quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ninfa esquecida


Ainda querias brincar como as crianças brincam e fazias-me correr atrás de ti com esses teus pés de bailarina, arqueados em circunstância pelo ar. Fingindo aborrecimento quando te apanhava, como se alguém alguma vez te conseguisse apanhar sem que tu o permitisses. Todos os dias desenhavas no ar com os teus braços e com as tuas pernas, só de te mexeres. E por vezes parecia que só eu via como pintavas o mundo a cada movimento, calcando o teu corpo na existência de quem reconhecesse a tua presença.
Partiste a louça toda que havia na cozinha "Porque sim". Tudo para não te entediares. E eu sei que eram muitas as vezes que te entediavas de mim, como não haverias de o fazer? Tenho-te procurado ainda assim. No meu quarto tenho um monumento a ti. Rezam nele as tuas lembranças, quinquilharias, cacos e fotografias. E há quem tenha pena de mim, que ache que eu enlouqueci de desgosto. Mas eu não quero saber, estou capaz de experimentar tudo para te ter. São os rituais que encurtam as léguas de distância que nos separam porque eu sei que ainda cá estás - vejo o teu decalque no ar que me rodeia. Só que não lhe consigo tocar.
Desde que morreste deixei de rir. Não me roubaste o riso pois ele sempre foi teu, mas não tinhas de o levar contigo.

5 comentários:

Anónimo disse...

muito bom :)

je suis...noir disse...

Que tal a "escrita", como objectivo a seguir?

Na minha (modesta/honesta) opinião é o que te diferencia...

T disse...

Embora agradeça o elogio, a "escrita" é uma das coisas em que eu considero que sou razoável e não realmente bom.

je suis...noir disse...

Deverá ser difícil encontrar alguém que considere ser bom na dita "escrita"... Pelo menos quem é realmente bom, não o achará.Pelo contrário...
Depende portanto de quem lê, julgar - até porque depois de escrito e partilhado deixa de ser de quem escreve, o que é escrito:)
(e muitas vezes o mais importante é conseguir despertar emoções...)

Alexandre disse...

concordo, a escrita é uma hipótese.

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