quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pensamentos Divergentes (nº24)

Saía às ruas para fugir às drogas que minavam a sua existência entre quatro paredes, como se os dentes aguçados da noite dessem uma nova frescura à sua mente.

Eram ruas de mau gosto, habitadas à noite por putas, por degenerados, e por ele.
Não o desmotivava o risco. No banco de jardim pensava cinicamente:
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"Uma navalha ao pescoço até era bom para quebrar a monotonia".

E foi nesse jardim que deixou uma parte de si. Deixou-a morta, degolada no chão, para que pudesse finalmente dizer aos abutres: "Tomem seus filhos da puta, eu desisto! Devorem tudo o que sou, desfiem-me as vísceras, mas engulam-me o coração inteiro para que se engasguem no que há tanto tempo andaram a caçar!"

Mas os abutres não vieram e lá ficou ele estendido, invisível para qualquer um que lá passasse.
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E se alguém, algum dia, tropeçar no cadáver que deixou no jardim, esse alguém serei eu.

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