quarta-feira, 25 de julho de 2012

Dois filósofos no sofá


- Estás a fazê-lo outra vez.
- ... Hmm?
- Disse que estás a fazê-lo outra vez.
- ... O quê?
- A olhar para o nada.
- ... Como?
- Estás a dormir ou quê? Disse que estás outra vez a fazer aquela coisa em que ficas a olhar para a parede, a ver tudo a ficar embaçado como que à espera de te difundires na névoa e deixares de existir.
- Não, não. Não é isso.
- Olha que eu conheço-te bem.
- Estava só aqui a pensar.
- No quê?
- Estava a pensar que há milhões e milhões de partículas, sabes? E é como se fossem todas a sua própria coisa mas está tudo ligado e acaba por ser tudo o mesmo.
- ... Ah bom, então assim já faz sentido. Mas tu estás parvo ou quê?
- A sério, olha.
- ...
- Vês?
- Vejo que estás a ficar maluco ou que andaste a tomar alguma coisa às escondidas.
- Mas não vês?
- Mas não vejo o quê? Estás a abanar a mão como um tolo, e então?
- Se olhares com atenção vês que a mão parece estar em dois sítios ao mesmo tempo. A mão já não está no mesmo sítio mas durante um instante vês ainda o sítio onde estava quando já não está lá. Como se não conseguisses registar a mudança e saber a diferença.
- ... E então?
- E então se eu agora não estivesse aqui mas noutro lugar distante e invisível mas parecesse estar aqui ao mesmo tempo? E antes de conseguirmos registar isso eu já cá estivesse sem ter alguma vez saído daqui. E entretanto andei no éter, sendo eu e tudo o resto ao mesmo tempo, ou sendo nada até. E então se agora já cá estou outra vez sem me aperceber de estar também noutro lugar, em todo o lugar, ou em lugar nenhum?
- ... Passa aí as batatas.

2 comentários:

Anónimo disse...

This is brilliant.

T disse...

Passa as batatas.

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