segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Guerra (fria) Geracional



O mais irritante dos conflitos geracionais é que aquilo que as pessoas percebem sobre o que está subjacente ao dito conflito demonstra-se como constituído por mitos obviamente falsos ou por ignorância voluntária (que é a mais desprezível das ignorâncias, porque há várias e nem todas são assim tão más). Por parte dos jovens o exemplo mais reconhecível, particularmente nos adolescentes, é o tal de de que os mais velhos não sabem como é sentir-se como o adolescente em questão se sente. Apesar de logicamente dever ser óbvio que é pouco provável que tal seja o caso, poder-se-á desculpar o lapso pela emocionalidade e drama induzidos por overdose hormonal. O bom deste tipo de mitos por parte dos mais jovens é que tendem a desaparecer à medida que avançam na idade. O mau, é que existe sempre a necessidade de manter a superioridade e o estatuto moral, adoptando-se para tal novos mitos sobre as diferenças de idade.
Os mitos por parte dos adultos são os mais difíceis pois são largamente aprovados por "quem manda". E a parte pior é que nem é necessário ser um adolescente imberbe e cheio de acne para ser vítima deles, basta sermos os mais novos numa conversa em que haja um divergir de opiniões. E vou falar aqui daquele que pior me faz à alma.

Surge em várias formas, sendo as mais comuns "Quando chegares à minha idade vais perceber/Mais tarde quando cá chegares vais ver como eu tinha razão" entre outras. Conseguem ver a condescendência a espumar do ecrã do vosso computador? É precisamente esse o principal problema. É um atestado de incompetência sem justificação nem carimbo e com um manguito por assinatura. Além do mais, é uma forma de decepar a conversação através de um trunfo falacioso que uma vez posto na mesa o jogador já não retira - é uma forma inequívoca de mostrar que o diálogo terminou.
Não é que não haja solução para isto. Seria mais útil para todos se o experiente sábio explicasse "Quando tinha mais ou menos a tua idade também tinha essa opinião mas entretanto aconteceu-me X que me fez sentir Y e por isso agora penso Z". Porque o erro está em pensar que é a idade que dá estatuto; o que dá estatuto é a experiência e a capacidade de pensar nas experiências vividas. É que com este estúpido argumento, sem se aperceber, a pessoa está a insinuar que todas as pessoas experienciam as mesmas coisas, vivem essas experiências da mesma maneira e chegam todas à mesma conclusão, o que colocado desta forma é claramente falso para qualquer indivíduo pensante. Além do mais, somos todos indivíduos diferentes e mesmo que passemos por coisas semelhantes as nossas opiniões sobre essas experiências podem divergir de forma radical sem que nenhum de nós esteja necessariamente errado.

Não consigo evitar pensar que são alguns destes mitos que dificultam uma melhor relação e entendimento entre as pessoas. Andamos todos a olhar uns para os outros com óculos de superstição e o problema das lentes supersticiosas que é nunca desembaciam. Esta minha irritação em particular, ouço-a desde o início da minha adolescência. Tenho agora 25 anos, caminhando para os 26, e continuo a ouvi-la com a mesma frequência. Para os mais jovens que me lêem, se acham que agora é irritante ainda não viram nada. Quando cá chegarem é que vão perceber e vão-me dar a razão.

1 comentários:

Anónimo disse...

ahah bom truque de sub-texto aí no fim! :)

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