quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Preso por um fio

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Para o propósito deste texto, pensemos nos balões coloridos, de hélio, que se vendem nas feiras. Mas quem fala aqui de balões poderia falar (e fala, mais à frente) de outros objectos. Escolhi os balões porque quase todos nós já vimos ou fomos uma criança a olhar impotente para um balão a elevar-se no ar. Momentos atrás encontrava-se no seu/nosso poder, preso por uma pequena mas firme e determinada mão que por alguma distracção efémera se descuidou.

É frequente encontrar-se um adulto presente que tenta apaziguar a explosão desgostosa da criança, que ao contrário do gigante crescido raramente ou nunca se preocupa com a presença de estranhos que se incomodem com a sua comoção. É de igual forma frequente esse adulto dizer à criança algo do género:
Deixa estar, eu compro-te um igual.

E é extremamente frequente a criança, em plena birra, dizer algo do género:
"Mas eu não quero outro, quero aquele".

E para o adulto trata-se apenas disso, uma birra inexplicável. Se pode ter outro igual, porque prefere ficar sem nenhum, desgostoso e chorão por aquele balão banal que jamais irá recuperar? Aparentemente, não faz sentido. E ainda porcima é incómodo e barulhento.
Mas era aquele balão. Aquele que teve, que por momentos foi dele e fugiu, aquele que era igual a tantos outros mas único. E então a criança faz um luto por um objecto querido que para todos os efeitos morreu, nunca mais vai voltar, e que nenhum outro pode substituir.

Sei que me estou a alongar demasiado com este texto mas aguentem-me só mais um bocadinho que eu quero chegar a algum lado com isto. E acho que onde eu quero chegar é que o adulto é estúpido. Não este adulto ficcional em si, mas o adulto em geral e a forma meio inconsciente que tem de mentir a si mesmo e aos outros.
Chegamos a adultos, a namorada ou o namorado dão-nos com os pés ou levamos uma tampa, e que é que os outros que estão próximos nos dizem logo?

Deixa estar, há mais peixes no mar.

E o adulto que dá este pequeno consolo a seu amigo, que não é minimamente consolador, está mais a tentar arranjar uma forma de apaziguar a sua birra e escapar-se das suas lamúrias do que outra coisa qualquer.
E o pobre coitado que é consolado, sei eu o que ele está a pensar:

"Mas eu não quero outro peixe, quero aquele."



E qual é a minha moral para isto? Estou indeciso.
Estou indeciso porque não sei se é a criança que sabe como é e que se lixem os adultos, se somos nós que estamos destinados a esquecer-nos da singularidade das coisas e da sua magia à medida que crescemos, ou se simplesmente estamos condenados a passar uma vida inteira a fazer birras e os outros à nossa volta a ver se se safam de as ouvir.

E eu, por minha vez, estou capaz de fazer uma birra por ter passado 30 minutos da minha vida a escrever este texto de merda, só para o terminar com um nítido sentimento de irritação.

1 comentários:

Maria Vinagre disse...

Texto de merda?? Fonix, o melhor que já li por aqui! Vou imprimir, guarda-lo dentro da minha bolsa para ler sempre que me passe pela cabeça fazer uma "birra" qualquer..

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