quarta-feira, 30 de maio de 2012

Pensamentos Divergentes (nº294)


Quando era criança
olhava para os meus sapatos.
Olhava para os meus sapatos
esperando que eles falassem
como as crianças fazem com todo o tipo de objectos,
Porque ouvi dizer que os sapatos tinham línguas
e essas línguas tinham cordões
e se os deixasse por atar mais tarde ou mais cedo me iriam falar coisas que só sapatos poderiam falar.
Onde tinha eu estado
Quantas pastilhas tinha pisado
E o número certo de passos apressados em alegria que eu alguma vez tinha dado na sua companhia.
Agora sou homem
e os sapatos são só para calçar,
e já não fico em silêncio a escutar
o que um qualquer objecto inanimado tenha para contar.
E já não troco de sapatos como trocava,
deixei de crescer.
Os sapatos para os quais agora não olho teriam muito mais a dizer.

5 comentários:

  1. Gostei. É bastante diferente do teu habitual e surpreendeu-me pela positiva. A tua tentativa de escrever de várias perspectivas está a sair bem!

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  2. É precisamente isso. Fico contente por alguém reparar.

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  3. Os meus sapatos também eram a minha mãe, quando ela se ia embora.
    Agora quando olhamos de cima, vemos outras coisas, mais barulhentas que os sapatos.

    Repito, a tua crua escrita mantém o meu interesse em vir aqui espreitar, sempre que me lembro.

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  4. Estupendo

    Mas que achado ter-te achado

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