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Quando somos pequenos, sabemos que os monstros existem. É só depois de crescermos um pouco que nos convencem que debaixo da cama encontramos apenas pó, e que a criatura mais ameaçadora que reside no nosso guarda-fato será, quiçá, uma traça. São tudo contos-de-fada, fantasia. Ninguém nos quer devorar, ninguém nos quer matar e o escuro não esconde intenções de estraçalhar lentamente o nosso corpo após um terror que não adivinhamos.
Quando somos pequenos, sabemos que os monstros existem. É só depois de crescermos um pouco que nos convencem que debaixo da cama encontramos apenas pó, e que a criatura mais ameaçadora que reside no nosso guarda-fato será, quiçá, uma traça. São tudo contos-de-fada, fantasia. Ninguém nos quer devorar, ninguém nos quer matar e o escuro não esconde intenções de estraçalhar lentamente o nosso corpo após um terror que não adivinhamos.
Depois crescemos um pouco mais e descobrimos que os monstros são reais e que se encontram em todo o nosso redor. Os homicidas, transtornados, os sociopatas, os poderosos, os violadores de crianças, os destruidores. Eles habitam cada canto do nosso planeta - na casa ao lado, no nosso bairro, na China, até no Vaticano; não há forma de lhes fugir e não se intimidam com a luz do dia.
E germinam, propagam-se como vírus: o homicida cria novos homicidas pelo seu acto, os transtornados contaminam os outros que afligem com a sua decadente loucura e a criança violada torna-se violadora de crianças.
São eles que as crianças temem sem o saberem. Os monstros existem. Contaram-nos mentiras durante toda a nossa infância.
E a mais bela mentira que não nos contam é que quando crescermos não nos tornaremos nós próprios em monstros.
E a mais bela mentira que não nos contam é que quando crescermos não nos tornaremos nós próprios em monstros.
2 comentários:
Gostei bastante do texto.
Mas continuo céptico. Não lhes chamo "monstros", chamo-lhes pessoas,simplesmente. E as pessoas são muito mais assustadoras. E atrevo-me que é a sua imprevisibilidade que as torna tão mais assustadoras.
(A verificação de palavras para os comentários do blogue traz-me sempre palavras parvas. A de agora foi "fulatimm".)
Ai está. Nós chamamos-lhes pessoas.
As crianças sabem que existe perigo, mas não lhe sabem dar forma real. Conhecem-no sem o conhecer. E então têm medo de monstros que existem algures, no escuro.
Este medo que é intuido é o medo de outros seres lá fora que nos podem fazer coisas terríveis. Os monstros das crianças são pessoas.
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