domingo, 17 de maio de 2009

Crónicas da noite passada

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Eu (para o D) - Esta rapariga criticou-me a semana passada por ser demasiado científico.
Rapariga em questão - Eu não te critiquei, simplesmente a vida não é só ciência. A ciência não explica tudo.
Eu - Por não sermos suficientemente inteligentes para compreender uma coisa não quer dizer que não tenha uma explicação científica.
Rapariga - Mas o que é que isso contribui para a minha felicidade? Prefiro que algumas coisas permaneçam um mistério.
Eu - Mas lá está, eu não consigo compreender essa forma de pensar, isso para mim é absurdo. Dá-me muito mais gosto saber como funciona um truque de ilusionismo.
Rapariga - Isso não faz sentido nenhum, a piada está precisamente em não se saber como se faz.
Eu - Não, é ao tu saberes como se faz, ao saberes como funcionam as coisas que ficas a perceber as bases do truque e o funcionamento do cérebro humano e isso dá muito mais prazer.
Rapariga - Não, só estraga tudo.
Eu - Olha, é como o António Damásio diz em relação ao amor. O amor é um conjunto de reacções químicas em conjugação com a estrutura psicológica das pessoas, mas isso não lhe tira nada de relevante. Como ele próprio diz, não é por sabermos como funciona o sistema digestivo que tira o prazer em comer um bife.
Rapariga - 'Tá bem, eu sei que é tudo uma questão de químicos, mas prefiro saber isso e fazer de conta que não sei, é melhor.
Eu - Foda-se mas isso é ridículo, eu... epá, olha, esquece.
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Eu (a desabafar com o D) - Eu não compreendo estas merdas e nunca hei-de compreender. Poderia estudar psicologia durante 40 anos que continuava a não compreender. As pessoas preferem ignorar o conhecimento porque lhes dá mais prazer, esta forma de pensar e de viver a vida é, para mim, completamente alienígena. Foda-se, pá.
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D - Estás a fumar demasiado.
Eu (fodido com a vida) - Quero lá saber da merda do tabaco.
D - Alguma coisa te há-de matar, não é verdade?
Eu - É. Mais vale ser eu a decidir como me mato. A cena que acho que consiste numa das maiores injustiças cósmicas é eu não poder decidir completamente como acabar a minha vida. Se sou eu a decidir como a vivo deveria ser capaz de decidir como a acabo, mas nem isso. Foda-se.
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Eu (a desabafar outra vez) - Estou farto desta merda. Estou farto de ser "estranho", de ser apontado como estranho. Eu quero fazer parte da puta da carneirada.
D - Pois, eu compreendo-te. Também não ajuda nós termos sido desde cedo rapazes que não se interessavam sobre futebol e ficavam nos intervalos a falar de livros e filosofia, etc.
Eu - Não sei, meu. Só sei que em puto, a partir do momento em que és rotulado pelos adultos como "fora do comum" estás fodido. "Olha, pronto, devo ser mesmo anormal porque já mo dizem na cara... que faço eu agora com esta merda?".
D - Não sei...
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Eu - ... Porque é que a gente escreve, meu?
D - Não faço a mínima ideia. Ainda hoje não sei dizer. Detesto tudo o que escrevo, mas não me vejo a fazer outra coisa.
Eu - Eu gosto do que faço... durante 20 minutos no máximo. Com a música revela-se mais... sinto-me bem a criar música, tenho um sentimento de satisfação quando me 'tou a exprimir naquele instante mas ao fim de algum tempo... acho tudo uma merda, chego a ter vergonha. E por isso acabo por não fazer nada, detesto tudo o que faço. Com a escrita, porque é que achas que aquele blog ainda existe? É porque faço questão de não reler as coisas (depois de as reescrever 20 vezes), porque senão apagava tudo e mandava aquela merda para o caralho. E o que eu não consigo ainda compreender é como é que ainda há gente que vai ver aquilo todos os dias, saber da minha vida e, ainda por cima, comentar. A minha vida é um tédio banal do caraças, eu não compreendo.
D - Isso traz a questão... para quem é que tu escreves? É para ti próprio?
Eu - Pois, já escrevi um post sobre isso... acho que é por mim mas para os outros. Mas mesmo que trinta mil pessoas adorassem o que eu escrevo ia achar sempre uma merda. Eu é que sei sempre, se os outros gostam do que faço é porque têm mau gosto e não sabem do que falam. Por isso vou viver insatisfeito comigo próprio até ao fim dos meus dias.
D - Claro. E mesmo assim não deixamos de escrever, por alguma razão.
Eu - É...
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Só conversa animada, portanto.

3 comentários:

No more clothes disse...

eu sou diferente pq não tenho pila e adoro futebol, olha que isto há porras hein...

blurred disse...

a 1ª parte lembrou me fernando pessoa! eu ate os compreendo é preferivel viver ignorante se se é mais feliz com isso.. :s ao menos assim nao sao insatisfeitos com tudo por n terem nem metade da noçao das coisas... (digo eu)

eu desde sempre fui normalissima como todas as raparigas e tambem estou no grupo dos estranhos (mas so de vez em qd) :O e eu nao andava a ler livros nos intervalos nem o raio q o parta --'

Dreamer disse...

Compreendo o ponto de vista da rapariga na primeira parte porque também eu não gosto das explicações cientificas pois essas tiram o mistério, o enigma, o segredo das coisas. Não é que queira permanecer na ignorância, mas há coisas que não precisamos de compreender, para as sentir.

Quanto à segunda parte apenas posso dizer que 'only dead fish go with the current' ;)

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Desculpa, mas gosto de voltar cá, tens sempre algo de interessante para ler. :)

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