domingo, 17 de maio de 2009

Visita esperada

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Passavam dez minutos das cinco-e-meia da tarde demais, quando a Mágoa lhe bateu à porta do coração. No ventrículo esquerdo, para ser mais preciso.
Bem sabia quem o aguardava por trás daquela porta, já era costume. Há muito que eram amigos de ocasião e era habitual buscarem a companhia um do outro para passeios e cafés nocturnos. E o próprio acaso tinha o vício de os juntar casualmente na rua, sem hora ou intenção combinada.
Decidiu recebê-la com uma cerveja e um cigarro. "A Mágoa gosta destas coisas", pensou. "E calha sempre bem".
Abriu a porta de bom grado e o baque foi instantâneo. Ela sempre o seduzira, mas ele jamais seria capaz de o confessar a alguém. Sentia-se tentado a afundar nela, beber dela eternamente e dentro dela se perder para o resto do mundo. Este desejo assustava-o mais que qualquer outra coisa, mas ele jamais seria capaz de o confessar a alguém.
Foi ela a primeira a falar, com um sorriso.
- Então, estás bom? Sei que nos temos visto muito ultimamente, mas apeteceu-me fazer-te uma visita.
- Vou andando. Não há problema, também não estava a fazer nada de jeito. Senta-te, queres uma cerveja?
- Claro, obrigado. Então, que contas?
- Como te disse, nada. Queria escrever, mas nada me ocorre. Tenho andado assim.
- Para isso é que eu sirvo, para quebrar a monotonia da tua vida. E para fazer de musa inspiradora, claro.
- É. E desta vez pretendes permanecer muito tempo?
- Tens medo que eu te abandone, meu querido? Não te preocupes que isso nunca vai acontecer.
- Já calculava. Vou só ali à varanda fumar um cigarro, queres vir fazer-me companhia?
- Não me apetece, talvez mais tarde. Fico aqui à tua espera.
- Está bem. Até já.

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