domingo, 1 de maio de 2011

Grete


Eu e a minha irmã procurávamos entre as gavetas e armários dos adultos - os segredos são sempre tesouros para quem não tem idade que chegue. Ela, mais velha, ensinava-me com um ar adulto e sério os factos da vida que ela também interpretava mal mas tão melhor que eu. Permanecíamos crianças e no Verão o Sol que nos salpicava a cara era o mais quente e meigo que alguma vez conheceríamos e o verde das árvores e arbustos era o mais forte que alguma vez provaríamos. Procurávamos insectos juntos e explorávamos de bicicleta o terreno abandonado por trás da nossa casa e chegávamos sempre tarde à hora do jantar para partilharmos o raspanete. E quando, finalmente, as belezas do mundo começassem a diluir, diluiriam para ambos. Quando fossemos outros que não nós, poderíamos reencontrar-nos. E talvez aí o meu pai nunca tivesse começado a beber e a minha mãe não estivesse a morrer. E talvez eu assim não quisesse morrer e não bebesse para viver.

Esta história não é verdade. É impossível esta história ser verdade. Esta história não poderia ser senão a verdade.

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