Não leram mal o título. Por grande que seja o meu asco pelos políticos portugueses, em particular pelos das direita e mais particular ainda pelo Passos Coelho, numa coisa ele tem razão. Afinal de contas, até um relógio avariado dá as horas certas duas vezes por dia. E eu sei que vocês não estão a gostar nada de ler isto mas dêem-me uma oportunidade para explicar.
É que como se lê no Público Online " O primeiro-ministro apelou hoje aos portugueses para que adoptem uma “cultura de risco” e considerou que o desemprego não tem de ser encarado como negativo e pode ser “uma oportunidade para mudar de vida” ". Começando pela parte final, é uma estupidez dizer a alguém desempregado para não considerar o desemprego como algo negativo, embora no seu mais básico seja verdade que isso pode ser considerado como uma oportunidade para mudar de vida. Falta de empatia por parte do primeiro-ministro à parte, estou de acordo com a primeira parte da afirmação de que os portugueses têm de ter um outro tipo de atitude, particularmente os jovens.
Uma das coisas mais difíceis de aprender é a não viver dominados pelo nossos medos e inseguranças. É das mais difíceis porque passamos pelo menos as primeiras duas décadas formativas da nossa vida a aprender o oposto. A ter medo de tudo e mais alguma coisa e a jogarmos pelo seguro; a agarrarmo-nos ao que não nos magoa mas que também não nos recompensa. E é assim que os catraios ficam proibidos de subir aos muros, os adolescentes entram em bons cursos da universidade com "saída profissional" mas que não lhes interessam para nada e os adultos não têm confiança para seguir em frente esmagados por tudo o que lhes correu mal na vida.
Uma das coisas mais difíceis de aprender é a não viver dominados pelo nossos medos e inseguranças. É das mais difíceis porque passamos pelo menos as primeiras duas décadas formativas da nossa vida a aprender o oposto. A ter medo de tudo e mais alguma coisa e a jogarmos pelo seguro; a agarrarmo-nos ao que não nos magoa mas que também não nos recompensa. E é assim que os catraios ficam proibidos de subir aos muros, os adolescentes entram em bons cursos da universidade com "saída profissional" mas que não lhes interessam para nada e os adultos não têm confiança para seguir em frente esmagados por tudo o que lhes correu mal na vida.
Fazendo-se as coisas às direitas (ignorando o oximoro), ensinavam-nos que podíamos fazer as coisas mal e que errar não tem nada de errado. Mas parece que desde os Descobrimentos que Portugal se veio a tornar num povo cobardolas, muito por culpa das estirpe da direita. Fazendo-se isto bem, tinham-nos ensinado antes a seguir as nossas paixões e tolices e quando isso não corresse bem incentivar-nos-iam para continuar a lutar em vez de estar lá para dizer "Eu não te disse?" ou "Vês no que te foste meter?".
Tenho 26 anos. Estou desempregado há pouco tempo, muito menos que grande parte dos meus colegas e amigos. E sempre quis escrever e talvez um dia fazer disso a minha vida e só agora estou a aprender, aos poucochinhos, a tentar saltar por cima daquele medo que me diz sempre para desistir e que não vale a pena tentar. É que nem é preciso ficar à espera que os outros façam pouco de mim quando eu falhar - fui tão bem treinado que faço isso a mim próprio. E não há nada que eu tema mais do que passar por ridículo, mas como diz o 'Tuga, quem não arrisca não petisca e eu já me fartei de me fazer passar fome.
Tudo isto à parte, não é só o desempregado que tem de lutar. Têm de haver algumas condições externas (culturais ou económicas) que recebam ou amparem quem precisa e quer arriscar. E não é isso que o primeiro-ministro quer fazer. Por isso, para vocês que se deram ao trabalho de ler tudo respirarem de alívio, no final deste texto deixo esta frase: o hipócrita do primeiro-ministro que se arrisque a ir apanhar no cu.
6 comentários:
Que bom que aprendeste a palavra "cu"... sinto que aprendeste alguma coisa comigo :)
Falando seriamente, também ouvi as palavras do Sr. Ministro, e primeiro fiquei indignada, depois achei triste, e lá para o fim comecei a reagir. Acabo a concluir que, desde que esta pessoa abre a boca para falar ao país, nem sempre o que diz está errado, mas a maneira como o transmite é desastrosa.
Mas isso sou eu que não gosto dele e das ideias dele, nem à lei de bala.
O que aprendi contigo não foi a palavra cu foi a expressão "já não há cu para isso". Foda-se, se chegasse até hoje sem saber o que era cu estava bem tramado.
Pois, nem eu. Eu na verdade ia escrever um texto sobre este mesmo assunto mas fui primeiro ler as notícias e deu-se a coincidência de se interligarem. Achei que isto que ele disse merecia ser contemplado.
Gostei bastante deste texto. =)
E era o que eu comentava ontem cá por casa, o homem de facto até tem a sua razão, e é muito complicado alguém que andou a dedicar muito tempo da sua vida a uma área ou a uma profissão agora não ter outra opção a não ser mudar de rumo. A realidade actual é essa. Mas a questão aqui é que nós todos estamos a pagar a este senhor para arranjar soluções para este problema, por mais complexo que seja, e não para ter apenas uma atitude de "paciência, amanhem-se!" daí que concorde plenamente com a tua última frase. =P
é óbvio de que se pode tirar algo de bom em tudo o que acontece. aliás, essa é uma façanha bem portuguesa. eu posso partir uma perna e toda a gente sabe que é algo negativo mas posso sempre pensar "que sorte, podia ter partido as duas" ou dedicar-me seriamente ao pé-coxinho e ser campeão mundial. e só descobri o jeito para isso depois de partir a perna.
o problema com o desemprego, é que nem todos têm espírito empreendedor. quantas pessoas têm a capacidade de construir um plano de negócios e levantar uma empresa ou ser freelancer numa qualquer arte? quantas novas empresas vão declarar falência daqui a três anos?
estas palavras não são as que se esperam de um primeiro-ministro, talvez de um amigo ou de um familiar.
de um primeiro-ministro esperam-se ouvir soluções e só ouvimos "aumento de impostos", "desemprego é fixe" e "emigração para todos".
o problema é que temos pessoas muito bem formadas (em todas as áreas, de cima a baixo) que vão emigrar porque não querem ou não têm feitio para ser "one man band", depois de andar o país a investir na sua educação. daqui a uns anos, quando toda a gente se esquecer disto, vamos precisar dessas pessoas bem formadas, como acontece um pouco por toda a europa agora, e elas vão estar no caralho.
e quanto já perdemos em agricultura e indústria, no que sempre fomos bons, graças a políticas de merda?
começo a achar que uma solução espectacular para tudo isto era aumentar os ordenados aos membros do governo para termos lá pessoas realmente boas para o cargo e não apenas aquelas mais ou menos boas que arranjaram algo de positivo no seu desemprego.
e sim, ele que vá apanhar no cu.
Tens toda a razão. O mais ignorante no comentário dele é a afirmação aparentemente ingénua de querer mudar a cultura e o espírito de um povo inteiro da noite para o dia. Porque era preciso que as próprias organizações e o estado apoiassem pessoas empreendedoras que quisessem apostar no seu futuro em fosse o que fosse. E compreendo o que dizes de que deveria haver mais gente empreendedora mas não devia ser necessário que fosse toda a gente assim.
http://expresso.sapo.pt/dr-passos-coelho-nao-seria-o-desemprego-uma-oportunidade-para-si=f726583
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