segunda-feira, 14 de junho de 2010

Isto explica muita coisa

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"Nas universidades, três em cada quatro alunos assumem copiar nos exames e 90 por cento destes já o faziam no liceu"

In Público


Isto vai-se ligar com o que falei há alguns dias sobre a forma como avaliamos os alunos e, consequentemente, as pessoas. Se é um método tão erróneo não vejo porque não o extinguimos de uma vez por todas.

10 comentários:

patrícia disse...

'e frustrante ser o 1 em 4 e ver os nossos resultados e os dos genios que levam as sebentas no bolso. assim sendo, retiro-me para a aula de fisica, senao nem as sebentas me salvam.

T disse...

Pois, pelos vistos eu também sou novamente uma raridade estatística. E já me tinha há muito apercebido disto, mas não fazia ideia das proporções.

valter disse...

Não sou completamente a favor dos métodos de avaliação actualmente em vigor.
Mas que outros sugeres que sejam mais justos e funcionais no nosso país?

T disse...

A questão da funcionalidade é a principal preocupação. Parece que precisaremos sempre de algo que alimente a burocracia. E tenho dúvidas que haja muito que se possa fazer a curto prazo para mudar a situação, mas acho que ainda assim estas coisas devem ser discutidas.

E há muito tempo que não "estudo" estas questões mas por exemplo: porque é que precisamos de avaliar as pessoas? Parece que os métodos que temos actualmente para esse propósito não servem nem para esse propósito. Os resultados que temos são, na melhor das hipóteses, de pouca confiança. Mantemo-los para quê? Para criar uma ilusão de controlo? Não entendo qual o real propósito social que este esquema cumpre.
Também ponho em causa a eficácia da avaliação por papel e caneta e as perguntas que remetem para decoranços de véspera. Não medem aquilo que é o verdadeiro adquirir de conhecimento.

Admito que não tenho uma resposta definitiva para isto, mas penso que (nas condições ideais) o melhor seria a progressão indivídual à medida que o conhecimento é adquirido, um pouco como acontece na Escola da Ponte, com o auxílio também da aprendizagem vicariante, se bem que este método também tem os seus problemas.

valter disse...

É uma questão que muito tem para ser discutido, mas acho que na sociedade em que vivemos, é impossível experienciar-mos algo como o que descreveste.
A sociedade em que vivemos, vive ao extremo a burocracia, controlo e comparação, para que possa chegar a todas as casas a falsa ideia da segurança na igualdade entre sujeitos.
Seria tudo muito bonito se de facto não fosse tudo isto uma hipocrisia.

Mas para que pudéssemos viver num sistema harmonioso, em que não fosse preciso este tipo de controlo, das duas uma: ou seria daqui a milhares de anos, em que nessa altura sim, a sociedade teria (espero eu) uma consciência completamente diferente do que é viver em matilha, ou então seria agora, e seria um inferno na terra, pela quantidade de chico-espertismo que por aí existe.

Também não tenho solução para este problema, porque as possibilidades são muitas, mas não vejo que uma solução do tipo que descreveste, resultaria sequer a 20% na sociedade em que vivemos.

Mas é um tema que tem pano para mangas, o que falta é tempo para ser discutido (da minha parte pelo menos, claro).

T disse...

Não acho que uma mudança eficaz na sociedade leve milhares de anos. Aliás, o nosso passado leva-nos a crer o contrário. Basta comparares o mundo de hoje em dia com o mundo de há 100 anos atrás (tendo em conta que 100 anos parece estar quase a tornar-se a esperança média de vida de uma geração de seres humanos). Não só a educação mudou para melhor, como temos hoje em dia direitos que nunca antes tivemos e uma socidade mais justa. Claro que tudo isto foi ganho com sangue e suor, e nada de bom vem sem esforço.
Mas o teu argumento parece ser "Isso é tão difícil de realizar e dá tanto trabalho, que não vale a pena"

Os teus 20% são demasiado generosos, digamos antes que resultariam a 0,5%. Meio percentil de melhoria não é melhor do que melhoria nenhuma? Não vale a pena o esforço por isso?

valter disse...

Mas a questão é que essa percentagem até podia nem resultar em melhoria. Pensando em termos de ensino superior, que é o contexto em que estamos inseridos. Sugeres então que sejam abolidos os exames/projectos/trabalhos que quantifiquem os alunos em termos numéricos, ao invés de os qualificarem, pelo que bem percebi. Então, chegando ao final do curso, ser-te-ia feita uma avaliação qualitativa da tua pessoa enquanto trabalhador no contexto do curso que estás a tirar. Então seriam reunidos vários professores teus, para te fazerem essa avaliação.
Quem te diz que uma grande percentagem destas avaliações não iria estar equivocada, quer para melhor, quer para pior? Ou ainda pior, quem te diz que estes professores não iriam negligenciar quem bem lhes apetece só porque sim? Certamente já apanhaste vários cretinos no ensino superior que não teriam dificuldade nenhuma em fazê-lo.
Não é de todo uma má ideia, mas também não é de todo uma brilhante ideia.

Não vejas a minha opinião como uma atitude derrotista. Eu não sou um descrente na humanindade, e tens toda a razão quando dizes que de há uns anos para cá a sociedade evoluiu em muitas áreas, mas vejo agora obstáculos que são um grande muro para a humanidade: atingir um bom-senso de consciência.

Não penso que seja um enorme desafio para mim e para a maior parte das pessoas, mas existe uma percentagem da sociedade, que como sabemos, tem uma certa dificuldade em atingir esse patamar. E é essa porção de malta, que vai desestabilizar a balança completamente, num regime como o que referes.

Este tema lembra-me um pouco o tema da Anarquia. Apesar de não acreditar nela, por ser uma completa utopia, e achar que é um incentivo à desevolução, é moderadamente realizável numa sociedade "saudável" com uma consciência completamente diferente da nossa...

T disse...

Pareces estar a negar o facto que as falhas humanas da avaliação que apontaste permanecem, e de forma bem visível, no método que já temos. O não digo que esse esquema seria perfeito, apenas que seria um passo em direcção a algo melhor.
E outra coisa é que eu ponho em questão a utilidade da avaliação em si. As pessoas ou adquirem competências ou não as adquirem, e não creio que seja necessário um formulário preenchido para que alguém de autoridade o engula e cuspa um número que serve para indicar qual o valor que alguém tem como profissional. Há formas bem mais reais e fidedignas de verificar a aquisição de conhecimento/competências.

Não sou contra a realização de trabalhos pela simples razão que durante a minha carreira académica foi uma das formas mais eficazes que tive de adquirir conhecimento. Aliás, tomar as rédeas à própria aprendizagem parece ser extremamente eficaz, e por isso a minha citação à Escola da Ponte. O que não me agrada é que seja necessário anexar um número a esse trabalho. Seria bem mais produtivo o simples comentar do que estava mal nesse trabalho e do que se poderia fazer para o melhorar, que é coisa que a maior parte dos professores se esquecem de fazer aquando a entrega da nota.

Existirá sempre uma percentagem de resistência. E ainda assim as coisas progridem. Por isso é que, realmente, o teu tom me parece algo derrotista. Não me interpretes mal, eu também me desiludo imenso com a humanidade, mas já demos passos bem mais largos que este que estamos aqui a conceptualizar.

Num comentário à parte, deixa-me só dizer que é bom ter uma discussão aqui. É algo que eu aprecio muito mas que infelizmente é raro. Convido-te a fazê-lo mais vezes.

valter disse...

Tens razão quando dizes que falta por parte dos professores uma avaliação qualitativa em relação a trabalhos.
Eu estou a estudar Engenharia, pelo que podes compreender o quanto eu lido com precisão quantitativa e o quanto não lido com feedback em relação a trabalhos e projectos.
Pelo que me tenho apercebido do que sigo pelo teu blog, deves estar a tirar um curso qualquer relacionado com Artes. Num curso relacionado com Artes ou Design, ou qualquer outro desses campos, sempre achei que o que menos importa são os números. O trabalho de um artista é injustamente avaliado quando são usados números. Para o bem ou para o mal.
Agora quando falamos de cursos como o meu, não acho necessariamente mal que os meus projectos e trabalhos sejam quantificados com notas. Em termos académicos, lido com números e precisão todos os dias, e apesar de sentir que falta MUITO feedback por parte do docente avaliador relativamente aos meus trabalhos, acho que faz sentido que a estes sejam atribuídas notas, porque lá está, o contexto assim o permite (e incita até).
Se o objectivo do projecto de uma cadeira que tenha é desenvolver um sistema que obedeça aos requisitos X, Y e Z, faz sentido que obtenha um feedback de aquilo que não está feito, está mal feito, ou poderia estar melhor. Mas também faz sentido quantificar o sistema desenvolvido numa nota, porque para temas objectivos como a Engenharia, é mais fácil, intuitivo e objectivo dizer que o sistema desenvolvido está a 80% dos requisitos pedidos em enunciado.
Entendes o meu ponto de vista?

Eu acho que para chegar a um entendimento em termos de avaliação, não poderíamos ter um regime "ou sim ou sopas", porque como qualquer regime rígido, não iria resultar.
O que melhor resulta acho que é mesmo o que melhor se adequa a cada área de estudo.

T disse...

Entendo o que tu dizes sim, bastante bem. E não tirei nenhum curso ligado com artes.

Acho que terá alguma validade o que tu dizes da avaliação se ajustar às àreas, mas deverás concordar comigo que, no todo, falta uma centralização na avaliação qualitativa.

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