Passo por uma rua estreita. À janela da sua casa uma velhinha mata o tempo que lhe resta. O seu rosto é lavrado de rugas, como um papel amarrotado.
Atirava milho para a rua e chamava os pombos, com um sorriso. Pedia-lhes para que não tivessem medo dela até que um grupo deles se reunia em frente a ela. Sempre que alguém passava pela rua pouco movimentada, erguiam-se num agitar de asas fazendo-a repetir o ciclo.
Ela parecia gostar daquele jogo. Eu imaginei na minha cabeça metáforas e representações místicas para um gesto tão simples, algo sobre a aproximação e o abandono ou então a morte e o renascer. Coisas parvas.
O calor mata-me. Não encontro a porcaria de uma esplanada e a maioria dos cafés estão fechados. Praguejo mentalmente e imploro por uma brisa qualquer que me refresque o suor do corpo.
Compro o Público numa papelaria estranhamente movimentada. Começo a ceder ao calor.
Finalmente encontro um café aberto na zona. Peço um café, uma garrafa de água fresca e um B! de groselha.
- Copo ou palhinha?
- Desculpe?
- Quer um copo ou uma palhinha?
O calor toldou-me o juízo, não consigo raciocinar. Parecia-me uma pergunta de uma complexidade e de uma seriedade tão grave quanto o de decidir entre manter um braço ou o outro.
- Uhm... pode ser com palhinha.
A empregada sorri de forma compreensiva, também ela sente o efeito do calor. Limpa o suor da testa com as costas da mão esquerda e dá-me a palhinha.
Sento-me no canto mais recôndito e isolado do café para ler o Público descansado. Organizo meticulosamente a minha parafernália de papéis, pires, copos e garrafas. Meto um pouco da água gelada no café, está demasiado calor para o beber tão quente. Ao terceiro golo arrependo-me do sabor do sumo que pedi depois da fresca glória dos seus predecessores. Parecia-me demasiado amargo.
Não há uma única notícia no Público que me alegre o dia. E o Medvedev preocupa-me.
Quando termino a leitura sinto-me mais fresco. Saio do café e vou-me sentar na sombra solitária do jardim mais próximo.
Vejo o Luís. Uma das figuras mais predominantes da mitologia moderna de Évora. Dizem que cada cidade tem o seu; um indivíduo louco que vagueia pela cidade e cuja origem está assolada por mitos e rumores incertos, variados mas sempre com pontos-chave em comum.
Na minha adolescência mais romântica chamava-lhe o "Fantasma de Évora". Com os seus cabelos e barbas brancas assombrava a cidade, parecia encontrá-lo em todo o lado quando saía. Conhecia-lhe a figura desde criança.
Eu sentei-me num banco, um instrumento construído e desenhado propositadamente para eu me sentar. Ele fez o que a mim realmente me apetecia e deitou-se sem pudor na frescura apetitosa da relva verde, por baixo de uma árvore à qual se encostou.
Acendi uma cigarrilha e pensei no estúpido que eu sou em comparação com aquele louco sincero na sua natureza.
Atirava milho para a rua e chamava os pombos, com um sorriso. Pedia-lhes para que não tivessem medo dela até que um grupo deles se reunia em frente a ela. Sempre que alguém passava pela rua pouco movimentada, erguiam-se num agitar de asas fazendo-a repetir o ciclo.
Ela parecia gostar daquele jogo. Eu imaginei na minha cabeça metáforas e representações místicas para um gesto tão simples, algo sobre a aproximação e o abandono ou então a morte e o renascer. Coisas parvas.
O calor mata-me. Não encontro a porcaria de uma esplanada e a maioria dos cafés estão fechados. Praguejo mentalmente e imploro por uma brisa qualquer que me refresque o suor do corpo.
Compro o Público numa papelaria estranhamente movimentada. Começo a ceder ao calor.
Finalmente encontro um café aberto na zona. Peço um café, uma garrafa de água fresca e um B! de groselha.
- Copo ou palhinha?
- Desculpe?
- Quer um copo ou uma palhinha?
O calor toldou-me o juízo, não consigo raciocinar. Parecia-me uma pergunta de uma complexidade e de uma seriedade tão grave quanto o de decidir entre manter um braço ou o outro.
- Uhm... pode ser com palhinha.
A empregada sorri de forma compreensiva, também ela sente o efeito do calor. Limpa o suor da testa com as costas da mão esquerda e dá-me a palhinha.
Sento-me no canto mais recôndito e isolado do café para ler o Público descansado. Organizo meticulosamente a minha parafernália de papéis, pires, copos e garrafas. Meto um pouco da água gelada no café, está demasiado calor para o beber tão quente. Ao terceiro golo arrependo-me do sabor do sumo que pedi depois da fresca glória dos seus predecessores. Parecia-me demasiado amargo.
Não há uma única notícia no Público que me alegre o dia. E o Medvedev preocupa-me.
Quando termino a leitura sinto-me mais fresco. Saio do café e vou-me sentar na sombra solitária do jardim mais próximo.
Vejo o Luís. Uma das figuras mais predominantes da mitologia moderna de Évora. Dizem que cada cidade tem o seu; um indivíduo louco que vagueia pela cidade e cuja origem está assolada por mitos e rumores incertos, variados mas sempre com pontos-chave em comum.
Na minha adolescência mais romântica chamava-lhe o "Fantasma de Évora". Com os seus cabelos e barbas brancas assombrava a cidade, parecia encontrá-lo em todo o lado quando saía. Conhecia-lhe a figura desde criança.
Eu sentei-me num banco, um instrumento construído e desenhado propositadamente para eu me sentar. Ele fez o que a mim realmente me apetecia e deitou-se sem pudor na frescura apetitosa da relva verde, por baixo de uma árvore à qual se encostou.
Acendi uma cigarrilha e pensei no estúpido que eu sou em comparação com aquele louco sincero na sua natureza.
3 comentários:
hum, cada vez gosto mais do teu blog. Tens mil e uma coisas maravilhosas :)
Adoro a maneira como escreves. (=
Obrigado.
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