domingo, 15 de março de 2009

Pensamentos Divergentes (nº34) - Nada a escrever

Senta-se em frente ao computador em gestos vazios de significado. E no entanto, algo transborda nele e balança, ameaçando jorrar de uma vez só todo o seu conteúdo.
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"É agora."
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Prepara-se para escrever. Os dedos balançam ameaçadoramente por cima do teclado, como uma dezena de guilhotinas seduzidas pela inevitabilidade da gravidade suspensa.
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"Há algo no véu da realidade que... não, não é nada disso."
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Olha pela janela do seu quarto.
O tempo está agradável e convidativo. Pequenas núvens pincelam o céu, mal existem. Um suspiro maior ameaçaria aniquilá-las, e por isso volta a concentrar-se no ecrã.
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A imensidão branca da tela faz pouco dele.
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"Eu nem sei o que escrever. É como se me tivessem posto uma rolha na alma. Se calhar tenho medo da Caixa de Pandora."
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Começa a pensar que talvez o computador seja demasiado maquinal. Não existe o jogo pseudo-erótico do papel e da caneta. Distrai-se com pensamentos sobre o significado metafísico que se dão às coisas e como isso influencia a forma como nos damos com o mundo real.
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"Vá, concentra-te". E volta a assediar o teclado.

"Senta-se em frente ao computador em gestos vazios de significado."

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