo estas são coisas que nada dizem sobre o carácter de alguém.
Contento-me com a frustração de nunca saber e com a missão de passar o resto da minha vida a tentar fazê-lo. E já não me incomoda quando olham de lado para mim por aparentemente eu não me ralar com nada do que parece ser importante.
4 comentários:
Permite-me o elogio: gosto cada vez mais de te ler. Continua.
Às ordens.
que facada.
Há muita gente que acha que só tem valor se pertencer a um grupo com mais pessoas. E nada mais simples do que um grupo que, para lhe pertencer, basta nascer num dado pedaço de chão.
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