A Cara que Mereces é a primeira longa metragem de Miguel Gomes. Vi o filme na sua estreia em 2005 no cinema do Alvaláxia em Lisboa (15 minutos depois de ser assaltado, curiosamente... talvez um dia ainda escreva sobre isso), e desde aí tenho procurado sem sucesso, através de meios legais e ilegais, obter o filme... uma tarefa que parece impossível. Infelizmente não soube que iria passar hoje na RTP2, poderia gravar e finalmente terminar esta odisseia de 4 anos.
O filme é sobre Francisco que no Carnaval, vestido de Cowboy, parte a cabeça e vai parar ao hospital, apenas para apanhar sarampo pela primeira vez (obviamente). Então vai ser cuidado pelos seus 7 amigos de infância, tal como uma Branca de Neve, numa casa isolada no campo, e apesar de não ser visto no resto do filme está sempre presente através de uma narrativa em diálogo com as outras personagens, numa magia aterradora mas aceite sem contestações.
Todos aqueles adultos se comportam como crianças, mas têm de cumprir a mais séria das missões. Cuidar do seu amigo doente e cumprir à risca todas as regras que lhes foram impostas, incluindo não entrar no quarto proibido - atrás da porta esconde-se um monstro perigoso.
Eu nem sei bem como explicar o filme... a fotografia é excelente e a música, de Mariana Ricardo, é simplesmente fabulosa e encaixa que nem uma luva no ambiente criado pelo cenário e pela interacção entre personagens. É de um misticismo tremendo, avassalador mesmo... uma mistura de todos as brincadeiras, contos e fábulas de infância, e o mistério sedutor e aterrador de crescer e tornar-se adulto.
Se tiverem a oportunidade vejam o filme, é mesmo para não perder. É a prova de que se podem fazer bons filmes em Portugal, e que muitas vezes actores conhecidos é antónimo de qualidade (estou a olhar para vocês, Nicolau Breyner e Vítor Norte).
"Até aos 30 tens a cara que Deus te deu. Depois, terás a cara que mereces ".
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