quarta-feira, 27 de julho de 2011

Para a Lia


Não era este mundo que eu queria para ti.
Não queria um mundo em que tivesse de transbordar tanta mágoa e tanta dor. Não queria um mundo em que tivesse de te explicar porque se matam pessoas ou porque é que alguém ainda passa fome ou porque é que alguns são odiados só pela cor da pele, por quem amam ou por que divindade acreditam.
Acima de tudo, não queria para ti um mundo em que aqueles que poderiam melhorar o mundo não acreditam poder mudar o mundo.

E eles vão-te ensinar a vida às avessas. Vão-te dizer que é errado questionar a autoridade quando isso é o melhor que podes fazer. Vão, à força, mandar que te encaixes numa forma oficialmente standardizada, burocraticamente comprovada por quem acha saber mais que tu, para que sejam todos igualmente medíocres. Vão-te arrancar aos poucos os sonhos e a imaginação por não os considerarem produtivos ou por inveja de uma riqueza que nunca conhecerão. Vão-te ensinar coisas que sabem serem falsas porque é o que é suposto fazerem.

E eu queria dizer-te para fugires, para ouvires cada palavra com um papel numa mão e uma pedra na outra e para destruíres tudo o que te derem como sendo certo. Mas não posso. Tenho medo de já ser um deles.

3 comentários:

Anónimo disse...

Excelente momento.
Adorei.
Um beijo,
Maria.

T disse...

Não seria tão rápido a elogiar... esqueci-me de mencionar que infelizmente o mundo está cheio de supersticiosos, mentecaptos, burlões e loucos.

Ela disse...

Hoje li este texto e não podias ter escolhido melhor timing para o ter escrito. Obrigado pelas palavras.

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