terça-feira, 31 de janeiro de 2012

70, 2012


- Sabes, tu até que passas por fodível.
O sabor a café permanece na minha língua. É um sabor pálido. E é esta a forma de ela começar uma conversa, como se fosse a continuação de um discurso interrompido pela transição de nexos da realidade e fosse minha culpa não ser capaz de acompanhar o solilóquio interdimensional.
- O teu problema...
Foda-se. Sempre há continuação. Não tive a sorte de desfasar do universo a tempo.
- O teu problema é não seres homem que chegue.
Pausa. Como se eu tivesse algum papel nesta conversa e ela me desse a cortesia de perguntar o que quer isso dizer.
- És um menino. Não tens auto-confiança. E isso nota-se. É por isso que as mulheres ou não te querem ou acabam por te trocar por alguém que até as trata pior. Desde que as trate mal mas com convicção... percebes? Mais vale isso do que estar sempre aberto a interpretações. E tu nem és assim tão bom rapaz, fartas-te de fazer merda como qualquer um. Mas não te defendes quando não tens razão.
As mesas do bar reflectem a luz artificial de uma forma estranha, como auréolas torpes que alguém pouco talentoso se lembrou de adicionar a um cenário já bem estabelecido. Há pouca gente - estamos a meio da semana e faz frio.
- E eu sei que tu achas que isso é uma qualidade mas não, é um defeito. Ninguém gosta de panhonhas e tu pensas que és um intelectual mas no fundo és um panhonhas. E as mulheres querem foder e foder bem, tal como qualquer homem. Ternura é bom mas não chega. É preciso sacanice para segurar uma mulher na cama.
Como se tu soubesses alguma coisa sobre isso.
- Não olhes para mim assim. Sabes bem que tenho razão, não vale a pena contestar. Por muito que o negues, sei que tu sabes que eu tenho razão.

Levanto-me para pagar a minha curta conta. O balcão está pegajoso e eu sinto-me pegajoso por dentro também.
É a última vez que venho beber café sozinho.

I can see smoke from a mile away


Todos perseguimos miragens. O trágico é que quando estão quase ao alcance dos nossos dedos isso costuma ser sinal da nossa iminente morte.

Foda-se! (nº70)


Melhor frase que eu já vi escrita num "noticiário" da TVI:

"Há quem diga que a matemática é útil para resolver problemas do dia-a-dia"

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 556)


Olhar especado para desconhecidos não deveria ser contra o socialmente aceite. É que há quem o mereça, seja pela sua beleza ou pela sua estupidez.

O sacramento da penitência e da reconciliação


Em segredo atraiçoo o nosso amor
pois nunca saberás dos meus planos suspirados às escondidas
e do meu ódio encostado ao reflexo de tudo aquilo sobre o qual minha sombra cai

É que não há sentimento gentil que possa ter por alguém
maior que o que sinto de mim mesmo
e guardo tanto em mim que alguém como tu nunca poderá adivinhar

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 555)


Ainda não decidi se é sinal de muita ou de pouca saúde mental dedicar pelo menos 2 minutos inteiros da minha vida a contemplar quantas e quais das minhas extremidades seria capaz de cortar pela garantia de nunca mais na minha vida ter de assinar papelada ou aturar burocracias.

domingo, 29 de janeiro de 2012

You've been so in darkness it's awful


Eu nunca quis mandar em ninguém. Eu só quis ser adorado. E o pior é que tu achas que eu posso tudo, mas eu não sei se quero mesmo. Porque depois já nem sou eu.

Pensamentos Divergentes (nº 234)


Não falem despreocupados sobre a condição de quem vive a vosso lado.
Não falem despreocupados como se não vos pertencesse responsabilidade sobre quem está a vosso lado.
É que eu sei o que é estar morto
como todos sabemos o que é estar morto
nessas horas sem sonhos em que adormecer é o parar do tempo e a total obliteração das emoções.
E mais importante ainda eu sei o que é querer morrer
porque a cada cigarro que fumo seguro entre os dedos um deus
e o nome desse deus é Cancro
e o único propósito desse deus é coleccionar as minhas inalações até à última gota de um arquear fleumático.
Falem como se fossem vossas palavras preciosos anjos
e na vossa intenção balançasse o peso do mundo.
Falo, entre bafos, o melhor que posso sem poupar no divino.
Mantenham vós também a alma de quem quer ser.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 554)


Quando a minha namorada passa uma hora comigo sem se aperceber que eu estou bêbedo, não sei se estou de parabéns por saber disfarçar ou se estou fodido porque já nem ela dá pela diferença.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mini-aventuras diárias com depressão!



Como um bom dono de uma depressão sazonal, é minha responsabilidade passeá-la na rua durante os dias nublados.

I'm about to run


O melhor a fazer com a depressão destes dias é sorvê-la com uma palhinha e esperar que o copo acabe antes que decida pelo nomadismo.

Pensamentos Divergentes (nº233)

Para os espíritos delicados.
Para os homens frustrados de ter tanto amor para dar mas que falham sempre no final e para as mães que os criaram.
Para aqueles de quem nunca pareço lembrar-me do nome.
Para a rapariga que sentia ternuras por mim mas que eu ignorei por não ser suficientemente homem.
Para os profetas mudos que amam em helicópteros de resina à espera que as suas hélices colem por mero acaso num corpo celestial
e para as mulheres que vão para a cama com os homens casados e esperam durante noites secretas em culpa que eles voltem para elas e só elas no dia que vem a seguir e no dia a seguir a esse.
Para os que se descobriram nos balneários
e para os otários que atravessam a rua sem olhar para os dois lados, para a esquerda, para a direita e para a esquerda outra vez.
Para os professores que perderam sono por verem num miúdo a asfixia da sua profissão.
Os meus olhos são sedentários. Fixam num ponto e o que descobres quando fixas um ponto durante tempo suficiente é que a olhar para o passado facilmente vemos o futuro pois o tempo em si estica-se e curva-se em infinito.
Eu fui um de vós sem querer alguma vez ser um de vós e serei um de vós sem o ser no seu retorno.
E eu escrevo o que escrevo porque quero deixar na vossa alma uma mossa com o formato do meu coração e é mais fácil para mim prender-vos com a violência da minha resignação do que com aquilo que há de mais puro em mim e que eu vos quero realmente dar.
Por isso
por cada calafrio aceitem um beijo
e por cada ofensa um desejo:
Que o cimento do melhor dos meus imagináveis destinos seja da mesma mistura do cimento do pior dos vossos imagináveis destinos.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 552)


O meu sonho mais narcisista é agarrar no Zeitgeist pelo cabelo e fazer dele a minha puta.

Pensamentos Divergentes (nº232)


Recônditos declínios
reclinados curvilíneos
respeitando os desígnios
da tua melindrosa cona

atona a falsidade da ideia
quando após a dita panaceia
abalas de barriga cheia
para a largar para outra zona

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Can't do it unless it's due to circumstance


É ridículo ficar exausto só de passar uma tarde a procurar alguém que me pague para fazer aquilo para o qual estudei. Vá como não vá, se é por uma questão de ganhar a fazer aquilo que gosto era capaz de ser mais fácil arranjar emprego como provador de cerveja profissional.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 551)


Nos meus sonhos ando todo boas intenções e altruísmo. Não sei se sou melhor pessoa do que penso ou se sou tão reprimido que até o meu subconsciente tem um subconsciente que lhe esconde coisas.

Não é preciso um PHD para ser um Doutor à portuguesa


O meu iPod fritou pelo qual agora sempre que vou à rua estou sujeito a poluição sonora.

Pensamentos Divergentes (nº231)


tudo o que precisamos é de vinho
e de meio-relógio sozinho
tanta coisa para não fazer
e não há tempo a perder
vem-me rapidamente abraçar
que há um mundo inteiro a ignorar

eu digo-te que merecias um poema
tu dizes que eu pareço estrela de cinema
eu dou-te um bafo para provar
e tu dás-me algo para recordar
nas horas que se seguirão
para aliviar a solidão

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Lascivo orfanato


Caralho, que até o fumo do teu cigarro tem um toque de prepotente enquanto se dissipa no ar. Essa tua forma de estar, posições cuidadosamente estudadas, como quem espera eternamente que lhe tirem uma fotografia a preto-e-branco com o glamour das estrelas de outrora. E sempre um tempero no olhar de quem acha que até a sua punheta é melhor feita que a dos outros.

Nem é pelo teu corpo. É a tua arrogância que toda a gente quer foder. É por ela que te querem levar para a cama, para te levar a melhor. Para que tenham a aprovação de tal requintado gosto. Do meu conhecimento, só eu é que (conscientemente) te queria entre os lençóis para te mostrar como não és melhor que eu. Como és como qualquer um de nós. Não sabia era se era para te ajudar a sair desse estupor egótico ou se era só porque não suportava como me fazias sentir ainda mais baixo do que aqueles de quem te rodeavas.

O teu único crime foi teres-me mostrado simpatia.

Daddy works a long day


Algures, no registo de uma câmara de vigilância, estou eu e a minha namorada a dançar ao som desta música num supermercado. I regret nothing.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 550)


"Se o amor é cego, aquilo que vemos no outro quando nos apaixonamos não é se não o nosso próprio negrume"

Votem em mim outra vez que já não vos volto a chatear



Fui por uma unha negra aprovado para a segunda e última volta de votações no Aventar. Peço então aos que estejam disponíveis e inclinados para tal que votem em mim na categoria de Auto-conhecimento / reflexão filosófica que se encontra aqui. Obrigado.

sábado, 21 de janeiro de 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 549)


Se durante toda uma vida tivémos gente a enganar-nos e a manipular-nos, o termo correcto é aprendizagem e não paranóia.

Foda-se! (nº69)


Está a insurgir-se dentro de mim a realização de que muito provavelmente só arranjo emprego na minha área quando me mudar para o norte do país.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 548)

Prevejo que as mulheres levianas das próximas gerações, em vez de andarem com a tatuagem de uma borboleta no fundo das costas, passem a identificar-se com uma tatuagem do símbolo do Like to Facebook com números escritos a marcador em constante crescimento.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

I'm crying tears of a rapper


Não sei se sou eu que ando muito sensível ou se simplesmente não tenho mais em que pensar se não na minha incompetência social.

Pensamentos Divergentes (nº230)


Clara como a trompete do anúncio do fim
meu eterno amor, vamos dedalar as pestanas nos nossos olhos repousados
para construir uma nação estranha e viver nos prédios dos nossos gestos falhados

um aquário negro e solitário e um tempo sem fim
para olharmos um no outro sem pestanejar
eu em ti e tu em mim para sempre
como duas estátuas mortas que desconhecem a forma do se ser

nada seria mais romântico
que não existir a teu lado

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

90% dos blogs que eu encontro é só disto


Uns poderiam chamar-lhe de crítica social em forma de arte, outros poderiam chamar-lhe 5 minutos em que eu não tinha mais nada para fazer.

These molecules don't make me who I am


A verdade é que o que tu fazes com tanta naturalidade a mim não me é fácil, preciso de trabalhar constantemente para conseguir brilhar dessa tua forma a teu lado.

Encontros imediatos do melhor género


Aos 13 anos, por alguma razão que me escapa, tinha fama de cromo na escola que frequentava. Este mesmo assunto foi foco de conversa num intervalo em que coloquei de lado a cópia velha da Guerra dos Mundos do H. G. Wells que andava a ler para me entreter entre as aulas.
Estava na companhia dos "jovens problemáticos" e "rebeldes" da minha turma. Os repetentes com problemas comportamentais institucionalmente ponderados, sistematicamente explicados pelo ambiente familiar insalubre a que voltavam quando se retiravam das premissas do local de aprendizagem onde se reuniam ocasionalmente para "fazer a vida negra aos professores" ou para fumar tabaco ou droga atrás do ginásio. Estava lá, no entanto, uma rapariga que eu não conhecia e que, do que me lembro, teria feito parte de uma turma anterior de um ou mais dos meus presentes colegas. Lembro-me de ela perguntar aos outros (enquanto eu observava alguém a jogar à bola) se eu não fumava. Alguém lhe respondeu "Ele? Achas? Ele é um bem-comportadinho". Não satisfeita com a resposta abordou-me directamente e perguntou-me se eu era um marrão. Disse-lhe que não, sem estar muito convicto da resposta, porque para a forma de ela ver as coisas eu provavelmente encaixaria na definição de marrão - mas a verdade é que eu não só evitava o máximo possível estudar como odiava a escola e tudo relacionado com ela.
"Deve ser. Tens mesmo carinha de quem só quer tirar boas notinhas para agradar aos papás". Voltei a negar. Perguntou-me então o que fazia eu afinal quando estava em casa e antes de me dar oportunidade de responder, explicou (atirando fumo do cigarro para a minha cara) que quando ela estava em casa o que fazia era ouvir os pais a gritar enquanto o pai batia na mãe. Falou isto como quem me dava uma lição sobre a minha posição privilegiada. Depois disto perdeu todo o interesse em mim e voltou a concentrar-se no seu grupo de iguais.

Foi provavelmente a primeira vez da minha vida em que percebi que ia gostar de raparigas problemáticas.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 545)


Não é medo de morrer. É medo de encurtar o intervalo de uma eternidade em que não estarei contigo.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº229)


esquece os nossos dividendos
dêmos as nossas dívidas como saldadas
e os males que nos fizemos como perdoados
que um dia será de nós que falarão usando sapatos de Domingo

já que o peso nos ombros dos outros é mais fácil de carregar
amparemo-nos à vez.

O gajo tem mesmo a mania que é bom




Há um concurso no aventar.eu e eu decidi concorrer na categoria de blogs de Auto-conhecimento / Reflexão filosófica. Quem achar que eu mereço, pode votar em mim aqui. Quem não achar que eu mereço olha, fica a saber do concurso e poderá ajudar outros que o mereçam.
Aprecio o vosso voto mas apreciaria também que não votassem às cegas e ponderassem os outros blogs que estão em concurso (pelo menos na minha área) e que na maioria são, de facto, melhores que o meu.

Obrigado pelo tempo de antena.

Pensamentos Divergentes (nº228)


morte não me engana a morte
que a morte é engano de vida
e viver é a morte enganar

mais será certamente
mas mais se engana muita gente
que só gente que se engana pode falar

sábado, 14 de janeiro de 2012

Something to contemplate


Se tudo são jogos que envolvem trocas entre nós, o melhor a fazer é jogar com espírito de jogo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Digam o que quiserem do "homem", mas ele tem quase tanto de cómico como tem de excêntrico


No Público:

José Castelo Branco “agitou” hoje o Tribunal de Famalicão, onde apareceu vestido de “imperatriz” e se confessou “cansada e exausta” pelo envolvimento do seu nome num “fedorento” caso de orgias sexuais violentas.



“Isto de ser imperatriz dá uma trabalheira, tivemos de nos levantar às seis da manhã, pôr o rímel no olho. Cansa ser bela” (...)

“Vejam esta beleza toda. Gostam?”, referia, enquanto pedia à mulher smile, darling (...)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº227)


cada dia que passa
perco mais a piada
estou menos belo
menos jovem
menos brilhante
e já não fascino desconhecidos
dá-me a mão
que os nossos dias acabaram

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

It's a long way down


De bom grado serei levado para essas forcas e para esse inferno que apregoam. Um cigarro aceso e o meu orgulho intacto é o que me basta.

Aceitam-se perguntas


Tenho um dia tremendamente desocupado, perguntem-me coisas no formspring, vá.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Foda-se! (nº67)


"Estudo aponta para a proibição de fumar à porta de cafés, bares e restaurantes"

Vá-se a fazer isto e agora é que estou mesmo fodido.

A última carta, pelo menos nos próximos tempos


Tenho pensado naquilo que te diria sobre mim numa carta caso tu quisesses saber o que era feito de mim e no que é que eu me tornei. Não há dia que não o pense, para ser honesto.
Desenvolvi uma apreciação pelas "coisas belas da vida". Bom vinho, bom whisky. Deu-me até para começar a fumar cachimbo. Mas bem mais que isso, uma apreciação pela música, por amigos e pelos tempos vazios e insignificantes. Nem sei se saberás o que quero dizer com isso. Tu a mim nunca mo disseste.
Encontrei uma mulher boa e que faz de mim um homem maior do que pensei poder ser. Cuida de mim quando preciso disso e consegue aturar aqueles meus momentos em que parece que se o mundo não quebra logo então quebro eu. Tornei-me um homem mais paciente, mais calmo e mais aceitante. Aprendi que é preciso comprometer algumas coisas por quem gostamos e que os equilíbrios não são assim tão difíceis de atingir. Fiz tudo aquilo que tu não me poderias fazer.
Ainda assim sinto este buraco que não se preenche. Mas ando a aprender a construir a minha vida ao seu redor, sem cair nele. E por vezes, só por vezes, sinto algum descanso com ele porque poderá ser ele que me faz mover, mesmo que em círculos. E tudo o que tu não vês em mim são histórias reais que eu invento - e essas histórias não têm fim.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

I tiptoe


Dizem que é suposto o nosso coração enrijecer com o tempo. O meu parece cada vez mais mole.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 546)


Decidi não fazer a barba até ter uma entrevista de emprego. Vai ser interessante.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Pensamentos Divergentes (nº226)


Estás a pedir(-me) por retornos extasiados,
delicadamente entalados
nos contornos emproados
de uma beleza e de um coração que não são teus.

Pões-me a cumprir teus malandros recados,
colhendo dedos de mim cortados
a outros dedos por mim cegados
para salvar farrapos das mandíbulas desse deus.

E eis que me encontro a cotos prostrados,
por não sermos saciados
ou se quer considerados
sem as carícias estranhas nos intangíveis meus.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº 545)


Acho muito revelador o facto de que quando acordo com ressaca fico também muito reminescente de concertos a que fui no passado.

Pensamentos Divergentes (nº225)


mantém o meu recorte
por baixo do teu ombro esquerdo
que da vida para cá
o sofrimento
é de braços dados
com o barco que vai
com a fluente do teu menor lamento

dá-me esqueletos
com beijos regados
na fronte marcados
para tapar o mundo
e uma carta de amor num envelope sem fundo.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ninfa esquecida


Ainda querias brincar como as crianças brincam e fazias-me correr atrás de ti com esses teus pés de bailarina, arqueados em circunstância pelo ar. Fingindo aborrecimento quando te apanhava, como se alguém alguma vez te conseguisse apanhar sem que tu o permitisses. Todos os dias desenhavas no ar com os teus braços e com as tuas pernas, só de te mexeres. E por vezes parecia que só eu via como pintavas o mundo a cada movimento, calcando o teu corpo na existência de quem reconhecesse a tua presença.
Partiste a louça toda que havia na cozinha "Porque sim". Tudo para não te entediares. E eu sei que eram muitas as vezes que te entediavas de mim, como não haverias de o fazer? Tenho-te procurado ainda assim. No meu quarto tenho um monumento a ti. Rezam nele as tuas lembranças, quinquilharias, cacos e fotografias. E há quem tenha pena de mim, que ache que eu enlouqueci de desgosto. Mas eu não quero saber, estou capaz de experimentar tudo para te ter. São os rituais que encurtam as léguas de distância que nos separam porque eu sei que ainda cá estás - vejo o teu decalque no ar que me rodeia. Só que não lhe consigo tocar.
Desde que morreste deixei de rir. Não me roubaste o riso pois ele sempre foi teu, mas não tinhas de o levar contigo.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Resoluções de Ano Novo - emenda


Esqueçam o post anterior. O meu objectivo para este ano vai ser descobrir uma só coisa em que eu seja realmente bom em vez de ser apenas razoável em muitas.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Resoluções de Ano Novo


Nunca cumpro as resoluções de ano novo que estabeleço para mim próprio e já nem as consigo formular. Por isso este ano vou experimentar uma coisa diferente: deixem-me nos comentários resoluções que vocês achem que eu deveria ter - coisas que eu deveria mudar, fazer ou deixar de fazer no ano 2012.

Dependendo das sugestões, poderão ver algumas realizações aqui no blog. Ou então posso fazer o que faço todos os anos e desistir das resoluções. Nunca se sabe.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Foder na lama


Contigo a minha existência é só verbos. Não há tempo para a contemplação quando tudo o que é teu incita os animais bárbaros que em mim residem a pilhar tudo o que é meu. E o mal que me fazes é só ultrapassado pelo prazer oco e fácil de repetir que proporcionas. Porque trazes ao de cima o pior de mim que é, ao mesmo tempo, o mais honesto de mim. E só tu sabes tão bem como eu o bom que é rastejar na lama.

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