domingo, 18 de novembro de 2012

Testemunho de um ex-frustrado


"Ainda gostas do que estás a fazer?"
"Ainda não te fartaste?"
"Mas estás mesmo a gostar?"

Quando trabalhas é bom que não gostes do que fazes. À maior parte das pessoas é-lhes estranho que te mates a trabalhar e que fiques de rastos mas satisfeito. Como se fosse suposto tudo nesta vida ser uma merda e quando te esforças é porque estás a ser explorado. Provavelmente porque nunca trabalharam nalguma coisa em que acreditassem e não percebem (ou não querem perceber) que as horas podem ser largas e o salário pode não ser espectacular e ainda assim amar aquilo que se faz.

Eu podia ser um engenheiro. "Desisti" de um curso que abominava e sujeitei-me às críticas de irresponsabilidade por abandonar um futuro de emprego certo.
Fui tirar um curso que me apaixonava e sujeitei-me novamente às críticas de entrar num futuro de desemprego e miséria. E não o trocaria por nada.
Quando acabei o curso e não encontrei emprego na minha área descobri outra coisa que me movia e andei a bater à porta das pessoas e lutei até ter a oportunidade de batalhar por um futuro em que me sentisse realizado. 
Agora trabalho durante o dia e estudo durante a noite. Nunca estive tão cansado e ao mesmo tempo tão feliz. E as derrotas existem, como em tudo, mas as minhas vitórias são em maior número. E não há filho da puta a quem isto lhe pareça bem.

Vais ter sempre gente que vai dizer mal das tuas paixões. A verdade é que parte deles, no íntimo, vai desejar que tu falhes. Por isso não fiques à espera da aprovação dos outros, faz o que tu sentes que tens de fazer para existires completamente. Nunca pares de insistir. E acima de tudo esfola-te a trabalhar.
Na pior das hipóteses vais-te embora deste mundo sem um grande arrependimento. E uma das maiores vantagens é que não te tornas no tipo de pessoa que não compreende quando alguém te fala do que é capaz de fazer por aquilo em que acredita.

13 comentários:

Beatriz Canas Mendes disse...

identifiquei-me imenso com esta publicação e decidi citar algumas partes no meu blogue. sem dúvida que as paixões não devem ser abandonadas! boa sorte :D

Anónimo disse...

Longe de mim fazer o papel de cínico (ou de velho do restelo) aqui, mas dizes: "não fiques à espera da aprovação dos outros" e depois publicas isto?
Se tal não é uma tentativa para lograr o apreço dos outros, como devo tomá-la?
Uma necessidade catártica de bradar aos sete ventos a tua resolução de vida?
O desejo de difundir noutros esta tua ideologia?(mas para quê? necessidade de proximidade conforto? auto-justificação?)
Queres perpassar esta imagem idealista e sonhadora para te agradar o ego? ou pelo prazer ser da patuleia?
Mas isto foi para quê afinal?

wapy disse...

Querido anónimo:
acho que isto é, acima de tudo, um blogue. Portanto penso que ele pode por cá para fora tudo o que bem lhe entender, da forma que entender.

Agora para o T:
Era este o post que eu precisava de ler. Porque eu também faço o que gosto e ainda estudo e mato-me para fazer as duas coisas, mas pelo menos são coisas de que gosto. E há quem não compreenda que o trabalho pode ser feliz. Quantas vezes não disse eu que adorava o meu trabalho para levar com o comentáriozinho de "acho que estás a mentir".

André Ribeiro disse...

Uma vénia ao que ecreveste. Mais do que uma vénia, imensos links espalhados na minha rede social para que a tua "necessidade catártica de bradar aos sete ventos a tua resolução de vida" que tão bem espelhas no, também teu, blog chegue a um número cada vez maior de... anónimos.

Um abraço e boa sorte

Erre disse...

É esse mesmo o espírito!

A solução para quem duvida, para quem quer provar a si mesmo que ser feliz e arriscar em algo que se gosta é um "pecado" nos tempos que correm, é mesmo mostrar-lhes, todos os dias, que estão errados. E para isso basta continuares a lutar.

Força aí, rapaz! ;)

T disse...

Ao anónimo:

Sempre fui honesto no que toca ao meu egocentrismo. Aliás, acho que toda a escrita se baseia num profundo egocentrismo.

Quanto à tua pergunta de "Isto foi para quê"... em primeiro lugar, que interessa? É um espaço meu onde eu escrevo as minhas coisas. E este não seria o primeiro blogue na existência cujo propósito é agradar o ego do blogger.
Mas eu vou-te responder: é catártico. Posso despejar aqui o que eu quiser. E não o faço para os outros - quanto muito evito falar detalhadamente da minha vida aqui. Acho também curioso que fales em "bradar aos sete ventos" quando isto se trata de um blog bastante humilde.

Talvez te custe compreender, mas o que escrevo não é para ter o apreço dos outros. Se não já teria posto aqui a minha cara e o meu nome há muito tempo.
Às vezes é preciso escrever aquilo que nos apetece. Mesmo que os outros possam achar que é fanfarronice.

E mesmo que tu aches que eu me estou a tentar vangloriar... acho que seria a primeira vez que tal aconteceria neste blog. Toda a gente diz que isto é sempre muito deprimente e que eu devo ser altamente suicida. E depois a primeira vez em que falo de uma vitória sou acusado de narcísico. Mais uma prova que não é possível agradar a todos e nem vale a pena.

Aos restantes: Estou grato pelos vossos sentimentos positivos.

Então qual é o seu próximo nome disse...

optimo, bom, excelente. obrigada

patrícia... disse...

"no íntimo, vão desejar que tu falhes" apenas pelo prazer de te ver cair, ou para te dizer que tinham razão, que bem te avisaram, bla, bla, bla... É este o lado egoísta, mesquinho e mau das pessoas, que mesmo inconscientemente acaba por vir ao de cima.
Caí no erro de ingressar por uma licenciatura porque existia um conjunto de condições favoráveis para o fazer, mas no fundo não gostava, nem sequer tinha perfil para aquilo... e hoje carrego esse arrependimento que falas.
No fundo "who really cares" por aquilo que nós fazemos?...

Rui Pi disse...

O mundo anda todo com as prioridades trocadas mas, pior ainda, anda toda a gente a querer que as suas prioridades sejam as prioridades de toda a gente. Há quem goste de trabalhar, há quem goste de mandriar. Cada um sabe de si e deve é ficar contente pelo bem estar do próximo, venha esse bem estar de uma espreguiçadeira ou de 10 horas de trabalho.

Força!

Ana Paixão disse...

Este texto poderia ter sido eu a escrever. Obrigada.

efemota disse...

publiquei o mesmo pensamento há uns tempos atrás no meu blog, era até uma citação de um livro do eça que descrevia um bem essa mentalidade que falavas em relação à arte.

Outra coisa que também que custa a ver é quando as pessoas se chocam quando um tipo está a tirar um curso, e gostou de o tirar, mas não deseja exercer, porque gosta de estudar, porque tem outros sonhos, ou por outro motivo qualquer. tenho até professores assim...

cumps

efemota disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
x disse...

vim aqui por acaso depois de mais um dia que teimava em não acabar. encontrei este texto. e ele resume tão bem não só o que penso mas o que faço diariamente. às vezes sinto-me sozinha nesse sítio - das paixões, convicções, esforço, fé... sei lá. mas sei que é um sítio que me faz sentir bem e em paz com o meu caminho. por isso gostei de ler este texto. faz-me ver que não sou um bicho assim tão estranho. :)

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