Os mais atentos ao blog já poderão ter percebido que, regra geral, odeio os meus sonhos. Cada vez mais, os sonhos que tenho confrontam-me descaradamente com medos e inseguranças que fazem, ou sempre fizeram, parte de mim.
Mas existe um sonho antigo que recordo com muito afecto.
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Tinha 15 ou 16 anos. Estava deitado na minha cama, no escuro, quando subitamente ela aparece flutuando no éter da minha consciência.
Estava nua e o seu belo corpo era de um pálido tão puro que incandescia como uma estrela. Por contraste, o seu cabelo era mais negro que as profundezas do cosmos.
Não vou dizer que ela não tinha face; na verdade era mais como se eu não conseguisse registar as suas feições. Cada segundo de observação que passava apagava o registo do segundo anterior, numa espécie de prosopagnosia.
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Não falava. Não era necessário. A sua existência era completa e sincera; comunicava através de uma telepatia dos gestos e das intenções. E assim, bastou um estender da sua mão para eu me entregar a ela.
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Levou-me a passear pelo universo, visitando diferentes planetas. Finalmente chegámos a um completamente verde, no qual estendeu para mim o seu punho cerrado. Ao abri-lo revelou um morango.
Entendi imediatamente - "Cheira-o". E assim fiz.
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"Compreendes agora?" - Disse-me num sorriso maternal.
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"Sim", disse eu - "As coisas têm cheiros diferentes consoante o mundo em que se encontram".
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Ela assentiu num último sorriso.
3 comentários:
isto parece o livro do José Luís Peixoto. X: aquele "Uma casa na escuridão"
Isso é bom ou mau? =P
Nunca li.
é bom, eu adoro o José Luís Peixoto, é muito macabro, mas adoro.
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