quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Por Nomear (nº2)

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"Será verdade?".

Ressoa algures no passado o tilintar das moedas que, apressadamente, atirou para o balcão.

Os seus passos eram mais apressados e os seus pensamentos mais agitados. No entanto, pareciam ter um propósito, como se pela primeira vez se tivesse elevado um ímpeto no seu interior, como se uma força invisível o empurrasse numa direcção definitiva.

"Sim, sim... tudo está claro. É A Verdade".

Sinistros eram os dedos que moldavam a sua mente agora. O café tornara-se demasiado pequeno para conter todas as dúvidas e iluminações que lhe suscitara a notícia. Saíra a correr à medida que desenrolava frente aos seus olhos uma cortina de sonhos desorganizados que, tal como as súbitas tonturas e vertigens, acalmaram com o ar fresco da rua.

Era uma noite de Setembro banal. As estrelas seduziam as nuvens, ameaçando revelar-se ao céu nocturno. Na rua, pairava uma estranheza solitária que se pendurara nas casas e nos carros. Se alguém estivesse nesse mesmo momento na mesma rua, poderia encontrar algo de místico e aterrador no rapaz de mochila às costas, que expelia um bafo quente que parecia repousar no tecido da realidade por um breve instante, para apenas desaparecer deste mundo no instante seguinte.

Não se recordava deem toda a sua vida ter uma certeza tão concreta como aquela que se começava a formar dentro da sua cabeça. Era necessário fazer algo. A urgência era tremenda. Mas seria possível ele, logo ele, fazer alguma coisa? Não, não poderia.

... Ou poderia? Esta nova verdade dava-lhe um novo propósito, um novo direito. As regras que sempre conhecera deixavam de se aplicar, perdiam todo o significado. Se a perdição era absoluta, a liberdade também o era.

Restava saber o que fazer com essa liberdade.

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