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Durante a minha vida levantei o dedo do meio a muita gente e a muitas situações, mas até hoje nunca tinha levantado o dedo do meio a um jornal. É certo que com a idade e com a alteração do meu estatuto social nos últimos anos tenho feito um esforço para me tornar numa pessoa algo mais contida e socializada, mas não me consegui conter com a edição do Público de hoje.
É bem sabido para quem me conhece pessoalmente e até mesmo para os estranhos leitores fiéis deste blog que eu sou a favor da legalização e regulamentação por parte do estado disto a que nós chamamos de prostituição, para além de ser contra constatações de superioridade moral de qualquer género. Pois bem, enquanto bebia o meu café pós-almoço deparei-me com uma entrevista ao exímio Paulo Pedroso sobre o aumento da prostituição na região do Vale do Ave. Paulo Pedroso, na sua vil nobreza de quem tem superioridade nestes assuntos, afirma que
"Estes casos acontecem quando as pessoas perdem as suas referências e entram numa dinâmica de sobrevivência. Em termos teóricos, esse é um estado possível num caminho de exclusão prolongada que as pessoas depois de perderem os seus recurso perdem também as suas referências morais e sociais".
Não satisfeito com a sua academia tendenciosa, prossegue a afirmar que no desespero da crise económica as pessoas perdem as suas referências até passarem para uma situação do "vale tudo" e que quando tentam regressar para uma vida "normal" estão perdidos porque fazem essa tentativa numa "escala de valores alterada".
Eu arrisco a dizer que as referências das pessoas não se perdem. As referências (seja lá o que isso for) estão lá e fazemos uso delas consoante aquilo que podemos e decidimos. Quanto à moral, ainda ninguém me soube dizer o que há de inerentemente errado com a prostituição e porque é que cabe a alguns elitistas intelectuais apontar falhas nos valores de mulheres que deveriam ter o direito de fazer o que quiserem com o seu corpo.
Já está mais que na altura de mandar para a sarjeta toda esta treta da "moralidade" e dos "valores" e deixar trabalhar quem não quer morrer à fome. Os valores são um subproduto da digestão - só quem tem a barriga cheia é que se preocupa com eles.
1 comentários:
nem mais!
se cada um se preocupasse com aquilo que faz, vivíamos num país bem melhor. mas andamos mais tempo à procura dos "erros" dos outros do que dos nossos.
chateia-me mais um carro que não pára na passadeira do que uma perna despida à beira da estrada.
este tipo de comentários, aliados ao "escândalo" dos kits de educação sexual, faz-me ver o quão atrasadas andam as nossas mentalidades.
em relação às referências, arrisco a dizer que existem prostitutas há mais tempo do que existem políticos.
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